O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, vive uma semana de incertezas quanto à sua permanência no cargo. O governo federal já admite que ataques de autoridades brasileiras, inclusive de Ernesto e do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), a autoridades chinesas estão atrapalhando a importação de insumos para a produção de doses de vacinas contra a covid-19 no Brasil.
A inabilidade diplomática também é apontada por analistas internos como motivo para o atraso na compra de vacina da Índia. Em um ato bastante midiático na semana passada, Ernesto chegou a anunciar que um avião iria buscar vacinas da AstraZeneca no sudoeste asiático. A pompa e publicidade da ação desagradaram Nova Delhi que, em poucos dias, mudou o discurso e desistiu da venda. O avião brasileiro, já adesivado com a campanha do SUS, teve de ser utilizado em outras operações.
Mas é a posse do presidente Joe Biden, nos Estados Unidos, que ocorre nesta manhã (20), que mais põe em xeque o futuro do ministro. Admirador de Donald Trump, que deixa hoje o mandato, Ernesto minimizou a invasão ao Capitólio, há duas semanas, ao defender o direito de protestar de americanos que se sentem traídos por seus políticos, diante de um cenário de possível fraude eleitoral. Assim como Trump e seus apoiadores, que contestam o resultado da eleição, o ministro brasileiro não apontou qualquer indício de fraude.
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Biden, que assume o mandato às 14h em Brasília – meio-dia em Washington – deixou claro ao longo da campanha que a questão ambiental e climática será prioridade em sua gestão. Uma das últimas lideranças internacionais a reconhecer a vitória do democrata, o presidente Jair Bolsonaro não participará da cerimônia. Será representado pelo embaixador Nestor Forster, também considerado um admirador do republicano.
“(A comunidade internacional diria ao Brasil) aqui estão US$ 20 bilhões, pare de destruir a floresta. E se não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas”, afirmou Joe Biden durante a campanha eleitoral no recado mais direto a Bolsonaro. A expectativa dentro do governo brasileiro é de que democratas exigirão a inclusão de cláusulas de proteção ambiental e de direitos humanos para fechar novas negociações com o Brasil e que projetos entre os dois países que já estavam em andamento atrasem em cerca de um ano.
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