O presidente Lula acha que os líderes do Centrão estão com pressa para entrar no governo. De Bruxelas, esfriou as expectativas, ao declarar que as conversas sobre mudanças no Ministério vão ocorrer “no momento adequado”, depois do recesso parlamentar. Só então, disse, “chamaria as pessoas pra conversar e aí ofereceria aquilo que eu acho que é necessário oferecer”. Segundo Lula, é preciso “ir devagar para fazer um acordo maduro e duradouro”.
As férias dos deputados e os compromissos no exterior estão dando a Lula o tempo que ele precisa para redesenhar o primeiro escalão do governo. A entrada do Centrão — PP e Republicanos — é um desejo do presidente e está decidida, mas ele tenta não entregar o “ouro” àqueles que até há pouco estavam do lado adversário. Não significa que não o fará, dado seu pragmatismo e a necessidade de formar uma base parlamentar.
Lula tratou de blindar o Ministério da Saúde — “Nísia (Trindade) não é ministra do Brasil, ela é minha ministra”, disse. Agora, precisa decidir se dispensará o mesmo tratamento a Wellington Dias (PT), ministro do Desenvolvimento Social (MDS) e outros que estão nas pastas desejadas pelo Centrão.
Com quatro mandatos no governo do Piauí, Dias comanda o programa Bolsa Família, principal marca das gestões petistas. No segundo turno da eleição presidencial de 2022, Lula alcançou 76,86% dos votos do estado — e oito entre as dez cidades do país em que teve melhor desempenho estão no Piauí. Não é fácil dispensar um cabo eleitoral tão eficiente.
Leia também
Essa foi uma das razões para a demora na demissão de Daniela Carneiro do Turismo. Ela e o marido, Waguinho, foram para Lula fortes eleitores num território até então hostil ao PT, a Baixada Fluminense. Prefeito de Belford Roxo, Waguinho declarou apoio a Lula no segundo turno. Não conseguiram ganhar de Jair Bolsonaro, mas o presidente reconheceu o empenho do casal — e, num “pacote de saída”, turbinou verbas de Saúde para a prefeitura.
Há outras limitações para Lula entregar aos novos aliados cargos considerados estratégicos como o de Dias: as eleições de 2024. O PT vem perdendo força nos municípios. Atualmente, administra apenas 179 cidades, e não há capitais na lista. Já o PP de Arthur Lira passou de 495 prefeitos eleitos em 2016 para 682 em 2020. O PT precisa crescer, e estar à frente de políticas públicas populares é um ativo eleitoral.
Há todo tipo de especulação em torno da minirreforma, e, enquanto a decisão não vem, os ministros têm se esforçado para mostrar serviço. Procuram ocupar espaços na mídia e anunciar novidades. Lula ainda pode surpreendê-los com o sacrifício de alguns dos mais próximos. Há precedentes. No início da campanha eleitoral, pediu a um senador do PT que não disputasse a reeleição, reivindicando a vaga para a montagem de uma aliança regional importante. Com a eleição ganha, na fase de montagem do governo, convidou-se para jantar na casa do quase ex-senador, que nutria expectativas de integrar a equipe. Ao final do encontro, Lula informou-lhe que não seria ministro, mas consolou-o: teria vaga garantida no segundo escalão.