Uma das tarefas mais arriscadas no jornalismo político é tentar antecipar indicações de ministros, sobretudo em gabinete de coalizão, como será o caso do terceiro governo Lula. Até a confirmação oficial, tudo está sujeito a alterações, em razão tanto da vontade solitária do dono da caneta (sim, o metalúrgico) como de reviravoltas relacionadas com a intensa disputa de bastidores que cerca essas situações.
Feita essa ressalva, podemos dizer que os próximos nomes a serem anunciados por Lula trarão várias confirmações e algumas surpresas. Comecemos pela parte mais fácil, a das confirmações.
Alguns nomes sem vínculos partidários que podem ser confirmados: o atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, para a Indústria e Comércio; o advogado e professor universitário Sílvio de Almeida, para os Direitos Humanos; a atual governadora do Ceará, Izolda Cela (que deixou o PDT para apoiar Lula na recente campanha eleitoral), na Educação, embora o senador eleito Camilo Santana (PT) pleiteasse o cargo; a atual presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, para a Saúde.
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Também é tida como certa a indicação da ex-ministra e deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) para o Meio Ambiente e do senador Carlos Fávaro (PSD-MT) para a Agricultura. O PSD de Gilberto Kassab deve ficar com mais um ministério, a ser entregue ao senador mineiro Alexandre Silveira, mas ainda não se sabe qual será ele.
PublicidadeO PT – que já recebeu a Fazenda, a Casa Civil e o Trabalho – deve ganhar pelo menos mais dois ministérios. O deputado Alexandre Padilha (SP) deverá ser o secretário de Governo, órgão que pode voltar a ter o nome de Secretaria de Relações Institucionais. Surpresa maior deve vir para a Secretaria-Geral da Presidência da República.
Encerrando uma batalha entre dois nomes paulistas, o do advogado Marco Aurélio Carvalho e do deputado estadual Emídio de Souza, o comando nacional do PT optou por uma solução sergipana: o cargo tende a ficar com o deputado federal Márcio Macêdo, que atuou como tesoureiro da campanha de Lula e é pessoa de confiança da presidente do partido, deputada federal reeleita Gleisi Hoffmann (PR).
Para quem está à espera de diversidade na composição ministerial, uma notícia tranquilizadora: pelo menos mais três mulheres estarão no primeiro escalão. Nos ministérios de Políticas para as Mulheres, da Igualdade Racial e do Planejamento, onde o martelo aparentemente tende a ser batido em favor da professora Esther Dweck, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Lula também faz questão, segundo vários de seus interlocutores, de ter no governo a senadora Simone Tebet (MDB-MS), mas eis aí uma equação difícil de resolver. Lula gostaria de incluir Tebet, que foi fundamental para a sua vitória eleitoral, na cota emedebista, mas o partido não topou. Quer emplacar um senador e um deputado, provavelmente, o ex-governador e senador eleito Renan Filho e José Priante, premiando assim os dois líderes do partido que embarcaram mais cedo na candidatura de Lula – os senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA).
Bancar o pleito significa encontrar uma terceira posição para o MDB, com um agravante. Simone Tebet já manifestou o desejo de ficar com o Ministério do Desenvolvimento Social (atual Ministério da Cidadania), algo que grande parte do PT não aceita, por entender que isso lhe tomaria um dos maiores trunfos da legenda, a gestão do Bolsa Família. “Mas Lula sabe que não pode e não quer ficar sem a Simone no governo”, soprou ao repórter uma fonte próxima ao presidente.
Seja como for, tal desacerto deixa indefinidos alguns dos ministérios mais importantes, como Infraestrutura, Cidades (atual Desenvolvimento Regional) e Minas e Energia, pleiteados principalmente por MDB e por PSD.
No capítulo das novidades, outra decisão de Lula é dividir o Ministério do Planejamento, ficando uma parte com a responsabilidade de cuidar do orçamento propriamente dito e a outra, da estrutura administrativa e da gestão de pessoas.
Caberá a mulheres a presidência do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.
Há vários problemas ainda para lidar, como a pretensão do ex-governador paulista Márcio França de integrar o ministério, o que poderá não ocorrer.
Outro problema é o Ministério da Previdência, que o Solidariedade de Paulinho da Força quer entregar à deputada federal e candidata derrotada ao governo pernambucano Marília Arraes. É forte a pressão, tanto na equipe de transição quanto no conjunto dos partidos aliados, para que área tão sensível seja entregue a um quadro técnico.