As eleições de 2024 em Porto Velho apresentaram características peculiares. Na capital do estado mais bolsonarista da federação, a guinada conservadora, um dos principais elementos da eleição portovelhense, veio acompanhada do antipetismo que se recusa a ceder e se perpetua na cidade pelo menos desde 2016. A forte influência evangélica fez com que Léo Moraes (Podemos) e Mariana Carvalho (União Brasil), candidatos que disputaram o segundo turno, optassem por pastores para ocupar o lugar de vice nas respectivas chapas. Até mesmo o candidato da frente de esquerda, Célio Lopes (PDT), tinha como vice também uma pastora.
O tema do meio ambiente como antipauta eleitoral também consistiu numa das principais características da disputa local. A temática ambiental foi completamente negligenciada por candidatos e legendas partidárias, mesmo diante de uma situação de emergência na qual a cidade esteve sob intensa fumaça durante praticamente todo o primeiro turno. Somente Samuel Costa (Rede) abordou o assunto com a devida preocupação que o tema merece. Entretanto, o candidato da Rede atingiu apenas 1% dos votos.
Leia também
As peculiaridades da eleição portovelhense de 2024 não param por aí. Ainda no primeiro turno, a coligação da ex-deputada federal Mariana Carvalho, que terminou o primeieo round com quase 20 pontos percentuais à frente daquele que seria o vencedor do segundo turno, Léo Moraes, conseguiu o feito de eleger todos os 23 vereadores da Câmara Municipal de Porto Velho. Apoiada pelo governador, Coronel Marcos Rocha (União), pelo prefeito Hildon Chaves (PSDB), pelo senador Marcos Rogério (PL), por todos os vereadores que concorriam à reeleição, e por uma coligação de partidos conservadores formada por 12 legendas, Mariana parecia “nadar de braçada” rumo à vitória.
Contudo, uma sucessão de equívocos desde o final do primeiro turno contribuiu diretamente para a virada histórica do candidato do Podemos, o também ex-deputado federal Léo Moraes. Ao final da eleição, Moraes conseguiu uma vitória épica, sob o slogan “Coligado com o povo”, e praticamente sozinho venceu o establishment da política estadual. Se no primeiro momento da eleição, que poderia ter sido decidida já em primeiro turno, os recursos tradicionais de campanha exerceram notória influência, com a candidata do União Brasil, embora em queda, obtendo larga vantagem, no segundo turno quando o acesso a esses recursos ocorreram em maiores condições de paridade, parte significativa do eleitorado passou a olhar com desconfiança uma aliança tão extensa em torno de uma candidatura.
Para a ciência política, outro ponto intrigante se refere à eleição dos vereadores e à questão do efeito coattail. Apoiada por toda a composição atual da atual legislatura da Câmara Municipal de Porto Velho que disputava a reeleição, como explicitado anteriormente, a coligação de Mariana Carvalho, mesmo diante de um quadro de um terço de renovação no parlamento municipal, assegurou os 23 assentos da casa. O coattail effect pode ser compreendido como a capacidade de um candidato transferir considerável força eleitoral a seus aliados. No caso específico aqui abordado, a influência de um candidato a prefeito forte para o sucesso dos candidatos a vereador apoiados por ele.
Em conversa telefônica com os cientistas políticos Vítor Vasquez e Rodrigo Karolczak, ambos concordavam, no caso da eleição portovelhense, com um quadro de “frustração” do efeito coattail, situação em que, embora a votação expressiva de Mariana Carvalho muito possivelmente possa ter sido decisiva para o êxito da eleição da totalidade dos vereadores da coligação liderada pelo União Brasil, o fracasso da candidata no segundo turno “frustrou”, de forma surpreendente, o efeito coattail.
Com o término da eleição, o desafio imediato do prefeito eleito Léo Moraes é a formação de uma maioria na Câmara Municipal apta a governar. Ao contrário do atual mandatário, Hildon Chaves, que governa sem oposição, Léo terá que construir alianças para a obtenção de uma coalizão majoritária, um desafio, tendo em vista que seu triunfo histórico nas urnas não garantiu a eleição de vereadores.
Não obstante, em se tratando de um político habilidoso e experiente, embora jovem, aliado ao fato de que a mediana ideológica da nova composição da Câmara Municipal é conservadora, o novo prefeito de Porto Velho, um político de centro-direita, moderado, muito possivelmente logrará êxito na formação de sua coalizão governista. Resta saber como se comportará a oposição, já que o grupo bolsonarista derrotado nas urnas assegurou que desempenhará atento o seu papel de opositor durante o mandato do Podemos à frente de Porto Velho. Seguramente, retornaremos ao tema numa próxima oportunidade.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.