Os bumbuns das excelências que tomaram posse no dia 1º de janeiro ainda nem se ajustaram às poltronas da Esplanada e do Palácio do Planalto e os narizes dos que ajudaram a eleger o Mito já percebem um cheiro enjoado de decepção e desapontamento.
Na seção de manifestações dos leitores de jornais de todo o país essa percepção já é visível. Isso sem falar na enxurrada de comentários que escorre pelas redes sociais, de bolsonaristas desiludidos diante dos primeiros atos do governo que ajudaram a eleger.
Gosto dessas manifestações. Funcionam como um termômetro para se saber a quantas anda o humor do país. O conselheiro Acácio, o inesquecível personagem de Machado, dizia que as consequências sempre vêm depois. Esse é o problema. Como adivinhar que os que acabaram de chegar iriam rasgar os compromissos de campanha tão rapidamente? José Monte Aragão, morador da cidade-satélite de Sobradinho, não deixou por menos. Confessou numa dessas manifestações: “Tenho feito de tudo para acreditar no governo que ajudei a eleger. Tá difícil”. Para ele, “O Samba do crioulo doido está a todo vapor no governo do Mito. Bolsonaro, que não é economista, opinou. Lorenzoni, que não é ministro da Economia, disse que foi um equívoco. O secretário da Receita Federal desdisse que a alíquota do IOF não aumentaria. Damares, a Dilma de outrora, só fala besteira e atiça as redes sociais com suas falas desconexas, talvez, propositalmente para chamar a atenção”.
Jeovah Ferreira, do Taquari, localidade também aqui do DF, observa que, “de boca em boca, o comentário da promoção do filho do vice-presidente Mourão vai desanimando aqueles que abraçaram a candidatura de Jair Bolsonaro”. Desapontado, desabafa: “Eu mesmo já levei na cara coisas do tipo. ‘Está vendo, vai ser tudo igual. As mudanças ficam nos discursos. Quando chegam lá, acabam caindo em tentação e adeus ética’. Estou sem saber o que dizer para essa gente. Mas o pior não é isto. Eu sempre fiz minhas caminhadas matinais no meu bairro, passando por quadras onde moram petistas. Por saberem que sempre combati as coisas erradas que aconteceram nos governos Lula e Dilma, se estivessem nos portões de suas casas e me avistassem, se escondiam. Agora a coisa mudou. Eles me aguardam só pra gritar: ‘E aí, você não falou nada sobre a promoção do filho do vice Mourão?’ Não consigo falar nada. Estou pensando em mudar meu itinerário. Vou evitar a área urbana e vou caminhar pelo cerrado. Não consigo uma resposta plausível. Eu gostava tanto de passar por aquelas quadras”.
O desapontamento começou mesmo antes da posse, com a descoberta das falcatruas do motorista Queiroz, que se disse acometido de uma doença providencial que o impede de comparecer para explicar a bolada de 1 milhão e 200 mil realetas que circularam pela sua conta corrente. Os demais integrantes da família dele também se escondem debaixo do lençol do “doente” como justificativa para não irem depor: “Estamos acompanhando Queiroz no hospital”. Os filhos do paraquedista Jair também andam arrumando uma ponta do paraquedas pra se esconder debaixo. Ninguém até agora apareceu pra dar explicações. Talvez pelo simples fato de que as explicações… não existam. O que provaria que o mito tem pés de barro. Tal como seus antecessores, principalmente um certo Lula, um sujeito aí que o Brasil e o mundo sabem que está injustamente em cana e que presidiu Pindorama por duas vezes sem nunca ter usufruído um centavo – um mísero centavo! – de qualquer empreiteira, acusação feita, é claro, pelos que querem livrar a própria cara como esse infeliz do Palocci. E que, portanto, é vítima do maior complô que a história do homem sobre a Terra já registrou… E tem gente que acredita!
Brincadeirinha. Petistas fanáticos, por favor não me batam. É só ironia, tá? Bolsonaristas, vocês também, desculpem o mau jeito. Eu sei, a vida é dura. É bom irem aprendendo a cantar aquela canção do Renato Russo que diz: “estamos indo de volta pra casa”. E entender, de uma vez por todas, que não existe perfeição no gênero humano. Nem Lula nem Bolsonaro são santos. Nem os que os cercam ou cercaram – Palocci, Mourão, Dirceu, Onyx, Queiroz…
PublicidadeO desapontamento e a decepção dos que apostaram no Mito ainda não têm equivalência nos petistas que insistem na brincadeira antiga de seguir o líder, embora o líder não seja mais digno de ninguém o acompanhar. Nem a ele nem aos seus fiéis acólitos, como a senadora e futura deputada Gleisi Hofmann, que se prestou ao papel idiota de ir a Caracas entoar loas ao mais ridículo ditador latino-americano, para com isso jogar mais uma pá de cal na já rarefeita credibilidade do PT.
Pra encerrar, uma advertência:
– Cuidado: o Brasil está verde, verde-oliva. Mas pode ficar maduro.