A cantora Daniela Mercury respondeu, nesta terça-feira (5), ao presidente Jair Bolsonaro pelas críticas que ele fez à música Proibido o Carnaval (leia a íntegra mais abaixo), que condena a censura e defende a liberdade de expressão. Em carta pública dirigida ao presidente, a cantora baiana cobra respeito, diz que ele não compreendeu a canção e que está disposta a encontrá-lo em Brasília para explicar como funciona a Lei Rouanet. Também pede um basta às notícias falsas criadas em torno da lei de incentivo à cultura durante a campanha presidencial.
Por causa de Proibido o Carnaval, Bolsonaro fez alusão a Daniela e a Caetano Veloso, seu parceiro na canção, chamando-os – sem citar seus nomes – de “dois famosos” que queriam acusar o governo de “querer acabar com o Carnaval”. “A verdade é outra: esse tipo de ‘artista’ não mais se locupletará da Lei Rouanet”, afirmou o presidente no Twitter.
Bolsonaro ainda publicou em sua conta no Twitter um vídeo em que um cantor não identificado rebate as críticas feitas por Daniela e Caetano. A marchinha em defesa do presidente remete ao jingle de campanha de José Maria Eymael, ex-candidato ao Palácio do Planalto.
Dois “famosos” acusam o Governo Jair Bolsonaro de querer acabar com o Carnaval. A verdade é outra: esse tipo de “artista” não mais se locupletará da Lei Rouanet. ASSISTA: pic.twitter.com/37XQEvyBWt
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 5 de março de 2019
O clipe de Proibido o Carnaval foi lançado há cerca de um mês e faz referência à declaração controversa da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, de que meninos deveriam vestir azul e meninas, rosa. Os dois artistas falam das duas cores e tratam de liberdade sexual em trechos como “Abra a porta desse armário/ Que não tem censura pra me segurar” e “Minh’alma não tem roupinha/ Minh’alma não tem caixinha/ Minh’alma só tem asinha”.
Na nota dirigida a Bolsonaro, Daniela Mercury diz que há uma distorção muito grave sobre a Lei Rouanet no país. “Parece que ela ainda não foi compreendida. Por isso, me coloco à disposição para explicar como funciona o passo a passo dessa lei. E aproveito para tranquilizá-lo. Usei muito pouco de verba pública de impostos da lei Rouanet em cada projeto que tive aprovado”, respondeu a artista.
“Essa fake news sobre a lei Rouanet criada na eleição não pode continuar sendo usada para desmerecer o trabalho sofrido e suado dos artistas brasileiros. A arte, além de tudo, tem um valor imensurável e o retorno do nosso trabalho para a sociedade, para o turismo, pra a economia é gigante”, ressaltou ela.
Veja o videoclipe da música que gerou a polêmica e mais abaixo a íntegra da nota de Daniela:
“Mereço respeito pelo que sou, pelo que represento e pelo que faço constantemente pela sociedade brasileira em diversas causas, não apenas na arte. Reitero aqui a minha disposição de conversar com o senhor e com sua equipe sobre a lei Rouanet. Se assim desejar, irei com minha esposa, que é também minha empresária, até Brasília para conversar com o senhor sobre o assunto. Abraços e feliz carnaval”, escreve Daniela.
Leia a íntegra:
“Sr. Presidente, sinto muito que não tenha compreendido a canção ‘Proibido o Carnaval’, que defende a liberdade de expressão e é claramente contra a censura. Mas acho que isso nem vem ao caso aqui porque percebo que há uma distorção muito grave sobre a lei Rouanet. Parece que ela ainda não foi compreendida. Por isso, me coloco à disposição para explicar como funciona o passo a passo dessa lei. E aproveito para tranquilizá-lo. Usei muito pouco de verba pública de impostos da lei Rouanet em cada projeto que tive aprovado. Para que o senhor entenda, cada desfile de trio sem cordas (sem cobrança de ingresso, de graça para os foliões), custa cerca de 400 mil reais. Em 20 anos, Eu tive apoio (TUDO DENTRO DA LEI) de cerca de um milhão de reais de verba de impostos da lei rouanet. 1 milhão em 20 anos, ressalto!!! Dá cerca de 50 mil reais por ano, se assim dividirmos. Considere, sr. Presidente, que eu comecei o movimento de trios sem cordas, de graça para o público, há 21 anos. Eles custaram, por baixo, cerca de 10 milhões de reais! Se tive cerca de 1 milhão de verba pública nesses 20 anos, isso significa que o restante (9 milhões) paguei ou do MEU BOLSO diretamente ou com o patrocínio de empresas privadas. Em 35 anos de carreira, fiz muitas apresentações de graça no Brasil, bancadas do meu bolso. Essa fake news sobre a lei Rouanet criada na eleição não pode continuar sendo usada para desmerecer o trabalho sofrido e suado dos artistas brasileiros. A arte, além de tudo, tem um valor imensurável e o retorno do nosso trabalho para a sociedade, para o turismo, pra a economia é gigante. Para que compreenda melhor, apenas com 1 ano do sucesso ‘O Canto da Cidade’ (uma música “famosa” minha), Salvador ganhou 500 mil turistas a mais. Mais um exemplo: eu tenho cerca de 50 milhões de reais de retorno de mídia espontânea em cada carnaval de Salvador. Esse retorno, a partir de minhas apresentações (6 horas por dia cantando e dançando sem parar nem para comer – somadas a mais 5 horas prévias de preparação – e mais 2 horas pós apresentação para recuperação da voz e do corpo – durante 6 dias seguidos) traz uma valorização gigantesca para a imagem da cidade, do Estado e do país. Tudo isso estimula o turismo e turbina a economia. Tenho visto que estimular o turismo é um objetivo do senhor. Não se engane: trabalhamos muito. Quando se ataca a arte de um país, quando se ataca os “artistas” brasileiros, se ataca a alma do povo desse país. Mereço respeito pelo que sou, pelo que represento e pelo que faço constantemente pela sociedade brasileira em diversas causas, não apenas na arte. Reitero aqui a minha disposição de conversar com o senhor e com sua equipe sobre a lei Rouanet. Se assim desejar, irei com minha esposa, que é também minha empresária, até Brasília para conversar com o senhor sobre o assunto. Abraços e feliz carnaval.”
Daniela Mercury Verçosa