O episódio de racismo sofrido pelo atleta de futebol Vinícius Jr, do Real Madrid, durante um jogo do campeonato espanhol La Liga no último domingo (21) resultou em uma onda de repúdio na esfera de poder no Brasil, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Tanto o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, quanto o presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Paulo Paim (PT-RS), avaliam que houve conivência das autoridades esportivas no caso, e cobram ações eficazes para que esse tipo de episódio não se repita.
Jogadores brasileiros de futebol sofrem com um histórico antigo de racismo por parte de torcedores dentro e fora do país. O caso de Vinícius Jr. ganhou notoriedade, mas sucedeu outros grandes episódios semelhantes, como em 2014, ano em que os jogadores Neymar e Daniel Alves sofreram insultos semelhantes na Espanha, e o goleiro Aranha passou pela mesma situação em um jogo contra o Grêmio, no Rio Grande do Sul.
Paulo Paim, em discurso na presidência da comissão, chamou atenção para o fato de este não se tratar de um caso isolado. Apenas no Brasil, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol recebeu 399 denúncias de racismo praticado dentro do esporte, 57 dessas apenas em 2022. O próprio Vinícius Jr já foi vítima de outros oito episódios de racismo em campo, todos em torneios de La Liga.
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“Inaceitável que situações como essa continuem acontecendo em pleno século 21. É preciso punição exemplar. (…) É responsabilidade das autoridades espanholas investigar e agir o mais rápido possível”, exigiu o senador.
Silvio Almeida também se posicionou de maneira firme. “Me parece que as autoridades espanholas, as organizações que tratam do futebol na Europa, outros clubes, a liga espanhola, os patrocinadores e parte da imprensa simplesmente se mostram coniventes com os atos racistas”, afirmou o ministro em coletiva de imprensa.
Ele chama atenção para o fato de as atitudes de torcedores em campo refletirem condutas vindas de fora do estádio. “Essa violência racista demonstra que existe um problema muito maior, que tende a se espalhar para muito além do campo, muito além do estádio. Trata-se de um problema político. (…) Ficamos imaginando como é tratada a comunidade brasileira, como são tratados outros negros e negras que estão na Europa, que estão na Espanha”, explicou.
PublicidadeSilvio Almeida convocou a autoridade diplomática espanhola para que expliquem como casos de racismo serão tratados a partir de então no país. Paulo Paim chama atenção para a necessidade de uma reforma no código penal espanhol, que não conta com um tipo penal para a injúria racial. Pela legislação local, o assunto é tratado como discurso de ódio.
Tanto o senador quanto o ministro ressaltam também a falta de interesse da Federação Internacional de Futebol (Fifa) em combater o racismo. “A Fifa, há muitos anos, vem se omitindo em tomar atitudes mais enérgicas e mais contundentes em relação a isso. E não é por falta de tecnologia, não é por falta de ciência sobre como se combate o racismo nessa linha institucional”, apontou Almeida.
Paulo Paim chamou atenção para o fato da Fifa possuir políticas de combate ao racismo em suas diretrizes, havendo a necessidade de dar cumprimento a elas. O presidente Lula também cobrou uma postura da federação. “Espero que a Fifa e outras entidades tomem providências, para não deixar que o racismo tome conta do futebol”, publicou em suas redes sociais.
Por parte de La Liga, seu presidente, Javier Tebas, se pronunciou no Instagram respondendo uma publicação de repúdio no perfil de Vinícius Jr, em que também acusava a entidade de conivência com o racismo. “Nem a Espanha nem a La Liga são racistas, é muito injusto dizer isso”, declarou. Tebas afirma que todos infratores foram denunciados ao Ministério Público espanhol, e que “não podemos permitir que seja manchada a imagem de uma competição que é acima de tudo um símbolo de união entre os povos (…) sendo o racismo uma caso extremamente específico que vamos erradicar”.
Gianni Infantino, presidente da Fifa, já se pronunciou em defesa de Vinicius Jr. “Eu quero deixar claro que não há lugar para o racismo ou qualquer forma de discriminação, seja no futebol ou na sociedade. Devemos parar de conversar e começar a agir”, declarou em coletiva de imprensa. O gestor esportivo anunciou um plano de cinco medidas que devem ser implementadas pela federação para combater o racismo nos estádios, incluindo o banimento de torcedores, parcerias com os ministérios locais e a abertura de ações judiciais contra torcedores racistas.