É claro que o casamento do ex-presidente Lula não passaria despercebido pela imprensa brasileira que obrigou muitas editorias de política fazerem intercâmbio nas editorias de fofoca.
Notícias divulgam que o casório terá entre suas bebidas um vinho cujo valor está entre R$ 60 e R$ 80 como se fossem garrafas de Château Petrus (um dos vinhos mais caros do mundo), em outras notas, como a “perversidade” dos noivos em não disponibilizarem uma lista de presentes para os convidados.
Há um certo cinismo nas notícias sobre o evento – que foi pago com recursos próprios do ex-presidente e sua agora esposa – se Lula fizesse um evento mais simples e modesto, seria taxado como brega, jeca e sem modos.
Não é exagero! Veja esse texto da escritora Danuza Leão que, em 2004, chamou a festa junina do ex-presidente com sua então esposa, Marisa Letícia, de todos os adjetivos possíveis onde ela faz questão de frisar o “autoritarismo” do então presidente por ele “obrigar os convidados e suas respectivas esposas a vestir o traje típico, e ainda pedir que levassem um pratinho de doces ou salgados”.
Uma maldade digna de criminosos como Pinochet ou os generais facínoras de 1964.
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O rigor jornalístico certamente deu lugar para a militância descabida e disfarçada de imparcialidade, quando no fundo, é o mais puro suco de raiva de pobre. É raiva do ex-torneiro mecânico. Hidrofobia!
PublicidadeNão difere muito das manchetes indignadas de quando Lula assistiu a um DVD pirata do filme Dois Filhos de Francisco, que inclusive, terminou com uma operação da polícia federal prendendo o homem que vendeu tal cópia para um dos assessores presidenciais. Ou então quando o Brasil “parou” por conta de uma tapioca comprada acidentalmente por Orlando Silva no carão corporativo.
Curiosidade: com o dinheiro que Bolsonaro já gastou no cartão corporativo, daria para comprar mais de 1.5 MILHÃO de tapiocas. Isso com o valor da tapioca já corrigido!
Embora esse “fiscalismo” no entorno de Lula seja algo histórico, há uma explicação contemporânea para o alvoroço atual: a antecipação do segundo turno.
Com o naufrágio da terceira via, que era um grupo composto majoritariamente por ex-membros ou apoiadores de Jair Bolsonaro, muitos eleitores (leia-se jornalistas e editores) se tornaram “órfãos” que decidiram voltar para as suas origens.
É o fenômeno que eu chamo de bolsonarismo diet com limão. Disfarçado de imparcialidade, não passa de uma militância política ferrenha com o objetivo de induzir o leitor ao erro. Não serão feitas declarações veladas de voto ou apoio ao atual presidente do país. Mas será usada toda a artilharia possível contra os seus adversários.
Vide Deltan Dallagnol e Sergio Moro que vivem a tentar enganar o eleitorado brasileiro com suas fantasias de políticos moderados, mas que de forma costumaz fazem ataques aos opositores do presidente. Atitude que se acentuou ainda mais com a saída de Moro da disputa presidencial.
Eu acreditava que esse movimento ocorreria de forma mais acentuada a partir do dia 2 de outubro. Como os eleitores estão adiantando as suas escolhas do segundo turno, naturalmente algumas redações e editores irão optar por fazer o mesmo.
Cobra-se de Lula uma vida de carestias enquanto Bolsonaro, seu principal oponente, faz campanha eleitoral antecipada com dinheiro público e que já torrou mais de R$ 30 milhões com o cartão corporativo em apenas um mandato.
Um presidente que há uma semana estava passeando de jet ski com dinheiro público ao lado dos abastados de Brasília, tudo isso enquanto o brasileiro comum se vira com uma inflação que está obliterando o seu poder de compra.
Até hoje ninguém sabe como um dos filhos do presidente é dono de uma suntuosa mansão (avaliada em mais de R$ 9 milhões) em Brasília, tampouco o motivo do afastamento do delegado da polícia federal que investigava uma suspeita de tráfico de influência de outro filho do presidente.
Situações que aparecem pontualmente nas redes, sites e jornais, mas que não tomam o noticiário com a mesma prodigalidade que a vida privada do ex-presidente Lula e que no fim servem apenas para turbinar os opositores do ex-presidente.
E não deu em outra, depois de seguidas notas e notícias, no mínimo, ignóbeis, durante a live desta quinta-feira (19), Bolsonaro vociferou contra o casamento do ex-presidente, do jeito que era esperado e declarou:
“Olha o casamento dele ontem. Queria saber se algum pobre foi convidado. Alguém do MST, do MTST, algum quilombola, alguém que no passado invadia terras. Pelo que eu to sabendo até agora não teve ninguém. Só teve gente boa lá. Ou seja, socialismo pra vocês, capitalismo pra mim, mas tudo bem” .
Entenderam como funciona o bolsonarismo diet nas redações? Já aprenderam que “uma escolha muito difícil” pega mal.
Agora a ideia é fazer uma cobertura hiperbólica e muitas vezes adjetivadas do Lula e enquanto resta apenas um cínico jornalismo declaratório – sem nenhum contraponto – sobre as barbaridades e estultices ditas pelo presidente ou seu ministro, Paulo Guedes.
Acha exagero? Bem, essa semana mesmo o fato de Lula poder ter dois palanques em Pernambuco, foi classificado como um “problema”, algo negativo para Lula. Algo que é corriqueiro e comum em disputas presidenciais.
Não faltam motivos para criticar Lula, inclusive por suas propostas ou a falta delas, agora, não há o menor cabimento para as críticas sobre que ele faz em sua intimidade ou por desejar celebrar seu casamento com recursos próprios, logo, privados.
Até mesmo a acusação sobre suposto uso político do casório me parece algo um pouco “emocionado”. Oras, temos um presidente usando estrutura do Estado brasileiro em campanha! E, embora eu não veja o tão alegado uso eleitoral do casamento, aí é uma questão entre Lula e Janja.
A militância petista transformaria o casamento ou qualquer outro evento em memes ou material de campanha com a anuência do Lula ou não.
Na verdade, a cobertura enfadonha acabou colocando a celebração no centro do debate eleitoral de uma maneira surrealmente desnecessária. Se há algum uso político exacerbado está em algumas redações.
Questionarei o Lula pela política e não pelo privado. Se ele quer beber vinho chileno, “Chevette”, vestir Prada ou roupa do Brás não me importa. O que mais me importa é o preço do coxão mole!
A militância do bolsonarismo diet com limão não é questão política, é questão de caráter.
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