O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) se articula contra a reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas o faz com discrição para evitar atrito com o deputado, que o apoiou no segundo turno. A revelação foi feita pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente eleito, em um grupo com principais nomes do PSL no WhatsApp. O temor de Bolsonaro é que, contrariado, Maia acelere a votação de uma pauta-bomba, explica o deputado em conversa pelo aplicativo, reproduzida pelo jornal O Globo. A declaração contradiz o discurso oficial do presidente eleito de que não interferirá na votação marcada para o dia 2 de fevereiro.
Batizado de “Bancada do PSL 2019”, o grupo também virou espaço para bate-boca entre a deputada eleita Joice Hasselmann (SP) e o deputado Major Olímpio (SP), que ocupará uma cadeira no Senado a partir do próximo ano. As discussões entre os dois avançaram pela madrugada e prosseguiram ao longo dessa quinta-feira (6).
Por volta das 13h, Eduardo Bolsonaro interveio na confusão para rebater críticas de Joice sobre a articulação política do partido, que, segundo ela, estaria “abaixo da linha da pobreza”. Foi então que o filho do presidente revelou que está atuando em sigilo, a mando do pai, na costura de apoios na Casa e que, se o presidente da Câmara soubesse de seus movimentos, poderia colocar em votação projetos que trariam despesas para o próximo governo.
Leia também
> Filho de Bolsonaro acusa novo deputado do PSL de explorar apoio do presidente eleito
“O PSL está fora das articulações? Estou fazendo o que com o líder do PR agora? Ocorre que eu não preciso e nem posso ficar falando aos quatro cantos o que ando fazendo por ordem do presidente. Se eu botar a cara publicamente, o Maia pode acelerar as pautas bombas do futuro governo. Por isso, quem tem feito mais essa parte é o delegado Waldir no plenário e o Onyx via líderes partidários”, escreveu Eduardo Bolsonaro. O PR discute o lançamento da candidatura do deputado Fernando Giacobo (PR) para o comando da Casa.
Foi a segunda manifestação do clã Bolsonaro contra a reeleição do presidente da Câmara nesta semana. Em entrevista à GloboNews, na última segunda-feira (3), o senador eleito Flávio Bolsonaro, outro filho do presidente, disse que o governo não apoiará a recondução de Maia, tampouco a volta de Renan Calheiros (MDB-AL) à presidência do Senado.
Publicidade“Esses nomes precisam entender que estamos vivendo um novo momento. As urnas mostraram que a população quer mudanças. E tanto Renan quanto Maia não contemplam essa vontade (…) Rodrigo Maia já teve seu tempo à frente da Câmara e não conseguiu garantir o quórum suficiente para a votação da reforma da Previdência”, disse.
Segundo O Globo, a origem do entrevero no PSL foi uma reunião de Bolsonaro com os deputados Major Olímpio e Delegado Waldir (GO) na noite de quarta-feira. Integrantes do PSL foram informados de que Bolsonaro pretendia anunciar o nome de Waldir como líder do governo na Câmara em 2019. Postulante declarada ao cargo, Joice Hasselmann criticou “disputas de espaço pouco republicanas” no partido.
A deputada foi questionada por declarações à imprensa em que afirma querer ocupar o cargo. “Não vou jogar fora a interlocução que tenho, que construí muito antes de ser candidata, por vaidades, ou disputas de espaço pouco republicanas. Comigo é de forma clara, como tenho feito com vocês. Qualquer dúvida podem me procurar no privado. Nossa articulação oficial na Câmara e no Senado, repito, está abaixo da linha da miséria”, escreveu a futura deputada.
Em outro trecho da conversa, Joice disse ter recebido reclamações de senadores sobre a falta de interlocução com o governo e com o PSL. “Interessante que hoje, no Senado, ouvi a seguinte frase de cinco senadores: ‘não temos interlocução nenhuma com o governo e com o PSL no Senado’ e me pediram ajuda.”
> Indefinição e críticas a Onyx Lorenzoni marcam primeira reunião do PSL depois das eleições
“Os senadores que você diz que articula estão mal informados. Temos quatro senadores atuantes. Quanto ao Waldir, ele perguntou ao presidente se havia restrição em ele se colocar à liderança do partido ou do governo na Câmara e o presidente disse que não fazia restrições a ninguém”, retrucou Major Olímpio.
Joice insistiu, segundo relato do Globo: “Quanto ao Waldir, não é essa informação que tenho. Também sugiro falar com a instância correta: o presidente Bivar”. Olímpio rebateu: “Quanto ao Waldir, eu estava junto na conversa com o presidente. Boa noite”.
As discussões, porém, continuaram. “Interessante saber que o senhor está articulando à revelia da bancada e do presidente do partido. Sugiro conversar com a bancada e com presidente da sigla. Boa noite”, prosseguiu Joice.
Major Olímpio usou letras maiúsculas para responder a futura colega, deixando claro os papéis de cada um na articulação política e pregando respeito à hierarquia – tanto em referência ao presidente quanto à dos parlamentares novatos em relação a quem já está no Congresso.
“De jeito nenhum. O presidente que chamou a mim e ao Waldir em agenda oficial. Nada escondido, em perfeita sintonia com o presidente Bivar, que hoje me designou para representá-lo e ao PSL no Congresso Nacional de Câmaras Municipais. Não estou me metendo nas articulações da Câmara e sim apoiando o LÍDER EDUARDO E VICE LÍDER WALDIR PORQUE ME ELEGI SENADOR E É LÁ QUE TENHO QUE ARTICULAR. Eu respeito hierarquia e respeito meus colegas parlamentares. Eu PERCO TEMPO COM QUEM NÃO É LÍDER. Boa noite”, escreveu Olímpio, referindo-se a declarações da deputada eleita de que não perde tempo com pessoas pouco importantes.
Com 52 eleitos na Câmara e três no Senado em outubro, o PSL começa a legislatura com a segunda maior bancada de deputados. O partido, no entanto, ainda tenta recrutar integrantes de legendas que não atingiram a cláusula de barreira e, por isso, podem trocar de sigla sem incorrer em infidelidade partidária.