Desde o início da pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro insiste no uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da infecção. Mesmo sem comprovação científica, o Ministério da Saúde liberou o uso da droga desde o estágio inicial da doença, contrariando as recomendações da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
A divergência sobre o uso do medicamento foi apontada como o estopim para a demissão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que chegou a afirmar que o uso de cloroquina no combate ao coronavírus “se prestou muito para discurso político”. Mesmo sem afirmar a razão de sua saída, Nelson Teich, que comandou a pasta após Mandetta também se mostrou contrário ao uso do remédio.
No entanto, essa não é a primeira vez que Bolsonaro insiste na administração de um medicamento sem comprovação de eficácia. Em 2016, quando ainda era deputado pelo PP, ele foi um dos autores do projeto de lei que dispunha sobre o uso da fosfoetanolamina sintética por pacientes com câncer. Bolsonaro chegou a participar de programas de TV advogando em favor da liberação da pílula.
A substância ainda estava em fase de pesquisas e não tinha registro da Anvisa. Por pressão de familiares de pessoas com a doença, o PL chegou a ser aprovado e sancionado pela então presidente Dilma Rousseff.
Meses depois, o STF suspendeu a lei que autorizava o uso da pílula. O pedido foi feito pela Associação Médica Brasileira, que discordava da produção do medicamento alegando falta de comprovação científica e estudos clínicos eficazes.
Histórico
A fosfoetanolamina sintética foi estudada pelo professor aposentado Gilberto Orivaldo Chierice, quando ele era ligado ao Grupo de Química Analítica e Tecnologia de Polímeros da Universidade de São Paulo (USP), campus de São Carlos. Algumas pessoas tiveram acesso gratuito às cápsulas contendo a substância, produzidas pelo professor, porém sem aprovação da Anvisa. Esses pacientes usavam a pílula como se fosse um medicamento contra o câncer. Alguns chegaram a dizer que essa era a cura da doença.
Em junho de 2014, uma portaria da USP determinou que substâncias em fase experimental deveriam ter todos os registros antes de serem distribuídas à população. Desde então, pacientes que tinham conhecimento das pesquisas passaram a recorrer à Justiça para ter acesso às pílulas.
Saúde
Lembrado por ter sido um deputado com atuação tímida durante seus quase 30 anos de Congresso, Bolsonaro atuou pela aprovação de diferentes projetos para a área da saúde, especificamente para militares.
Além da PL para autorização de uso da fosfoetanolamina, ele também foi autor do PL 1.127/2007, que instituiu a Semana Nacional da Saúde Masculina. Outra atuação de Bolsonaro pela saúde foi o PL 1.472/1991, que pretendia assegurar o atendimento médico ambulatorial e hospitalar aos ex-combatentes. Já o PL 2.712/2000, dispunha sobre a assistência médico-hospitalar aos ex-combatentes que tenham participado de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial. Os projetos não foram aprovados.