O mercado financeiro entrou em trégua com Lula. Em março, quase ninguém do ramo apostava um real em seu governo. Agora, se ainda está longe da unanimidade, tem a avaliação positiva de dois em cada dez executivos do setor, mostra pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira (12). A avaliação negativa despencou de 90% para 44%. O olhar dos operadores reflete o bom momento do governo, com a aprovação — embora parcial — de projetos fundamentais, especialmente as novas regras fiscais e a reforma tributária.
Lula termina o primeiro semestre do mandato em clima de otimismo, com inflação em queda e previsões de crescimento econômico. No mercado, mais da metade dos entrevistados da Quaest (53%) afirmam que a economia do país vai melhorar. Um salto de 47 pontos percentuais em comparação às expectativas de março. A avaliação coincide com a opinião pública. Em junho, num levantamento do mesmo instituto com a população em geral, 46% achavam que o Brasil está na direção certa, e 56% diziam que a economia vai melhorar.
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O universo do setor financeiro é restrito, mas é um termômetro para medir a receptividade da política econômica comandada por Fernando Haddad. E o ministro foi o grande destaque da pesquisa: seu trabalho é aprovado por 65%, um salto desde março, quando apenas um em dez agentes tinha uma avaliação positiva. No mercado, Haddad virou uma espécie de fiador do governo, mas a falta de confiança no presidente Lula ainda é extremamente alta, quase unânime: 95%.
Haddad foi um protagonista das vitórias das últimas semanas no Legislativo, mas não teria o resultado sem a ajuda do pragmatismo de Lula. O presidente mandou liberar cerca de R$ 7 bilhões em emendas parlamentares, abriu negociações com os partidos do Centrão e deve fazer uma minirreforma ministerial, na expectativa de consolidar uma base parlamentar majoritária. O ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social) está em processo explícito de fritura, assim como a do Esporte, Ana Moser. A Caixa deve ficar com um aliado de Arthur Lira (PP) e a chave do Turismo já está em poder do União Brasil.
O ministro da Fazenda encarna uma nova forma de fazer política — ou a volta da boa política — baseada em conversa, não no confronto que virou regra nos últimos tempos. Lula, na terceira passagem pelo Planalto, tira proveito. Mas, como nas gestões anteriores, sabe que as velhas práticas ainda estão vivíssimas.
Os bons resultados anteciparam previsões sobre uma eventual candidatura de Haddad ao Planalto em 2026. Como consequência, ficará cada vez mais exposto à crítica dos adversários e ao tiroteio da ala do PT que sequer o apoiou em 2018. O desafio do ministro é chegar inteiro até lá.
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