Quatro dias depois de convocar a imprensa à noite, na porta do Palácio da Alvorada, para fazer comunicado de “fatos graves”, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, diz estar arrependido do gesto.
Ao lado de Fabio Wajngarten, outro coordenador da campanha, Faria foi o porta-voz do governo na apresentação da denúncia de que emissoras de rádio, sobretudo do Norte, tinham deixado de veicular inserções da propaganda eleitoral do presidente Jair Bolsonaro. O anúncio ocorreu um dia após Roberto Jefferson disparar tiros de fuzil e granadas contra policiais federais ao resistir à prisão.
A operação foi vista desde o início pela oposição e pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como manobra para tentar atrapalhar as eleições. O episódio foi usado pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e aliados para pedir o adiamento da votação do próximo domingo (30) – ideia completamente descartada. O argumento era de que se fazia recompor os programas que não teriam sido levados ao ar.
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Inicialmente os bolsonaristas trataram da “denúncia” como se houvesse um boicote ou conluio do TSE com a campanha de Lula (PT). Mas o próprio tribunal esclareceu que a responsabilidade pela distribuição do material e pela fiscalização da veiculação cabe aos partidos políticos e coligações. Além disso, se houver responsabilização nesses casos, ela recai sobre as emissoras e não sobre a chapa adversária.
Faria afirmou à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que se arrependeu “profundamente” de ter tratado do assunto, de modo acusatório, em entrevista à imprensa.
“A falha era do partido, que percebeu o problema tardiamente, e não do tribunal. Como havia pouco tempo para o TSE fazer uma investigação mais aprofundada, eu iniciei um diálogo com o tribunal em torno do assunto”, disse o ministro das Comunicações à colunista. “Me arrependi profundamente de ter participado daquela entrevista coletiva. Se eu soubesse que iria escalar, eu não teria entrado no assunto”, acrescentou.
Faria disse ter ficado preocupado com os discursos pró-adiamento da eleição. “Se fosse o tema só a inserção, tudo bem. Mas como entraram em outro assunto. Ele não escalou só por isso (inserções), escalou pela denúncia do funcionário do TSE e pediram adiamento (das eleições), declarou o ministro ao Globo.
Ele citou o caso do servidor Alexandre Gomes Machado, que foi exonerado pelo TSE e procurou a Polícia Federal para prestar um depoimento na madrugada da quarta-feira. Ele declarou que havia sofrido abuso de autoridade porque havia denunciado falhas nas inserções da propaganda eleitoral. O tribunal respondeu que a exoneração se deu por reiteradas práticas de assédio, inclusive por motivação política.
O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, identificou uma série de inconsistências nos documentos entregues pela campanha de Bolsonaro, com supostas denúncias contra emissoras. Por isso, determinou o arquivamento do caso e determinou a inclusão do processo no inquérito das milícias digitais, em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Emissoras citadas no relatório demonstraram que, nos casos em que deixaram de veicular inserções, foi por atraso do próprio partido. Entre as rádios citadas no documento está uma de propriedade do deputado eleito Robinson Faria (PL-RN), pai do ministro.
Em entrevista coletiva na qual estava ladeado pelos ministros Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (GSI), Bolsonaro disse que não aceitaria a decisão e recorreria ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Wajngarten foi às redes sociais, após a publicação da entrevista de Faria, para ressaltar que não havia “arrependimento em relação às denúncias apresentadas ou no que diz respeito ao pedido de recomposição das inserções”.
“Apenas lamentamos que um tema técnico escalasse para uma discussão política na qual pessoas externas à campanha insinuaram o adiamento”, escreveu.
“Não há qualquer interesse em se discutir o adiamento das eleições, dentre outros motivos, porque sabermos que o presidente irá vencer a eleição neste domingo. Esse foi sempre o meu entendimento e do ministro Fabio Faria”, emendou.