O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta sexta-feira (20), ao bilionário Elon Musk, em Porto Feliz (SP), que conta com sua colaboração para que “a Amazônia seja conhecida por todos” e para combater, no Brasil e no exterior, a propagação de “mentiras” sobre a devastação na região.
“Nós pretendemos, precisamos e contamos com Elon Musk para que a Amazônia seja conhecida por todos no Brasil e no mundo, a exuberância dessa região e como ela é preservada”, declarou o presidente ao megaempresário sul-africano naturalizado norte-americano em um hotel no interior paulista. Além de autoridades federais, um seleto grupo de empresários brasileiros também participa do encontro.
“A Amazônia para nós é muito importante. Sempre quando a gente fala em João 8:32 [passagem bíblica], sobre conhecer a verdade e ela nos libertar, nós defendemos, precisamos e contamos com o Elon Musk, para que a Amazônia seja conhecida no mundo todo”, disse o presidente, contestando números oficiais que mostram a escalada do desmatamento, da mineração e da exploração ilegal de terras na Amazônia durante o seu governo.
Bolsonaro afirmou que o bilionário poderia “estar preocupado consigo próprio”, mas que decidiu, em gesto de altruísmo, viajar o mundo em defesa da “liberdade”.
“O mais importante da presença dele é algo que é imaterial. Hoje em dia poderíamos chamá-lo de mito da liberdade. É aquilo que nos fará falta para qualquer coisa que porventura possamos pensar para o futuro”, iniciou. “O exemplo que ele nos deu há poucos dias, quando se anunciou a compra do Twitter, para nós aqui foi como um sopro de esperança. O mundo todo passa por pessoas que tem vontade de roubar essa liberdade de nós.” As negociações para a concretização do negócio, porém, têm se arrastado nas últimas semanas.
Em mensagem publicada no Twitter, Elon Musk disse que estava muito animado por lançar um plano de conectividade rural e monitoramento da Amazônia. “Super animado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink para 19.000 escolas desconectadas em áreas rurais e monitoramento ambiental da Amazônia!”, escreveu Musk.
Confira o tuíte:
Super excited to be in Brazil for launch of Starlink for 19,000 unconnected schools in rural areas & environmental monitoring of Amazon! 🇧🇷 🌳 🛰 ♥️
— Elon Musk (@elonmusk) May 20, 2022
Elon Musk desembarcou no Brasil em meio à acusação de abuso sexual contra uma aeromoça, supostamente ocorrida há seis anos. Segundo o site Insider, ele teria desembolsado US$ 250 mil para abafar o caso para que ela retirasse a queixa. Ele nega a acusação. A vinda do empresário ao Brasil foi costurada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, com quem o bilionário se encontrou em novembro do ano passado nos Estados Unidos.
Uma das novas empresas de Musk, a Starlink deve operar satélites na órbita baixa no Brasil. Em janeiro, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), com intermediação do governo Bolsonaro, atendeu ao pedido da Starlink para dar início à exploração comercial do seu sistema de satélites de órbita não estacionária no país. O projeto promete levar internet banda larga, sobretudo, a áreas de difícil acesso.
De acordo com o ministro das Comunicações, o governo federal quer utilizar satélites de órbita baixa para levar internet para áreas rurais e lugares remotos. E também para ajudar no controle de incêndios e desmatamentos ilegais na Amazônia. A Starlink, que faz parte do SpaceX, envia informações por meio do vácuo do espaço, onde se desloca mais rapidamente do que em cabos de fibra óptica, o que a torna, segundo a própria empresa, mais acessível a mais pessoas e locais.
Para a ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), a parceria não pode ser boa apenas para o bilionário, mas precisa deixar frutos no Brasil.
“Vejo que o governo Bolsonaro pretende abrir os céus do país para Musk criar raízes por aqui. Parcerias, especialmente tecnológicas, são bem-vindas, desde que sejam uma via de mão dupla, com transferência de tecnologia e reforçando nossos programas já existentes”, pontuou Perpétua.
“Naturalmente o objetivo de Musk é comercial. Quer abocanhar esse gigantesco mercado que é o Brasil, com grande déficit de regulação e, óbvio, às custas de subsídios com dinheiro público. A Amazônia e nós, os amazônidas, sempre somos a justificativa. Somos a ‘vitrine’, a cobiça “, ressaltou a deputada.
Para ela, o governo brasileiro precisa esclarecer por que abandonou o Programa Espacial Brasileiro (PEB). “Pergunto: por que os recursos para bancar este acordo com Musk não são direcionados para o nosso PEB? Inclusive com parceria, porém, sem entreguismo”, questionou.