A defesa do ex-juiz Sergio Moro relacionou a tentativa de interferência na Polícia Federal por parte do presidente Jair Bolsonaro ao pedido que a defesa de Fabrício Queiroz fez para ter acesso aos autos de uma investigação sigilosa da Polícia Federal do Rio de Janeiro que envolvia Flávio Bolsonaro e Queiroz. Segundo a defesa do ex-ministro, o pedido de acesso e a tentativa de troca no comando da superintendência do RJ aconteceram no mesmo mês.
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As informações estão em um documento que foi anexado pela delegada Christiane Correa Machado no pedido para que o presidente Bolsonaro preste depoimento à PF. Na petição, a defesa de Moro afirma que “o Presidente da República manifestou sua primeira vontade em substituir o Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro no mesmo mês em que a Defesa de FABRICIO QUEIROZ solicitou vistas do inquérito sigiloso mencionado – agosto de 2019 consoante informações já angariadas neste procedimento investigatório”.
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Em entrevista no dia 16 de agosto, Jair Bolsonaro afirmou que colocaria o superintendente da PF do Amazonas, Alexandre Silva Saraiva, no comando do órgão no Rio de Janeiro. Questionado sobre a escolha de um possível nome diferente por parte do então ministro Sergio Moro, o presidente foi incisivo ao afirmar que ele é quem decidiria. “O que eu fiquei sabendo, se ele resolveu mudar, vai ter que falar comigo. Quem manda sou eu, [para] deixar bem claro. Eu dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu. Pelo o que está pré-acertado, seria o lá de Manaus”, disse o presidente.
A troca do superintendente do RJ só aconteceu no dia 30 de agosto, quando a exoneração de Ricardo Saadi foi publicada no Diário Oficial da União (DOU).
Em oitiva realizada em Brasília, para apurar essa acusação de interferência política por parte de Bolsonaro, Saadi disse que recebeu uma ligação de Maurício Valeixo, então diretor geral da PF, falando da troca. “Que no dia 15 de agosto de 2019 logo pela manhã o depoente (Saadi) recebeu uma ligação do Delegado Maurício Valeixo, então diretor-geral da Polícia Federal afirmando que havia resolvido adiantar os planos de troca da Superintendência do Rio de Janeiro e queria remover o depoente para Brasília não revelando eventuais razões para tanto; que momentos após o depoente recebeu o link com a notícia de uma manifestação do presidente Jair Bolsonaro à imprensa no sentido de que haveria a troca de superintendente do Rio de Janeiro”, diz um trecho do depoimento.
Para a defesa de Sergio Moro, a maneira que Bolsonaro agiu no caso, demonstra a intenção de interferência política.
Ainda no documento anexado, a defesa do ex-juiz relembra os relatos feitos pelo empresário Roberto Marinho, que atuou na campanha de Jair Bolsonaro. Marinho afirmou que Flávio Bolsonaro foi avisado com antecedência de que haveria uma operação contra Queiroz e que por isso deveria demiti-lo, o que Flávio fez.
A defesa de Moro alega ainda que os advogados de Queiroz solicitaram acesso aos inquéritos sigilosos, “requerendo acesso aos elementos de provas, especialmente àquelas que mencionariam seu cliente (e, indiretamente, seu antigo chefe FLAVIO BOLSONARO, filho do Presidente)”.
Jair Bolsonaro disse, durante reunião com ministros no dia 22 de abril, que não iria esperar toda a família e amigos serem prejudicados para trocar “alguém da segurança da ponta de linha”, se referindo ao Rio de Janeiro.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança da ponta de linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, disse.
Moro saiu do governo afirmando que nessa reunião em questão, Bolsonaro queria trocar a superintendência da Polícia Federal. Segundo Moro, Bolsonaro iria tirar Marcelo Valeixo da diretoria-geral da PF, justamente por ele resistir à troca do superintendente.
Com a saída de Valeixo, Moro deixou o cargo. O novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, trocou a superintendência do Rio de Janeiro, assim que assumiu o cargo.
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