O candidato a vice na chapa do presidente Jair Bolsonaro (PL), general Walter Braga Netto, recebeu R$ 926 mil de salários em dois meses de 2020. Em um único mês, só de férias, o general recebeu R$ 120 mil. Outros militares do governo, como Luiz Eduardo Ramos, atual chefe da Secretaria-Geral da Presidência, e Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia, também receberam valores expressivos no mesmo período. Os dados são de levantamento feito pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO). Bento Albuquerque chegou a receber mais de R$ 1 milhão.
Junto com o também deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP), Vaz apresentou nesta manhã requerimento ao ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, pedindo explicações sobre o pagamento das remunerações extraordinárias superiores a R$ 1 milhão, além do salário mensal, a militares da ativa, inativos e pensionistas no ano de 2020. O deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP) também assina o requerimento.
Veja as listas (arraste a barra para ver os dados na íntegra):
“É estarrecedor que, em um ano tão difícil para o nosso país como foi 2020, no auge da pandemia da covid-19, quando o governo limitou o pagamento de auxílio emergencial a quem estava passando fome, um grupo de privilegiados tenha recebido valores milionários além do salário. É um tapa na cara do povo brasileiro”, afirma Elias Vaz. Os dados foram extraídos do Portal da Transparência.
Segundo relatório produzido pelo deputado, o general Walter Braga Netto recebeu, em março e junho de 2020, além do salário mensal, o valor bruto somado de R$ 925.950,40. O então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, recebeu em maio e junho de 2020, além do salário, a soma de R$ 1.037.015,42, valor bruto.
Já o pagamento de valores extraordinários ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, ocorreu nos meses de julho, agosto e setembro de 2020. A soma, além do salário mensal, é de R$ 731.879,43, valor bruto.
Os deputados querem o detalhamento dos pagamentos extraordinários, feitos em quatro frentes: remuneração básica bruta, férias, outras remunerações eventuais e verbas indenizatórias registradas no sistema de pessoal militar. As parcelas foram pagas de duas formas ao longo de 2020: pagamentos integrais em um único mês ou divididos em duas ou três parcelas.
De acordo com Elias Vaz, há casos de militares que chegaram a receber, além do salário normal, R$ 721 mil de remuneração básica bruta no mesmo mês e outros que receberam R$ 684 mil de férias no mês. Na categoria de “outras remunerações eventuais”, os benefícios extras por militar chegam a R$ 710 mil em um único mês. Também há militares que receberam no mês até R$ 391 mil de “verbas indenizatórias registradas em sistemas de pessoal militar”.
“A nossa preocupação é que Bolsonaro esteja utilizando esses benefícios como instrumento de cooptação de alguns setores das Forças Armadas, representando uma ameaça à democracia. Estamos atentos a qualquer ação nesse sentido”, alega o deputado. Entre os casos identificados pelo parlamentar, aparece o de uma pensionista que recebeu o valor bruto de R$ 1.560.647,10, além do salário mensal no mês de janeiro de 2020).
Um segundo-tenente reformado da Aeronáutica, José Paulo Delponte Pereira, que recebeu em fevereiro de 2020, além do salário, mais R$ 1.432.376,70 (valor bruto). O marechal-do-ar reformado da Aeronáutica, Juniti Saito, teve pagamento extra no mês de abril de 2020 de R$ 1.401.936,58 (valor bruto). A Marinha contesta o valor divulgado pelo próprio governo e diz que o correto é R$ 717 mil.
Elias Vaz está realizando o levantamento na folha de pagamento das Forças Armadas referente a 2021.
Os altos valores pagos aos militares e pensionistas das Forças Armadas estão ligados a uma mudança nas regras para a aposentadoria de militares, proposta por Bolsonaro, permitindo, entre outros pontos, que o benefício pago saltasse de quatro para oito vezes o valor do soldo. Segundo O Estado de S. Paulo, o gasto com os salários aumentou de R$ 75 bilhões em 2019 para R$ 86 bilhões.