E mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro estampou os jornais por conta de uma frase racista. A vítima da semana foram os povos indígenas: “O índio mudou, tá evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”, disse o presidente em um vídeo publicado por sua própria equipe na página do Facebook do mandatário.
> Que em 2020 não se exclua ninguém
Eu tenho um desejo fortíssimo: que Bolsonaro evolua e passe a ter um senso social, ambiental e humanitário igual a nós. Não se trata de ser de esquerda ou de direita, trata-se de ser humano.
Em tempos de bolsonarismo é bom que as minorias, os pobres, os gays, os pretos e os não cristãos tomem cuidado, pois quem não é com eles, está contra eles, e na cabeça dos bolsonaristas, o inimigo precisa ser eliminado.
Cuidado, não voa tão perto do sol. Eles num ‘guenta te ver livre, imagina te ver rei. O abutre quer te ver de algema pra dizer: Ó, num falei?
Quem o índio pensa que é para querer viver segundo os seus costumes? Diz nas entrelinhas o presidente da República ao falar que “o índio está evoluindo”.
PublicidadeAo dizer algo, você nega outro. Ou seja, se você diz que o índio está evoluindo por estar, em alguns casos, se adequando à cultura dos homens brancos, então você diz que o índio que segue a cultura dos seus ancestrais é inferior. E bem, sabemos o que líderes autoritários costumam fazer com “raças” que eles julgam ser inferiores, né?
Vivemos em tempos em que a Câmara dos Deputados tem uma parlamentar indígena, e esta, diga-se por sinal, sempre que vai discursar em qualquer evento, dentro ou fora da Câmara, é exaltada. Joenia Wapichana é uma ameaça para o bolsonarismo.
Vivemos em tempos em que Raoni é recebido pelo Papa, e que líderes mundiais o recebem como a autoridade que é. Isso mata Bolsonaro por dentro, pois Raoni representa uma ameaça para o bolsonarismo.
Bolsonaro ousou ser racista e a resposta veio em menos de 24h. A líder indígena Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), já declarou que vai à Justiça contra o presidente por conta esta frase. Sônia Guajajara é uma ameaça ao bolsonarismo.
Estamos em 2020 e os povos indígenas seguem unidos lutando por demarcações. Saúde indígena. Respeito aos seus costumes. Liberdade aos seus povos. Bolsonaro não consegue conviver com isso.
Primeiro ‘cê sequestra eles, rouba eles, mente sobre eles. Nega o deus deles, ofende, separa eles. Se algum sonho ousa correr, ‘cê para ele. E manda eles debater com a bala que vara eles.
Ao dizer que os povos indígenas precisam viver segundo os costumes dos homens brancos, você se desfaz das crenças desses povos. Ao criminalizar movimentos sociais que lutam pelas liberdades desses povos, você busca prender as forças de resistência contra o seu autoritarismo. Ao ofender a cultura dos indígenas, você busca ridiculariza-los e diminuí-los. Se tudo isso der errado, segue fazendo o que o Brasil faz desde o “descobrimento” – “Manda eles debater com a bala que vara eles”.
Em tempos de discurso inflamado, em que a exploração das terras indígenas é incentivada pelo presidente da República, o aumento das invasões nestes territórios bate recorde. Em 2019 foram 160 invasões em territórios indígenas. Sete lideranças foram assassinadas por garimpeiros ou madeireiros. Este é o maior número em 11 anos.
Hoje a vítima da vez são os índios, mas em pouco tempo voltarei aqui nesta coluna e falarei sobre um ataque aos gays, aos pobres, aos negros… Quer apostar?
Aí vem o outro lado da moeda: Bolsonaro só existe por conta destes embates. Ao mesmo tempo em que é necessário o enfrentamento, o presidente da República sempre foi um zé ninguém, até que o seu lado mais sombrio começou a ser revelado ao grande público.
Hoje em dia, Bolsonaro ataca para ganhar destaque. Quando ele bate, ele apanha e ao apanhar, ele cresce. Ou seja, quanto mais próximo das eleições de 2022 chegamos, mais Bolsonaro tende a afiar a língua contra os seus “inimigos”.
Com isso não quero dizer que essas frases não precisam ser combatidas, pois caso isso aconteça haverá uma normalização do anormal, e com isso a opressão tende a crescer.
Para impedir este crescimento, muitos, me incluo aqui, vão bater de frente sempre que Bolsonaro ou quem quer que seja agir de maneira fascistoide, porém, qualquer um que ousar voar perto do Sol em tempos de bolsonarismo, está arriscando ser alvo dos ataques sádicos do líder supremo dos ditos “conservadores brasileiros”.
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