Na noite desta segunda-feira (22), o presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da sabatina do Jornal Nacional, dando início à semana de entrevistas aos principais candidatos à Presidência para as eleições de 2022. Durante os quarenta minutos de questionamentos sobre suas ações enquanto chefe de Estado e os resultados de seu governo, Bolsonaro negou haver um escândalo de corrupção no Ministério da Educação (MEC), bem como que houve aumento no desmatamento ilegal na Amazônia. Na entrevista, ele foi desmentido em diversos momentos.
A temática foi levantada pela jornalista Renata Vasconcellos, que chamou a atenção para a elevada rotatividade de ministros da Educação ao longo de seu governo. Mais tarde, William Bonner relembrou o escândalo envolvendo as denúncias de corrupção contra o ex-ministro Milton Ribeiro, que resultou em sua renúncia. Bolsonaro respondeu questionando “escândalo do MEC? A saída é um escândalo?”.
Milton Ribeiro é acusado de favorecer aliados de pastores evangélicos utilizando recursos do MEC por parte do ex-ministro Milton Ribeiro, um deles a pedido do próprio presidente Jair Bolsonaro. Ele também é investigado pela cobrança de propina em ouro de prefeitos de municípios menores para que tivessem acesso aos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
No último mês de junho, o ex-ministro foi preso preventivamente em meio às investigações, sendo solto no dia seguinte após sua defesa entrar com pedido de habeas corpus. Na entrevista, Bolsonaro negou que se trate de um caso de um escândalo de corrupção, e justificou alegando que o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) teria se posicionado contra sua prisão “porque não tinha nada contra ele”.
O posicionamento contrário na verdade veio do Ministério Público Federal (MPF), que orientou de tal modo por entender que, naquele caso, havia outras medidas menos restritivas para impedir que Milton Ribeiro não utilizasse da influência para obstruir a investigação.
Jair Bolsonaro também afirmou não haver indícios de desvio de verbas. “Cadê o duto do dinheiro vazando? Cadê o dinheiro? Cadê o dinheiro aparecendo? Você não sabe? Está me acusando?”, perguntou. Em abril, um mês depois do início das investigações contra Milton Ribeiro, surgiram denúncias de utilização de recursos do FNDE, vinculado ao MEC, para a construção de obras inexistentes, as chamadas “escolas fake”.
Incêndios na Amazônia
Durante a entrevista, Bolsonaro foi questionado sobre a imagem deixada pelo Brasil no exterior ao longo de sua gestão, com diversos países manifestando preocupação com a forma com que o governo trata os incêndios que acontecem na Amazônia. Em resposta, o presidente afirma que a comunidade internacional está errada ao se preocupar com isso, e avalia que os incêndios na floresta não diferem do que ocorre nas regiões do mundo que hoje enfrentam ondas de calor.
“Quando se fala em Amazônia, por que não se fala também da França, que há mais de trinta dias está pegando fogo? (…) A Califórnia também pega fogo todo ano. No Brasil, infelizmente não é diferente, acontece”, declarou. Bolsonaro avalia que grande parte dos incêndios na Amazônia são frutos de atividade criminosa, mas que na maioria dos casos “é o ribeirinho que toca fogo ali na sua pequena propriedade”.
Renata Vasconcellos também levantou a questão referente ao aumento nos índices de devastação na Amazônia durante a gestão Bolsonaro, relembrando que a taxa anual de desmatamento na região saltou de 7,5 mil km² em 2018 para 13 mil km² em 2021 conforme pesquisa do Mapbiomas, e alertando também que 97% dos alertas de incêndio no bioma amazônico desde 2019 não foram investigados.
A jornalista apontou para o posicionamento de especialistas que alertam para o estímulo por parte de Bolsonaro a garimpeiros, grileiros e madeireiros ilegais a cometer incêndios ao desmontar órgãos de fiscalização ambiental e desautorizar a destruição de equipamentos de extrativismo clandestino, como tratores de escavação ou dragas de garimpo.
Bolsonaro alegou que a desautorização se deu por entender que, por lei, só podem ser destruídos equipamentos que não tenham como extrair para apreensão, e que seu objetivo não seria desestimular a destruição desses materiais, mas sim “cumprir a lei”. Afirma também que estaria protegendo a população encarregada dessas atividades por “um abuso de uma parte”, referindo-se ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente.