O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) superou ontem (sexta, 23) mais uma etapa na composição do ministério. Escolheu a ex-ministra Marina Silva (Rede), deputada federal eleita por São Paulo e nome simbólico da luta pelo desenvolvimento sustentável no país, para ocupar o Ministério do Meio Ambiente (MMA), após sua recusa em chefiar a Autoridade Nacional do Clima.
Fundamental para a confirmação de Marina foi a atitude solidária da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que poderá ocupar o Ministério das Cidades, embora essa decisão ainda dependa de costura com o MDB. A pasta estava, em princípio, reservada para a bancada do partido na Câmara. Mas tornou-se uma alternativa para acomodar no governo a parlamentar do Mato Grosso do Sul, que teve papel decisivo na vitória de Lula no segundo turno.
Simone Tebet se encontrou com Lula ontem pela primeira vez, desde a votação do segundo turno. O presidente lhe ofereceu o Ministério de Planejamento e Orçamento, que a senadora recusou. Perguntou em seguida se ela aceitaria o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Simone respondeu que sim, desde que se resolvesse a situação de Marina, com a qual não admitiria se indispor. Lula e Simone terão um novo encontro nesta segunda-feira (26) para dialogar sobre o espaço da senadora no governo.
Uma possível dobradinha Tebet no MMA e Marina como Autoridade Climática naufragou quando, na sequência, Lula conversou com sua ex-ministra do Meio Ambiente – Marina Silva chefiou o MMA entre 2003 e 2008, nos dois primeiros governos Lula. Sua atuação foi essencial para os excelentes resultados alcançados no combate ao desmatamento na Amazônia durante as gestões petistas. Essa verdadeira saga é relatada no livro Amazônia, uma década de esperança, de autoria de João Paulo Capobianco, um dos seus principais colaboradores. Como a própria Marina ressalta no prefácio, os índices de desmatamento na região amazônica caíram em mais de 80% entre 2004 e 2014.
Uma pessoa com acesso à ex-ministra avalia que o trabalho nessa área será agora bem mais desafiador. Primeiro, por causa do compromisso assumido por Lula de zerar o desmatamento até 2030. Depois, porque encontrará um cenário de caos na área ambiental, na qual mecanismos de controle aprimorados ao longo de décadas foram destruídos, profissionais competentes exonerados e perseguidos e a destruição da natureza foi incentivada pelo presidente da República e seu ministro do Meio Ambiente, transformando a Amazônia em terra sem lei, livre para a agropecuária predatória, o garimpo ilegal e a invasão de reservas florestais.
Renan Filho nos Transportes
O MDB terá ainda um terceiro ministro: o Ministério dos Transportes deverá ficar sob o comando do ex-governador e senador eleito Renan Filho (MBD-AL), filho de Renan Calheiros.
Simone Tebet estava interessada no Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), que cuida de programas como o Bolsa Família. Mas o órgão, que tem um orçamento anual da ordem de R$ 280 bilhões e é visto pelos petistas como uma das maiores vitrines do partido, ficou com o ex-governador do Piauí e senador eleito Wellington Dias.
A determinação de Lula em prestigiá-la na formação de sua equipe ficou clara com um gesto significativo: o presidente eleito convidou a senadora para acompanhá-lo de avião, ao voar ontem de Brasília para São Paulo.
Uma parte-chave da montagem do quebra-cabeças ministerial avançou em encontro realizado na quinta-feira (22) entre Lula; o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP); os senadores Eduardo Braga (AM) e Renan Calheiros (AL); e o novo líder do partido na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL). Foi quando se combinou que o MDB ocuparia três ministérios, como a legenda aspirava. Um ministério para Simone Tebet, outro para a bancada da Câmara dos Deputados e o terceiro para o Senado.
O Ministério das Cidades estava destinado aos deputados. Um dos cotados era José Priante (PA), ligado ao senador paraense Jader Barbalho, mas não há consenso na bancada da Câmara sobre o nome. O próprio Baleia passou a ser encarado nos últimos dias como uma opção. O governador do Pará, Helder Barbalho, filho de Jader, sugeriu o nome de seu irmão, Jader Barbalho Filho, mas isso também gera problemas com a bancada da Câmara, uma vez que ele não é deputado federal.
Emedebistas defendem que o seu terceiro ministério (além de Transportes e Cidades) seja não o Planejamento, como pretendia Lula, mas o Turismo, que também é visto como alternativa para atrair o PP. Embora seja minoritária a corrente do partido favorável à adesão ao novo governo, a agremiação tem um peso tão grande no Congresso (onde controla inclusive a presidência da Câmara) que se justificaria lhe entregar a pasta.
Ainda estão em andamento as negociações com outros partidos, incluindo PSD, União Brasil, PDT, Solidariedade e Psol.
Com a confirmação de Marina no MMA, enfraqueceu o nome da deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), que não se reelegeu, para o Ministério dos Povos Indígenas. Em contrapartida, aumentaram as chances de o posto ficar com uma das deputadas indígenas eleitas pelo Psol, Sônia Guajajara (SP) ou Célia Xakriabá (MG), sendo a primeira mais cotada.
Ministérios ainda não anunciados oficialmente
Lula anunciou na quinta-feira 16 nomes para o ministério, que se somam aos cinco divulgados inicialmente no dia 8 de dezembro. Restam ainda 16 cargos a serem preenchidos até a próxima terça-feira (27), quando ele apresentará a relação final.
Veja abaixo quais são eles e quem deverá ocupá-los:
Meio Ambiente – deputada eleita Marina Silva (Rede-SP)
Transportes – senador eleito Renan Filho (MDB-AL)
Cidades – Tebet (MS) ou outro nome do MDB
Agricultura – Carlos Fávaro (senador do PSD-MT)
Minas e Energia – senador Alexandre Silveira (PSD-MG).
Povos Indígenas – Sônia Guajajara ou Célia Xakriabá (Psol)
Integração e Desenvolvimento Regional – União Brasil
Previdência Social – PDT ou Solidariedade
Turismo – indefinido
Esporte – ex-jogadora de vôlei Ana Moser
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) – general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias
Comunicações – deputado federal reeleito Paulo Teixeira (PT-SP)
Secretaria de Comunicação da Presidência da República – Paulo Pimenta (PT-RS)
Planejamento – indefinido
Desenvolvimento Agrário – nome indicado pelo MST
Pesca – indefinido
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