O deputado paraense Celso Sabino, de 44 anos, é o nome escolhido pelo União Brasil para substituir a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, que aguarda liberação da Justiça eleitoral para deixar o partido. A indicação de Sabino tem o aval do presidente da sigla, Luciano Bivar, do líder da bancada, Elmar Nascimento (BA), e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A expectativa é que Daniela perca o ministério nos próximos dias. A situação dela se complicou depois que o seu marido, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, rompeu com a legenda e se filiou ao Republicanos.
A troca no ministério é vista como uma alternativa pelo presidente Lula para conter a insatisfação do União Brasil, que, mesmo com três ministros, recusa-se a fazer parte da base governista. Como mostra o Radar do Congresso, ferramenta de monitoramento do Congresso em Foco, o União votou em apenas 63,5% das vezes, em média, conforme a orientação do governo na Câmara este ano. Esse é o parâmetro usado pelo Radar para aferir o índice de governismo.
Em conversa com Lula nesta semana, Elmar pediu a mudança no ministério. O líder argumentou com o presidente que a substituição seria a melhor estratégia para conter a oposição ao governo dentro da bancada. Sabino também conta com o apoio de Luciano Bivar. “O Planalto sabe que o Sabino é o nome da nossa preferência, goza de grande prestígio junto à bancada, tem boa interlocução com todos os líderes partidários e condições de trazer apoios”, disse o presidente do partido ao jornal O Globo.
Baixo índice de governismo
O provável futuro ministro, porém, está longe de estar entre os deputados mais governistas. O índice de governismo de Celso Sabino é de 66%. Luciano Bivar, por exemplo, votou em 100% das oportunidades conforme a orientação do Planalto.
Recentemente, Sabino votou a favor da proposta que estabelece um marco temporal para o reconhecimento da demarcação de terras indígenas, votação considerada uma derrota para o governo. Por outro lado, votou em outros dois projetos importantes para o presidente Lula: a MP 1154/23, que reestruturou os ministérios – ainda que com o esvaziamento do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas – e o PLP 93/23, do arcabouço fiscal.
Os posicionamentos dele coincidem mais com os do presidente da Câmara do que com os de Lula. Em suas redes sociais, Sabino se refere a Arthur Lira como “amigo irmão”. Com o apoio de Lira, ele ganhou protagonismo ao presidir a Comissão Mista de Orçamento em 2022. Por sua ligação com o alagoano, paraense também chegou a ser cotado para relatar a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024 e presidir a CPMI dos Atos Golpistas.
“Hoje é o dia de celebrar a vida deste amigo irmão, que tem se dedicado muito pra fazer a diferença para o nosso país, em um dos momentos mais difíceis da nossa história contemporânea”, escreveu o paraense no ano passado ao comemorar o aniversário do presidente da Câmara.
O deputado, que está em seu segundo mandato federal, é formado em Direito e administração pública. Auditor fiscal concursado da Secretaria da Fazenda do Pará, foi deputado estadual e Secretário Estadual de Trabalho, Emprego e Renda, além de presidente do Instituto de Metrologia do seu estado. Nos últimos dias, ele pediu apoio político ao governador Helder Barbalho (MDB), um dos mais próximos de Lula e irmão do único ministro paraense até o momento, Jader Filho, das Cidades. Ambos são filhos do senador Jader Barbalho (MDB-PA).
Desgaste no PSDB
Em 2021, o deputado relatou a chamada PEC da Impunidade, que definia que o parlamentar só pode ser prisão em flagrante nos casos citados explicitamente pela Constituição: racismo, crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas, terrorismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático. A PEC foi apresentada após a prisão de Daniel Silveira, mas, em meio a grande polêmica, acabou não tendo sua votação concluída.
Esse foi um dos pontos de atrito dele com o PSDB, o seu então partido, que o considerava próximo demais de Jair Bolsonaro de Arthur Lira. Em 2020, Sabino chegou a sofrer processo de expulsão depois de anunciar que assumiria o cargo de líder da Maioria na Câmara sem que houvesse uma decisão nesse sentido por parte da bancada. Diante da crise instalada, o bloco que apoiava a mudança do líder acabou recuando da indicação em meio à briga dos tucanos. Sua nomeação tinha o apoio de Arthur Lira.
Na época, Sabino também foi duramente criticado por ter viajado com Bolsonaro para o Pará para a inauguração de uma obra. Durante a viagem, publicou foto em que apertava a mão do presidente. A postura foi considerada inadequada por parte dos tucanos, pois o partido se declarava independente em relação ao governo. Ele era considerado um dos principais articuladores da migração do PSDB para a base de Jair Bolsonaro.
Em agosto de 2021, ele entrou com pedido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para se desfiliar do PSDB sem perder o mandato na Câmara por infidelidade partidária. Alegou que havia recebido menos recursos nas eleições de 2014 e 2018 e que havia sido tratado com desrespeito por colegas por ter recomendado o arquivamento, na condição de relator, do processo interno que pedia a expulsão de Aécio Neves (MG) do PSDB. O pedido de expulsão havia sido articulado pelo grupo do ex-governador de São Paulo João Doria, que travava uma queda de braço com Aécio pelo controle da legenda.
(Des) União Brasil
Liberado pelo partido para deixar a legenda em março de 2021, Celso Sabino acabou se filiando ao União Brasil assim que a sigla foi criada, a partir da fusão do PSL e do DEM.
Além do Ministério do Turismo, o União é responsável por outras duas pastas: Comunicações, comandada pelo deputado Juscelino Filho (MA), e Integração e do Desenvolvimento Regional, chefiada por Waldez Góes. Ex-governador do Amapá, Waldez se licenciou do PDT para assumir o cargo por indicação do senador Davi Alcolumbre (União-AP). Daniela só aguarda o aval do TSE para deixar o União e se filiar ao Republicanos sem o risco de perder o mandato de deputada por infidelidade partidária. A bancada do partido na Câmara alega que não foi consultada sobre as indicações ministeriais e que, por isso, não se considera parte do governo. É essa equação que o presidente Lula tenta resolver com a provável mudança no ministério.