Movimentos de direita, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua (VPR), ativos na defesa do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, agora se reorganizam para pedir o afastamento de Jair Bolsonaro.
O atual presidente foi um dos que viu sua projeção crescer nas mobilizações pela saída da petista e, nas eleições de 2018, foi a escolha de muitos militantes e movimentos direitistas, que, hoje, passam a defender sua saída.
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A porta-voz do MBL, Adelaide Oliveira, refuta, porém, classificar o MBL e o VPR como movimentos bolsonaristas e defende que o atual presidente se apresentou na corrida ao Planalto como uma “solução”.
Ela afirma que a agenda de reformas e o time anunciado por Bolsonaro – com nomes como o de Paulo Guedes, Salim Mattar e Sergio Moro – foram grandes apostas dos movimentos. No início, Bolsonaro prometia não intervir no trabalho de sua equipe, promessa que, segundo ela, não foi cumprida.
Adelaide diz que no fim do primeiro ano de governo, em 2019, já perceberam “que o negócio ia degringolar, que ele ia trabalhar contra a gente”. E, então, desabafa: ficou claro que “ele enganou todo mundo”.
PublicidadeUm dos líderes do MBL, o hoje deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) afirmou em entrevista ao Congresso em Foco que Jair Bolsonaro cometeu um “estelionato político”.
Tanto o MBL quanto o Vem Pra Rua classificam o presidente como uma figura que apresenta riscos para a democracia brasileira.
“Vamos estabelecer o que é democrático. Se democrático é ouvir todos os lados? Ele é antidemocrático. Porque ele é autocrata. Ele dá ordens. Não tem razoabilidade nenhuma. O que dificulta que ele tramite na democracia”, explica a porta-voz do MBL.
Uma das lideranças do movimento Vem Pra Rua, Rogerio Chequer, ressalta que a postura antidemocrática do presidente fica muito clara a partir do momento em que ele ataca a liberdade de imprensa, incita manifestações pedindo o fechamento do Congresso Nacional e não consegue superar as dificuldades em estabelecer interlocução com o poder.
“Estes são os pontos que colocam em cheque o quão democrático é o estilo do presidente”, afirma.
Bolsonaro x Dilma
Para os representantes do MBL, Jair Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade que podem, sim, ser considerados mais graves do que os pelos quais a Dilma foi acusada anos atrás.
“Talvez pelo tempo, o conjunto da obra da Dilma e de sua trupe tenha sido pior. Mas, este governo [Bolsonaro] está em regime acelerado, para que em dois anos a gente queira tirar ele pelo conjunto da obra”, diz Adelaide.
Já o líder do VPR defende que não dá para comparar os dois “males”. “A gente está comparando um Estado corrupto com um Estado irresponsável”, diz Chequer.
Um dos pontos que colaboram para o fortalecimento da pauta pró-impeachment é como o afastamento de Bolsonaro tem sido defendido por representantes de diferentes correntes políticas, à esquerda e à direita.
“O fato de ter várias pessoas de espectros políticos, que divergem na maioria das opiniões, mas que convergem na irresponsabilidade de Bolsonaro, torna a evidência da sua irresponsabilidade mais forte. Fortalece as evidências de que Bolsonaro causa enormes danos ao país”, diz Chequer.
Disputas pelo comando do Congresso
Os dois movimentos dizem estar com os olhos voltados para o desenrolar da disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. A eleição está marcada para a próxima semana.
Nas duas Casas, os nomes apoiados por Bolsonaro – o deputado Arthur Lira (PP-AL) e o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) – seguem fortalecidos contra seus adversários.
“Independentemente de quem vença a eleição à presidência da Câmara e do Senado, chega um momento de pressão social que o presidente da Câmara tem que simplesmente pautar o pedido”, avalia o deputado Kim Kataguiri.
O deputado também diz duvidar de que Lira será um “fiador do governo”, caso seja eleito. “Eu não acho que a vitória do candidato do governo signifique blindagem para os pedidos de impeachment”, afirma.
Chequer concorda que uma possível vitória do candidato apoiado por Bolsonaro pode não representar resistência à abertura do processo.
“A princípio, parece que parte do acordo de Jair Bolsonaro com Lira é a proteção do presidente contra o impeachment. Agora, dado o histórico nada republicano de Lira, a gente fica na dúvida se ele vai cumprir esse acordo por muito tempo. A lealdade não é uma característica do Centrão liderado por Lira”, explica.
Pressão popular
“O impeachment nunca é uma coisa que parte de dentro pra fora”, pontua o deputado Kim sobre a importância da pressão popular em processos como este.
Apostando numa deterioração da imagem do governo por fatores como a crise econômica, o fim do auxílio emergencial e o colapso da saúde em meio à pandemia, o deputado, avalia que a pressão popular pró-impeachment deve aumentar.
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