O cacique Raoni Megaron foi a Câmara na tarde desta quarta-feira (25) e causou grande alvoroço na Casa. Uma multidão esperava o líder indígena já na entrada do prédio. Na oportunidade, Raoni pediu por paz e foi informado que terá seu nome anunciado como candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Como resposta ao ato, deputados governistas também se pronunciaram acompanhados de seis indígenas, dentre eles a responsável pela Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), Sílvia Waiãpi e a youyuber Ysani Kalapalo, anunciada por Bolsonaro como representante dos povos indígenas na ONU.
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Na coletiva, os indígenas presentes reforçaram o apoio ao presidente Bolsonaro e pediram pela liberdade para poder explorar suas terras como bem entenderem. Para o grupo, as ONGs são responsáveis por doutrinar as populações indígenas do país e fazerem com que esses povos se voltem contra o presidente. Isso aconteceria, segundo a visão dos índios presentes na coletiva, para que essas ONGs possam “manter os índios pobres e ganhar dinheiro com a miséria deles”.
“Esses índios querem sim se desenvolver. Só que o que existe muito é a manipulação de ONGs e partidos de extrema esquerda. É manipulação para aderir a ideologia deles”, afirmou Ysani.
Quando questionada sobre a liderança que Bolsonaro sugeriu que ela teria, Ysani respondeu que quem quiser seguir ela, que siga. “Existe diversas tribos indígenas no Brasil. Quem se identificar com a gente se identifica, quem não quiser também, tudo bem. Como diria a música, ‘cada um no seu quadrado’. Mas estamos aqui para nos representar, para representar nossos ideais, o que queremos”, respondeu.
O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), estava acompanhado de outros membros do partido e ruralistas. Ele reforçou que são muitas as lideranças indígenas no país. “Trouxemos outras lideranças indígenas para reforçar o que disse o presidente: que existem várias lideranças dos povos indígenas, com posições diferentes, inclusive os que querem caminhar para um país melhor, apoiar nosso governo e querem produzir e trabalhar nas suas terras”, disse o líder do governo.
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O outro lado
Bolsonaro anunciou na Assembleia Geral da ONU que Ysani representaria ao menos 54 povos indígenas. Diante do anúncio, os 16 caciques do Xingu, região em que Ysani nasceu, reivindicaram a autonomia para escolherem, segundo suas tradições, as lideranças que poderão falar em nome dos povos. “Os 16 povos indígenas do Território Indígena do Xingu através de seus caciques reafirmam seu direito de autonomia de decisão através de seu próprio sistema de governança composto por todos os principais caciques dos povos xinguanos”.
Bolsonaro também atacou a figura de Raoni Metuktire, reconhecido por muitos como uma das maiores lideranças indígenas do Brasil. “Acabou o monopólio do senhor Raoni”, discursou Bolsonaro ao fim da leitura.
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As mulheres indígenas do Xingu, também publicaram uma carta de repúdio, tanto pela escolha de Ysani, quanto pelas críticas que o presidente fez ao líder Raoni.
“O presidente da república do Brasil, desde que assumiu o poder, vem recusando a se encontrar com um dos nossos maiores líderes indígenas do Brasil, o Raoni Metuktire, reconhecido nacionalmente e internacionalmente. No entanto, o presidente anuncia que vai incluir uma indígena sem expressão política entre os povos indígenas do Xingu na delegação do governo para ir na ONU”, diz o documento. “Lamentamos profundamente que o Bolsonaro utiliza de suas estratégias mais baixas para colocar uma mulher indígena como seu fantoche. Não queremos ser representadas por essas pessoas”, afirma a carta.
Assinam a carta os caciques Tafukuma Kalapalo (Povo Kalapalo) Aritana Yawalapiti, (Povo Yawalapiti), Afukaká Kuikuro (Povo Kuikuro), Kotok Kamaiurá, (Povo Kamaiurá), Atakaho Waurá (Povo Wauja), Tirefé Nafukuá (Povo Nafukua), Arifira Matipu (Povo Matipu), Awajatu Aweti (Povo Aweti), Mayukuti Mehinako (Povo Mehinako) Kowo Trumai (Povo Trumai), Melobo Ikpeng (Povo Ikpeng), Kuiussi Suya (Povo Kisedje), Sadeá Yudjá (Povo Yudja) e Mairawe Kaiabi (Povo Kawaiwete).
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