O presidente Lula declarou nesta quarta-feira (26), em entrevista ao UOL, que afastará Juscelino Filho do cargo de ministro das Comunicações apenas se ele for denunciado pela Procuradoria-Geral da República. Juscelino é suspeito de desviar verbas da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
O petista contou que já comunicou sua decisão a Juscelino. “Se houver indiciamento, ele vai ser afastado e ele sabe disso.” afirmou. Na verdade, o ministro já foi indiciado pela Polícia Federal. Cabe à PGR receber o relatório de indiciamento e apresentar a denúncia ou não ao Supremo.
“O que eu disse ao Juscelino: ‘a verdade, só você sabe. Se o Procurador [Geral da República, Paulo Gonet] indiciá-lo, você sabe que tem de mudar de posição. Enquanto não houver indiciamento, você continua como ministro”, declarou ao UOL.
Ao ser indiciado pela PF, Juscelino afirmou que a investigação distorceu e ignorou os fatos e não ouviu a defesa acerca do escopo do inquérito. Segundo ele, o indiciamento é algo político e previsível.
Drogas
Na entrevista aos jornalistas Carla Araújo e Leonardo Sakamoto, Lula abordou também outros assuntos. Ele criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) por ter descriminalizado o porte de maconha para uso pessoal nessa terça-feira. Para ele, a questão não deveria ser tratada pelo Judiciário.
“Se um dia um ministro da suprema Corte pedisse um conselho para mim, ‘presidente o que eu faço’ [sobre esse tema]? A Suprema Corte não tem que se meter em tudo, ela tem que pegar tudo o que diz respeito à Constituição e virar senhora da situação, mas não pode pegar qualquer coisa e ficar discutindo, porque aí começa a criar uma rivalidade que não é boa nem para a democracia, nem para a Suprema Corte, nem no Congresso Nacional. A rivalidade entre quem é que manda? O Congresso ou a Suprema Corte?”
Lula lembrou que a Lei de Drogas, sancionada durante seu primeiro mandato, em 2006, previa que o usuário de drogas não seria preso. A norma, no entanto, não estabelece critérios para diferenciar usuário e traficante, tema discutido pelo Supremo. Ele afirmou que quem realmente tem conhecimento sobre o assunto não está sendo ouvido ou levado em consideração. “A questão é da ciência, a comunidade psiquiátrica desse país não se manifesta e não é ouvida”, acrescentou.
Salário mínimo e aposentadorias
O presidente também disse que não desvinculará o aumento das aposentadorias e de pensões do reajuste do salário mínimo, como cogitado por alguns integrantes da área econômica. Lula ressaltou que não considera o aumento do salário mínimo um gasto.
“Se eu acho que vou resolver a economia brasileira apertando o mínimo do mínimo, eu estou desgraçado, eu não vou pro céu, eu ficaria no purgatório”, declarou.
De acordo com ele, o reajuste das aposentadorias precisa estar atrelado à correção do salário mínimo pela inflação e aumento do PIB. “Muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza, desnutrição, analfabetismo e desemprego. Pouco dinheiro na mão de muitos significa aumento de renda, do consumo, do desenvolvimento, da educação e da saúde.”
Críticas ao mercado
O presidente também fez críticas ao mercado. “O mercado sempre precifica desgraça, está sempre trabalhando para não dar certo, está sempre torcendo para as coisas serem piores do que são, na verdade. E a economia vai crescer, vai crescer mais do que todos os especialistas falaram até agora que vai crescer”, disse.
Referindo-se à avenida Faria Lima, coração do mercado financeiro em São Paulo, Lula disse que boa parte do setor só pensa em seu lucro. “A Faria Lima tem alguém que quer mais bem ao Brasil do que eu? Que tem interesse de melhorar a vida do povo, mais do que eu? Vamos ser francos? Vocês acham que quando eles estão discutindo o aumento na taxa de juros, eles estão pensando no cara que está dormindo debaixo de uma ponte? No cara que está morrendo de fome? Não pensam, pensam no lucro. E o país tem que ter alguém que pense no povo.”
Banco Central
Lula fez elogios ao diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, cotado como futuro presidente da instituição. Mas ressaltou que ainda não está pensando em quem indicará para substituir Roberto Campos Neto no comando do BC.
“Eu não indico presidente do BC para o mercado, indico para o Brasil. E o mercado, seja financeiro, empresarial, produtivo, tem que se adaptar a isso. É preciso ter em mente que o Brasil vá bem, que a inflação esteja bem, que o crescimento vá bem, que o salário vá bem. É esse país de bem, esse país de ganha, é isso que a gente precisa criar.”
Gastos
Ainda na entrevista ao UOL, o petista afirmou que o governo vai analisar os gastos sem levar em conta o nervosismo do mercado. “Nós queremos fazer política social que permita às pessoas crescer, queremos saber se o gasto está sendo bem feito, e o dinheiro está sendo usado para melhorar o país, estamos fazendo análise de onde tem gasto exagerado, onde tem gasto que não deveria ter, onde tem gente recebendo que não deveria receber. Sem levar em conta o nervosismo do mercado. Levando a necessidade de manter política de investimento”, disse. “O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão”, acrescentou.