Faz algum sentido desejar uma vaga no STF e atacar aqueles que terão que aprovar sua eventual indicação?
Sérgio Moro parece estar seguindo as lições do lendário general chinês Zhuge Liang, o “Dragão Adormecido”. Num episódio durante a Guerra dos Três Reinos, Liang foi pego de surpresa e se viu cercado numa cidadela onde descansava.
Tinha dispensado seus homens, contava naquele momento com alguns poucos soldados.
Diante da situação inesperada, Liang mandou abrir os portões, vestiu um manto taoísta e sentou no muro da cidade numa parte bem visível, dedilhando seu alaúde e cantando.
Quando o general adversário viu a cena, teve certeza de que se tratava de uma armadilha. Deu meia volta e partiu. O “Dragão” transformou sua fraqueza material em força psicológica.
O truco do ex-juiz, usando a Polícia Federal para atacar o líder do governo no Senado, deixou rastros importantes da sua estratégia. Manejou com inteligência sua força popular.
Foi um ato de extrema ousadia. Requentaram notícias antigas e atropelaram a posição contrária da PGR com a ajuda do ministro Luís Roberto Barroso, nosso “neoiluminista” refundador da República. O objetivo foi claro: empurrar o “sistema” para o colo do Capitão.
No jogo da política, se alguém aparecer para você se dizendo um radical “anti-sistema”, não tenha dúvida, trata-se de um picareta, um autoritário de extrema direita ou um revolucionário marxista. Não há outra hipótese.
Na democracia liberal, o governante exerce seu poder num sistema de freios e contrapesos com as instituições que conformam o Estado. Pode ter obtido uma votação consagradora, mas elegeu a maioria dos deputados? Indicou a maioria dos ministros das cortes superiores?
Como sustentar um discurso “anti-sistema” se o seu líder do governo no senado foi ministro de Dilma, “a guerrilheira comunista do PT que roubou e quebrou o país”?
É possível manter este posicionamento, com seu filho, “Flávio Bolsonaro Queiroz”, nas mãos do STF?
Desgastado pela Lava Toga e humilhado pelo Capitão, o ministro da Justiça se pintou para a guerra. Ao roubar a bandeira anti-sistema para si, dobrou a aposta e mandou o Bolsonarismo para o divã.
Que tal ser demitido após iniciar uma nova campanha contra políticos corruptos? Que tal ser expelido por defender a autonomia da PF? Que tal ser posto para fora de um governo que quer impedir a CPI da Lava Toga, “destinada a pegar os corruptos do judiciário”?
Moro botou sua cabeça na guilhotina e implorou ao Capitão pela ordem ao carrasco. Seria sua glória, uma espécie de nova santificação do líder da República de Curitiba
O movimento fez o bolsonarismo entrar em parafuso. Olavo de Carvalho, percebendo a confusão causada pela perda da bandeira, fez um chamado por apoio cego e acrítico.
É cedo ainda para afirmar qual será o desfecho. O Marechal da Lava Jato e o Capitão fecharão um acordo? Seguirão na escalada de ameaças apostando no rompimento?
Pego de surpresa pela Lava Toga, fraco no governo, mas com muita força popular, Moro está dedilhando seu alaúde nos muros da cidade. É cada vez mais candidato. Tem calibre para enfraquecer Bolsonaro e embaralhar o jogo na oposição.