O presidente Lula afirmou, nesta sexta-feira (6), que ministros que cometerem equívocos serão afastados e aqueles que vierem a ser suspeitos de cometer irregularidade serão, além de demitidos, investigados. O recado foi dado na abertura de sua primeira reunião ministerial, com a presença dos seus 37 auxiliares diretos. Lula pregou unidade, mesmo reconhecendo as divergências entre os integrantes do governo, na reconstrução do país. Defendeu, ainda, que os ministros tratem bem o Congresso e cada parlamentar.
“Eu não tenho vergonha de dizer que nós vamos montar o governo com gente da política muito competente. Vamos montar o governo com gente técnica muito competente. Não faço distinção e não quero criminalizar a política. Todo mundo sabe da nossa responsabilidade, todo mundo sabe que nossa obrigação é fazer as coisas corretas, é fazer as coisas da melhor forma possível. Quem fizer errado, sabe que tem só um jeito: a pessoa será simplesmente, da forma mais educação possível, convidada a deixar o governo e, se cometeu algo grave, a pessoa terá que se colocar diante das investigações e da própria Justiça. Eu já carreguei na pele muitas coisas ruins. Eu já presidi este país por oito anos e fiz muitas reuniões nessa mesa. Eu só tenho um compromisso com esse país: ser honesto com o povo brasileiro e ser leal e honesto com vocês”, declarou.
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O presidente disse que o sucesso do governo dependerá da boa relação com o Congresso e que, por isso, é importante que a relação dos ministros com os congressistas seja harmônica para que o Executivo possa aprovar projetos de seu interesse.
“Muitos de vocês são resultado de acordos políticos, porque não adianta a gente ter o governo tecnicamente mais formado em Harvard possível e não ter um voto na Câmara dos Deputados, no Senado. É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda. Nós não mandamos no Congresso. Nós dependemos do Congresso e, por isso, cada ministro tem que atender bem cada deputado ou deputada, cada senador ou senadora. Nós precisamos manter uma boa relação com o Congresso e cada um de vocês, ministros, tem a obrigação de manter a mais harmônica relação com o Congresso Nacional”.
Lula ressaltou que, entre as missões do novo governo, está o desmonte do discurso de ódio no país. “Nós estamos de volta com o compromisso de unificar o povo brasileiro, acabar com o ódio – não acabar com as divergências -, mas acabar com o ódio, fazer política de forma civilizada e ao mesmo tempo em que a gente vai unificar esse país em torno dos interesses do próprio país, a gente vai ter que reconstruir esse país. Quem já leu o material feito pela coordenação da transição, liderada pelo companheiro Alckmin, percebeu que esse país foi semidestruído naquilo que foram as políticas sociais, educacionais, de saúde, de investimento, tanto de ferrovias e rodovias quanto no Minha Casa Minha Vida. Tudo isso foi paralisado, e nós então estamos com o compromisso de reconstruir esse país”, discursou.
Publicidade“Nós não somos um governo de um pensamento único, nós somos um governo de filosofia única, não somos um governo de apenas pessoas iguais. Nós somos um governo de pessoas diferentes, e o que é importante é que a gente, pensando diferente, tem que fazer um esforço para que na construção do nosso processo de reconstrução deste país a gente pense igual. A gente construa igual”, declarou.
Em sua primeira semana de governo, Lula enfrenta pressão por causa das ligações da ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, com milícias. Reportagens publicadas revelam que ela teve o apoio de ao menos três acusados de serem milicianos em sua campanha eleitoral à Câmara. Daniela foi a deputada mais votada no estado do Rio de Janeiro. Ela nega qualquer compactuação com milícias.
A ministra foi indicada ao cargo pelo seu partido, o União Brasil. Parte da bancada, no entanto, resiste à sua indicação e a atribui ao presidente da legenda, Luciano Bivar, e ao senador Davi Alcolumbre (União-AP). Uma ala defende que a sigla faça oposição a Lula e outra prega que se mantenha independente.
Após falar, Lula cedeu a palavra ao seu vice, Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que coordenou o governo de transição. Alckmin. Ele ressaltou a importância da vitória do atual governo e os desafios a serem enfrentados pela nova equipe. “Em quase 50 anos de vida pública nunca tinha visto o uso e abuso da máquina pública como nesta última eleição. O que podia e não podia ser feito foi feito para ganhar a eleição. A resiliência, o espírito correto prevaleceu. O povo deu uma aula. E o povo mais simples, o mais sofrido, os mais desfavorecidos”, declarou. O vice-presidente afirmou que o único candidato que poderia derrotar Jair Bolsonaro era Lula e que, com o apoio da população, está confiante no sucesso do governo.
Em seguida, Lula repassou a palavra ao ministro da Casa Civil, Rui Costa. A reunião, então, parou de ser transmitida. Mais cedo, no Twitter, Lula afirmou que a reunião será para “organizar os trabalhos na primeira semana de presidência”. “Estou otimista com o início do governo. Pegamos a casa mal cuidada, mas já estamos trabalhando, porque nossa responsabilidade é muito grande com o povo brasileiro”, destacou o presidente.
Hoje temos a primeira reunião ministerial, para organizar os trabalhos na primeira semana de presidência. Estou otimista com o início do governo. Pegamos a casa mal cuidada, mas já estamos trabalhando, porque nossa responsabilidade é muito grande com o povo brasileiro. Bom dia!
— Lula (@LulaOficial) January 6, 2023
Em outra publicação, Lula afirmou que a reunião ministerial “só tem horário pra começar”.
Um assunto dado como certo a ser debatido no encontro é a saia justa causada pelo ministro da Previdência, o presidente do PDT Carlos Lupi. Ao tomar posse, Lupi propôs a realização de uma “antirreforma” da Previdência, com a retomada de antigas regras previdenciárias derrubadas pela reforma aprovada no primeiro ano do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No entanto, a tal “antirreforma” não foi combinada com Lula ou com os demais integrantes do governo. A reunião deverá firmar o compromisso entre os ministros de não fazer anúncios por conta própria e de assuntos que não estejam previamente combinados.