O ex-presidente Jair Bolsonaro depõe nesta quarta-feira, às 14h30, na sede da Polícia Federal em Brasília, a respeito das joias enviadas a ele por autoridades sauditas. A Polícia Federal reforçou a segurança no local, afixando grades de proteção, para conter a aproximação de militantes bolsonaristas. O depoimento é realizado no mesmo dia em que Bolsonaro é alvo de nova denúncia. De acordo com o portal UOL, o ex-presidente gastou R$ 754 mil do cartão corporativo com o pagamento de ao menos 21.447 lanches e 5.075 refeições em viagens de campanha eleitoral do ano passado.
A reportagem informa que os lanches não foram comprados para alimentar apenas a equipe de segurança e assessores do presidente-candidato. Mas também centenas de kits-lanche destinados a militares e policiais escalados para dar apoio de segurança a motociatas, comícios, festas de peão e cultos religiosos. Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que a prática é irregular.
Os dados publicados pelo UOL foram obtidos pela ONG Fiquem Sabendo por meio da Lei de Acesso à Informação. Segundo a reportagem, em outubro do ano passado, o governo Bolsonaro editou uma portaria que autoriza a solicitação de “alimentação, quando necessária, para os integrantes de apoio local”. Mas com uma condição: “desde que os indicados não estejam recebendo diárias pelos órgãos ou entidades a que pertençam”. A decisão foi tomada em plena campanha pela reeleição de Bolsonaro.
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A nova denúncia é mais um complicador no caminho do ex-presidente. Além de Bolsonaro, também deve depor à PF nesta quarta-feira o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente. A Polícia Federal ainda vai ouvir o assessor de segurança Marcelo Câmara e o ex-chefe da Receita Federal Julio Cesar Vieira Gomes.
Bolsonaro entregou o terceiro kit de joias nessa terça-feira, em uma agência da Caixa Econômica Federal em Brasília, atendendo um pedido do Tribunal de Contas da União (TCU).
O kit entregue é composto por um relógio Rolex, uma caneta Chopard, abotoaduras, anel e uma masbaha — espécie de rosário para a religião islâmica. Bolsonaro teria recebido a caixa após um almoço com o rei saudita Salman Bin Abdulaziz Al Saud, em outubro de 2019. A estimativa é que os itens somam mais de R$ 500 mil e ficaram com o ex-presidente mesmo após o fim de seu mandato.
Um dos outros presentes, estimado em R$ 400 mil, entrou no país sem passar pela alfândega e foi incorporado ao acervo do ex-presidente, em novembro do ano passado.
As joias estavam sob posse da comitiva do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em outubro de 2021. No dia 24 de março, a defesa de Bolsonaro atendeu a determinação do TCU e devolveu os presentes.
A comitiva também tentou entrar no país com um conjunto de joias avaliado em R$ 16,5 milhões, que seriam destinadas a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Os itens foram apreendidos pela Receita Federal após um assessor do ministério tentar entrar no país sem declarar os itens. Bolsonaro tentou reaver os itens diversas vezes. Ele nega ter cometido ilegalidade.
A relação entre Bolsonaro e o governo da Arábia Saudita, uma das ditaduras mais extremistas do planeta, era próxima desde o início de sua gestão Em outubro de 2019, o então presidente brasileiro participou de uma conferência conhecida como “Davos no Deserto”, em Riad. Na ocasião, o brasileiro disse ter “certa afinidade” com o líder saudita, o príncipe Mohammed bin Salman, acusado de graves violações de direitos humanos.
“O Brasil já deu certo. E a aproximação com os senhores, em especial, aqui, a Arábia Saudita… A forma como o príncipe herdeiro tem me tratado, e eu também no tocante a ele. Como se fôssemos velhos conhecidos ou até mesmo irmãos. Isso me orgulha”, declarou Bolsonaro.
Relatório produzido pelo governo dos Estados Unidos em 2021 apontou Salman como responsável pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018, na Turquia. Segundo o documento, ele aprovou a realização de uma operação em Istambul para capturar ou matar o jornalista na embaixada saudita.