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A ideia em um minuto
2022 já está antecipado em ações e expectativas. Contudo, várias condições políticas que determinarão o resultado ainda se desenvolverão nos próximos meses. Por um lado, favorecem Bolsonaro a retomada econômica e o enfraquecimento da pandemia. Por outro, a formação dos palanques regionais e os impactos da CPI e dos movimentos de rua contra o presidente podem prejudicá-lo. Estes três últimos elementos ainda não estão definidos, mas vão se delineando para dificultar a reeleição de Bolsonaro.
O Brasil vive uma fixação com as eleições de 2022, em parte motivada pela postura do presidente da República, em campanha permanente pela reeleição, em parte pela intensidade do desejo de mudança de seus opositores.
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As últimas pesquisas de opinião, pondo lenha na fogueira, têm impactado fortemente as impressões. A larga dianteira de Lula nas intenções de voto, como se viu nesta semana na pesquisa CNT/MDA – 41,3% para Lula contra 26,6% para Bolsonaro no cenário estimulado de primeiro turno -, parecem aproximar o futuro e o presente.
Ao que nos parece, contudo, os prognósticos exigem cautela. Três elementos devem ser ponderados: a melhora da economia e o arrefecimento da pandemia, a formação das alianças regionais e o papel da CPI e dos movimentos de rua.
A melhora que virá
A pandemia de covid-19 iniciou-se no Brasil em março de 2020 e jogou a economia num vale. A atividade caiu fortemente de imediato e desde então recupera-se em ritmo variado. Ligada intrinsicamente à recuperação da atividade segue a pandemia, que arrefece principalmente devido ao avanço da imunização via vacina.
Na ausência de reformas econômicas que apontem para uma gestão macroeconômica fiscalmente sustentável, os fantasmas da inflação e a trava de regulações e intervenções econômicas ineficientes impedem o Brasil de melhorar estruturalmente seu desempenho. Contudo, a simples volta do “metabolismo basal” pós-pandemia já melhora os indicadores.
Nesse cenário, espera-se que o emprego e a renda dos brasileiros voltem a melhorar nos próximos meses, com boas chances de que os movimentos sejam bem identificáveis durante a campanha eleitoral ano que vem. Isso conta pontos positivos para uma possível reeleição, já que melhores condições de vida ajudam o presidente de plantão.
Nesta linha vale uma boa análise na pesquisa citada CNT/MDA, distribuída pelo serviço Congresso em Foco Insider, pois várias questões tratam das expectativas do eleitor sobre o cenário futuro, como emprego, renda, saúde etc. No geral os entrevistados esperam melhora ou manutenção dos cenários atuais, o que permite pensar que, no que respeita à realidade socioeconômica, o apoio a Bolsonaro pode ter atingido agora seu piso.
As alianças regionais
Bolsonaro entende a si mesmo como um caso excepcional de sucesso eleitoral. Sua vitória em 2018 teria lhe conferido uma singularidade raríssima e especial no mundo político. Certo ou errado quanto ao passado, essa percepção do presidente pode, contudo, se tornar um problema para seu futuro, pois as eleições de 2022 serão em grande medida ordinárias, típicas.
As eleições de 2018 foram baseadas na crítica ao sistema, no antipetismo, na anticorrupção e na novidade das campanhas via redes sociais, em especial no Whatsapp.
Espera-se que em 2022, diferentemente, o eleitor decida seu voto baseado na análise das suas condições de vida – emprego, renda e acesso a serviços públicos – e nas influências da campanha.
As condições de vida já tratamos no item anterior, referente à possível evolução da economia e da pandemia.
Quanto às influências da campanha, não se pode negar que o bolsonarismo tem expertise e pioneirismo no uso das redes sociais. No entanto, como já tratado neste Farol anteriormente, outros candidatos e linhas ideológicas já aprenderam a manusear várias das novas ferramentas, o que torna o campo de batalha mais contestado.
Contudo, algo muito importante parece ainda estar passando desapercebido, a formação dos palanques regionais.
Lula e Ciro Gomes já se colocaram em campo e têm atuado na construção de alianças, valendo apontar como fato mais notável até o momento as movimentações do PSB e as tentativas de criação de uma ampla e oposicionista aliança no Rio de Janeiro.
O presidente, em situação contrária, ainda não decidiu questão básica para a formação de alianças, sua própria filiação a um partido político.
Vencida esta etapa, que não parece trivial para o presidente, passaria à outra fase, a formação de alianças estaduais, a famosa construção de palanques.
Bolsonaro une duas características complicadas para a criação de alianças. Em primeiro lugar ele se coloca de forma altamente sectária, tendendo a ter como aliados apenas os radicais ideológicos mais à direita. Nesse sentido, o apoio do Centrão é claramente um apoio legislativo negociado, barganhado, com ganhos e perdas no curto prazo, não se podendo deduzir dele compromissos críveis para o futuro eleitoral.
Em segundo lugar, Bolsonaro esgotou em 2018 a possibilidade das surpresas. Os governadores eleitos em Minas Gerais e Santa Catarina, bolsonaristas ontem e em boa medida ainda hoje, são exemplos de campanhas que saíram de uma posição de baixas chances para a vitória. Em 2022, não se deve esperar novo fenômeno do tipo. Ao contrário, Bolsonaro precisará alimentar e manter as alianças já estabelecidas, além de construir novas. O episódio João Doria, bolsonarista em outubro de 2018 e oposicionista hoje, mostra como um governador em exercício age diferentemente de um azarão.
Destaque-se que as alianças regionais não poderão esperar a melhoria da economia e da pandemia no segundo semestre de 2022, precisam ser definidas antes. Neste caso, o presidente precisa mostrar-se competitivo e forte ainda no final deste ano e início do próximo. O calendário exige que Bolsonaro antecipe boas notícias aos seus futuros aliados.
Se Bolsonaro não entender os limites do sectarismo e não se mostrar competitivo em alguns meses, uma campanha competitiva em 2022 dependerá da força isolada do presidente, atraindo apoios ad hoc, o que pode acontecer ou não.
A CPI e os movimentos de rua
Economia, pandemia e palanques regionais são fenômenos que evoluirão com alguma previsibilidade nos próximos 15 meses.
Contudo, os desdobramentos da CPI e os movimentos contestatórios que estão crescendo nas ruas podem ser disruptivos. Neles residem as dúvidas e incertezas. O avanço da CPI conta com dois elementos importantes: a atenção intensa da grande imprensa e a composição majoritariamente oposicionista do colegiado. O desgaste para o governo depende então do “combustível”, os mal feitos do Executivo, e da capacidade de investigação do corpo técnico da comissão. No momento parece que o estoque identificado de mal feitos tem crescido, o que tem levado também a CPI a robustecer sua retaguarda técnica.
Quanto aos movimentos de rua , a oposição parece ter um caminho pavimentado para frequentes ações contestatórias. Contudo, o impacto delas dependerá da expansão tanto do público presente quanto da natureza das pautas.
Resta claro que a expansão do público só virá da adesão de eleitores simpatizantes ao centro e à direita, o que exigirá a restrição da pauta a poucos pontos unificadores e ao estímulo vindo de canais para além da política tradicional. Em outras palavras, uma situação de comoção geral como a vista em 2013 e no impeachment da presidente Dilma.
Se consideradas as campanhas à reeleição desde 1998, a de 2022 traz como novidades um opositor bem postado nas pesquisas com bastante antecedência, Lula, uma recessão conjugada com pandemia de natureza inédita, e uma certa aversão do presidente de plantão em fazer política eleitoral tradicional.
A turbulência das probabilidades ainda não cedeu lugar à quietude das certezas.
Termômetro
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Chapa quente
Dois anos depois de fazer a promessa, o presidente Jair Bolsonaro indicou um ministro “tremendamente evangélico” para o Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado-geral da União, André Mendonça. A indicação deve ajudar a reforçar o apoio que Bolsonaro tem junto a esse grupo religioso, que vinha sendo assediado por seu adversário em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
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Geladeira
Há, porém, problemas que a indicação de André Mendonça precisa contornar no campo político. O nome precisa ser referendado pelo Senado e há um grupo de parlamentares que desconfia dele e acha que ele se associa a campo que tem preconceito à atividade política. Alguns senadores cogitam mesmo deixar a indicação em “banho maria”. É um problema a ser contornado. De acordo com fontes ligadas ao presidente, Bolsonaro não tem um plano B para o STF.
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O Farol Político é produzido pelos cientistas políticos e economistas André Sathler e Ricardo de João Braga e pelo jornalista Sylvio Costa. Edição: Edson Sardinha. Design: Vinícius Souza.
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