Uma semana após o primeiro ato nacional – e presencial – contra o governo Jair Bolsonaro na pandemia, lideranças de esquerda voltaram a chamar novas manifestações. Desta vez para o dia 19 de junho. Nesta quarta-feira (2), a hashtag#19JForaBolsonaro ficou entre os termos mais comentados no Twitter. Entretanto, a falta de consenso persiste. Partidos como o PT e o próprio PSOL, por exemplo, têm encontrado resistências internas em divulgar atos de rua.
Para alguns filiados, ir aos protestos fere o discurso a favor do isolamento social que a sigla defende. Nesse contexto, as lideranças partidárias passaram a conversar para encontrar a melhor forma de convocarem a militância para o protesto.
De acordo com um parlamentar petista, que preferiu não se identificar, isso não tem sido fácil. Isso porque, se por um lado eles “estão vendo outra forma de protestar, sem ir para as ruas”, por outro o PT está diante de uma situação diferente de outros momentos históricos. O parlamentar reconheceu que existe uma força política entre os apoiadores do presidente disposta a protestar na rua, o que é algo novo para o PT. “O MDB e o PSDB, por exemplo, são partidos fortes, mas não tem militantes, têm um político forte ou outro, mas nós nunca enfrentamos esse tipo de situação”, falou ponderando a necessidade de marcar presença física.
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Gleise defende protestos presenciais. Freixo pondera
A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), disse que a legenda vai apoiar os atos e chamará toda a militância para participar “observando todos os cuidados que o momento requer”. “Só a mobilização popular nos livrará de Bolsonaro”, declarou a petista.
Enquanto isso, o líder da Minoria na Câmara, deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), afirmou que os deputados da oposição são favoráveis aos atos, porém, alguns não estarão presentes devido às aglomerações. “Não estive presente no último, mas apoiamos”, afirma
PublicidadePauta do dia 19
Nas convocações para o protesto deste final de semana, a pauta central permanece como o impeachment do presidente. A intenção é levar mais pessoas às ruas e em paralelo fortalecer as ações por meios digitais.
A escolha do dia 19 é fruto de um entendimento entre a Frente Brasil Popular, Povo sem Medo e a Coalizão Negra Por Direitos, movimentos que assinaram a autoria dos atos que inflaram as ruas no último dia 29 de maio. Os organizadores afirmam que, embora os campos progressistas tenham liderado os atos de rua, a adesão foi ampliada para pessoas e grupos de qualquer ideologia “que defendem a vida, a democracia e a liberdade”, disse porta-voz da Coalizão Negra por Direitos Douglas Belchior.
“Nós queremos que todos os partidos que são contra a lógica do governo Bolsonaro convidem os seus apoiadores. Não somos contra nenhum partido político. Todos nós somos movimentos sociais e faz parte da democracia essa construção em conjunto”, falou Belchior.
Organização digital
As organizações estudantis, sindicais, partidos e grupos da sociedade civil uniram-se em um fórum na internet chamado “Fora, Bolsonaro”, onde passaram a distribuir informações sobre assembleias, debates e datas dos próximos eventos. A página no Instagram já tem mais de 45 mil seguidores. Conforme esses grupos, em uma reunião com aproximadamente 7 mil pessoas de todo o país ficou definido, além da data, um indicativo de atos contra a realização da Copa América no país, possivelmente no início de junho.
“É um crime o Bolsonaro se preocupar com a Copa e não se preocupar com a vacina. Ele é mais letal que o vírus que já levou cerca de 500 mil pessoas à morte”, comentou Leonardo Péricles, presidente da Unidade Popular.
Os movimentos ressaltam que devem ser seguidas todas as medidas de segurança contra a covid-19. Eles têm divulgado que nos atos é obrigatório o uso de máscaras, a higienização das mãos e distanciamento social. Também pedem que pessoas com sintomas da doença e que integrem grupos de risco permaneçam em casa. Outro conselho dado é para que os que vivem com pessoas que tenham comorbidades não participem fisicamente das manifestações.
“Para as pessoas que não podem ir presencialmente, a participação pela internet é fundamental. Subam as hashtags, postem fotos, vídeos. A internet também é um espaço de união e debate”, afirma Douglas Belchior.
Atos a favor do Governo
Com os atos progressistas em crescimento, apoiadores do governo Bolsonaro também planejam protestos para as próximas semanas. A próxima manifestação deve acontecer no dia 12, sábado. Um desfile de motociclistas, conhecido como “motociata”, deverá sair do sambódromo do Anhembi e segue para a sede da Federação das Indústrias de Estado de São Paulo (Fiesp)
No dia 24 de julho, o movimento Marcha para Jesus, um dos maiores grupos conservadores do país, tem prevista uma Carreata Solidária, para coleta de alimentos, com show drive-in. Bolsonaro esteve presente em um dos eventos deste grupo, em 2019.
> Cidades-sedes da Copa América vacinaram menos de 15% de sua população
>E se Bolsonaro tivesse trabalhado contra a pandemia?
Thaís Rodrigues é repórter do Programa de Diversidade nas Redações realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo, com o apoio do Google News Initiative.