Após a reunião que teve com o presidente Lula, na noite desta segunda-feira (6), o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, anunciou que permanecerá no governo. Juscelino passou a tarde com Lula para esclarecer as denúncias ligadas ao seu nome. Logo antes de se reunir com o chefe de governo, o ministro se pronunciou nas redes sociais, se explicando sobre as denúncias relacionadas às suas viagens em voos da Força Aérea Brasileira (FAB), mas amenizando os demais escândalos.
As viagens de Juscelino Filho ao longo dos três meses de governo foram o principal motivo de problemas que colocaram o seu cargo em risco. No dia 26 de janeiro, ele utilizou um voo da FAB para ir a São Paulo sob a justificativa de viagem oficial, ficando poucas horas em agenda. No sistema de gastos da pasta, porém, constatou-se o pagamento de R$ 3 mil em diárias de hotel, e ele foi filmado na mesma semana participando de um leilão de cavalos.
Em suas redes, o ministro afirmou que o voo pela FAB serviu para participar de reuniões com representantes de empresas do setor de telecomunicações e com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). As diárias, segundo ele, foram geradas por erro de sistema no Portal da Transparência. O ministro apresentou as notas fiscais comprovando a devolução do recurso aos cofres públicos. Já sobre o retorno, ele conta que foi em um voo compartilhado, que outro ministro havia solicitado.
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Faltaram explicações
Outras denúncias divulgadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, porém, não foram tão bem explicadas por Juscelino. Uma delas diz respeito ao seu patrimônio, que inclui R$ 2,2 milhões em cavalos que não foram declarados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante sua campanha de 2022. “Desde sempre declaro todos os meus bens na minha declaração de Imposto de Renda. (…) A Receita Federal sempre aceitou todas as minhas declarações, e a Justiça Eleitoral também sempre aprovou as minhas contas”, declarou, sem explicar o motivo de não ter informado o TSE sobre os equinos.
Juscelino Filho também atraiu desconfiança graças a investimentos feitos por meio das extintas emendas parlamentares de relator, conhecidas como orçamento secreto, para construir estradas conectando sua fazenda, no interior do Maranhão, ao município de Vitorino Freire, governado por sua irmã Luanna Martins Bringel Rezende. Apesar de também construir outras estradas na região, a obra com custo de R$ 7,5 milhões e ainda em fase inicial, emprega R$ 5 milhões apenas para a pavimentação que beneficia sua propriedade e contrata a empresa Construservice, investigada por lavagem de dinheiro e esquemas de pagamento de propina.
O ministro, que até 2022 era deputado e ainda é filiado ao União Brasil, negou a existência de obras públicas ao redor de sua fazenda, e se esquivou de falar sobre a relação com a Construservice. “Eu não posso responder pelas contratações. (…) O projeto tem como objetivo atender inúmeras comunidades que hoje convivem lá com a lama e com a poeira”, disse. Também defendeu a legitimidade das emendas parlamentares como parte da atividade parlamentar.
Suas declarações foram feitas logo antes de se encontrar com Lula, reunião que, em suas redes, afirmou ter sido “muito positiva”, em que teria esclarecido as “acusações infundadas” contra o seu nome e conversado sobre projetos de sua pasta. Ele também anunciou que já tem novas agendas marcadas com o presidente para inaugurar entregas no norte do país.
Apesar do problema que trouxe à imagem do governo, Juscelino é um dos quadros mantidos para que o governo consiga estreitar laços com o União Brasil, partido que conta com a terceira maior bancada da Câmara dos Deputados. Ao enfraquecer a posição do partido no poder Executivo, o governo poderia acabar perdendo um apoio vital no Legislativo.