Lula anunciou que pensa em cumprir uma de suas promessas de campanha e criar o Ministério da Segurança Pública. Voltou ao assunto dez meses após a posse, na última terça-feira, dia seguinte aos ataques de milicianos, que queimaram 35 ônibus e um trem no Rio de Janeiro. Seu partido, o PT, apoia. Seu ministro da Justiça, Flávio Dino, é contra. Se for adiante, o 39º ministério corre o risco de nascer sem ter exatamente ideia do que fazer.
O presidente ainda acha que a segurança pública é um problema estadual, mas sabe que precisa agir. As cenas de pessoas correndo e se atropelando para deixar os ônibus antes que pegassem fogo são eloquentes. Vão além dos tiroteios nas comunidades que parecem ter sido incorporadas à paisagem carioca. O crime no Rio mudou de patamar — assim como na Bahia, no Amazonas, em Pernambuco e outros estados. A “Cidade Maravilhosa” é apenas sua vitrine mais exuberante.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira mostra que a violência é o principal problema do país para 10% dos brasileiros. “Questões sociais” preocupam 21%. Quando tiroteios fecham escolas e impedem a população de ir e vir, esses problemas se confundem e se agravam.
O senador petista Humberto Costa defendeu a nova pasta e listou providências que o governo estava tomando para enfrentar o que chamou de “espetáculo de horror” no Rio. O senador argumentou que as milícias se expandiram no Rio com “a conivência e o apoio de agentes públicos, que lhes pediam votos e influência em redutos eleitorais em troca de cobertura e proteção”. O ministro Flávio Dino fora na mesma linha em audiência na Câmara: “As milícias foram incentivadas por políticos e protegidas por políticos.”
Não citaram Jair Bolsonaro, mas fizeram claras referências ao ex-presidente. “Não sou amigo de miliciano, não sou vizinho de miliciano, não empreguei no meu gabinete filho de miliciano, esposa de miliciano e, portanto, não tenho nenhuma relação com o crime organizado no Rio de Janeiro”, disse o ministro. “Todos sabemos que expoentes da política nacional não só blindaram publicamente e defenderam a legalização —vejam bem, a legalização — das milícias do Rio, como homenagearam com altas condecorações públicas alguns dos maiores milicianos do país, que também visitaram na cadeia, assim como empregaram em seus gabinetes, à custa do Erário, seus parentes e operadores próximos”, discursou o senador.
Na cena final de “Tropa de Elite 2”, filme de 2010, a câmera sobrevoa a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos três Poderes. Então, na voz do ator Wagner Moura, o protagonista, “Capitão Nascimento”, implacável policial, resume sua impotência diante do crime organizado: “O ‘sistema’ é muito maior do que eu pensava. O ‘sistema’ é f…”
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