O novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu simbolicamente o cargo das mãos de seu antecessor, o ex-chanceler Carlos Alberto França, em cerimônia na noite dessa segunda-feira (3) no Palácio do Itamaraty. Em seu discurso, Vieira criticou a “visão ideológica limitante” do governo Bolsonaro que alijou o Brasil do cenário internacional e provocou “retrocessos sem precedentes” na área.
Segundo ele, o país terá de atravessar um dos momentos mais conturbados no cenário internacional, com uma crise de governança global sem precedentes. “A boa notícia, como indica o presidente Lula, é que o Brasil está de volta”, ressaltou. “A política externa voltará a traduzir em ações a visão de um país generoso, com mais justiça social”, acrescentou.
Um dos primeiros atos da nova gestão foi conceder as credenciais para Sebastián Depolo Cabrera, novo embaixador do Chile no Brasil. A indicação dele para o posto, feita pelo presidente de esquerda Gustavo Boric, estava engavetada por ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro desde março. O presidente Lula recebeu mais de dez chefes de Estado e governo ao longo dessa segunda. Entre eles, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, que confirmou a ida do colega brasileiro a Buenos Aires para participar da Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac), que está sob presidência temporária argentina, nos dias 23 e 24.
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Ainda no discurso, Vieira defendeu que o Brasil reassuma a posição de liderança entre os países de desenvolvimento e destacou a importância das relações com a Argentina e os países que fazem parte do Mercosul e a necessidade de se fortalecer a União de Nações Sul-Americanas (Unasul). “Nossa ideologia será da integração”, afirmou. “O abandono da América Latina e do Caribe foi o que causou maiores prejuízos”, acrescentou.
Mauro Vieira, que já havia sido chanceler no governo Dilma Rousseff, disse que o Brasil fará de tudo para integrar, de maneira permanente, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
“O Brasil e os demais países emergentes querem ter vez e voz nas decisões internacionais”, ressaltou. “Colaboraremos no Conselho da Assembleia-Geral da ONU para implementação da agenda de mulheres, paz e segurança, além de políticas de desarmamento e proibição de armas nucleares”, reforçou.
Segundo o chanceler, o Brasil buscará novos acordos bilaterais e de fortalecimento do comércio internacional, “uma política externa verdadeiramente universalista”, estabelecendo laços mais fortes com países africanos para tratar de desafios comuns. “Seguiremos atentos à importância de fortalecer as instituições democráticas, sempre com respeito à soberania dos países”, declarou.
O novo ministro afirmou que o Brasil deve manter relações “em pé de igualdade” com os Estados Unidos e reassumir a posição de neutralidade quanto ao conflito entre Israel e Palestina.
Mauro Vieira assumiu o compromisso de reforçar as políticas de inclusão no Itamaraty. Destacou a importância de a embaixadora Maria Laura da Rocha ser a primeira mulher a ser nomeada secretária-geral do Ministério das Relações Internacionais. “Buscaremos recrutar mais mulheres, negros e indígenas. Ampliaremos sua presença em cargos de liderança. Bolsas de ação afirmativa para negros.”
Assista à íntegra do pronunciamento de Mauro Vieira ao assumir o ministério: