O jantar do MDB na casa do ex-senador cearense Eunício Oliveira na noite de quarta-feira (14) fez cair a ficha quanto ao peso que conquistou a senadora Simone Tebet (MS) após a sua performance nas eleições presidenciais e o apoio que deu ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. O MDB já não mais considera Simone como alguém fora da cota do partido. O partido avaliza sua escolha, embora isso ainda não seja garantia de que ela será ministra. Não mais por oposição do MDB, mas pela pressão do PT.
Simone participou do jantar durante todo o tempo. E sua posição foi defendida principalmente pelo presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP). No jantar, Baleia repetiu o que dissera antes em uma reunião da bancada do partido na Câmara: “Querem falar que Simone Tebet não representa o partido”. “Institucionalmente, ela representa o partido. E se ela for convidada para compor alguma função que ela se sentir preparada e que ela possa ajudar o partido na sua construção futura, ela terá, sim, total apoio do nosso partido”, continuou.
Na verdade, a posição em torno de Simone agora é semelhante à que havia no lançamento da sua candidatura à Presidência. Embora seja senadora, as restrições a ela partem mais do próprio Senado. Especialmente daqueles senadores há mais tempo aliados de Lula, como Renan Calheiros (AL). Na candidatura, Baleia bancou a indicação, venceu a convenção, e Simone acabou surpreendendo ao conquistar o terceiro lugar na disputa. “Simone ganhou um tamanho imenso. Mas é um tamanho na opinião pública”, diz uma fonte emedebista.
Simone e mais dois. Ou mais um
Idealmente, o MDB deseja três ministérios no novo governo. Simone entraria como uma opção institucional do partido. E entrariam mais dois ministros, representando as bancadas no Congresso. Esses nomes poderiam ser o deputado José Priante (PA) pela Câmara, e Renan ou Renan Filho pelo Senado. Mas a avaliação após o jantar é que o MDB aceitaria uma negociação na qual ficasse com apenas dois ministros, Simone e mais um. No caso, prevaleceu no MDB a sensação de que um veto a Simone acabaria comprometendo a imagem do próprio partido, diante do tamanho que ela conquistou na eleição e no apoio a Lula no segundo turno.
O problema, então, para Simone passa a ser a pressão do próprio PT. Simone está inclinada a não aceitar nenhuma pasta que não seja o Ministério do Desenvolvimento Social, que administrará o Bolsa Família. E o PT resiste a abrir mão do principal programa social de redistribuição de renda do novo governo.
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Nas negociações, chegou-se a aventar a hipótese de desmembrar do Ministério do Desenvolvimento Social as ações de combate à fome. Nesse caso, os programas de segurança alimentar poderiam ser associados aos programas de agricultura familiar, em um Ministério do Desenvolvimento Agrário e Combate à Fome. Esse ministério seria dado a Tereza Campelo, o principal nome do PT a disputar com Simone Tebet o Desenvolvimento Social. O PT, porém, resiste a essa solução.
O jantar na casa de Eunício, no entanto, arrefeceu as resistências do próprio MDB a Simone Tebet.