Os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) deram ontem, em depoimento à Polícia Federal, ao menos uma declaração que contradiz o presidente Jair Bolsonaro a respeito da reunião ministerial de 22 de abril, quando Sergio Moro diz ter sido pressionado a trocar o superintendente da PF no Rio.
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Em entrevista na rampa do Palácio do Planalto ontem, Bolsonaro disse que não usou em qualquer momento a palavra Polícia Federal durante a reunião. “Não existe no vídeo a palavra Polícia Federal, nem superintendência. Não existem essas palavras”, declarou.
Os dois ministros, no entanto, admitiram que o presidente fez referência à PF. Segundo eles, o presidente cobrou melhora nos relatórios de inteligência produzidos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), pelas Forças Armadas e pela Polícia Federal.
De acordo com Ramos, Bolsonaro disse que “para melhorar a qualidade dos relatórios, na condição de presidente da República, iria interferir em todos os ministérios para obter melhores resultados de cada ministro”. “Vocês precisam estar comigo”, disse Bolsonaro, conforme o ministro.
Segundo ele, o presidente citou como exemplo que, se estivesse insatisfeito com a sua segurança no Rio, poderia trocar até o ministro, momento em que, ainda de acordo com Ramos, ele olhou para Augusto Heleno.
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“Também foi dito pelo presidente Jair Bolsonaro, na mesma reunião do dia 22 de abril de 2020, que, a título de exemplo, se ele não estivesse satisfeito com sua segurança pessoal realizada no Rio de Janeiro, ele trocaria inicialmente o chefe da segurança e, não resolvendo, trocaria o ministro, e nesse momento, olhou em direção ao ministro Heleno”, continuou o ministro.
A segurança da família do presidente fica a cargo do GSI, de Augusto Heleno, e não do Ministério da Justiça, à época comandado pelo ex-juiz da Lava Jato.
O ministro do GSI declarou que Bolsonaro cobrou “de forma generalizada” todos os ministros da área de inteligência. “Tendo também reclamado da escassez de informações de inteligência que lhe eram repassadas para subsidiar suas decisões, fazendo decisões específicas sobre sua segurança pessoal, sobre a Abin, sobre a PF e sobre o Ministério da Defesa”, relatou Augusto Heleno.
O vídeo da reunião foi exibido nessa terça-feira pela Polícia Federal diante de integrantes da Procuradoria-Geral da República, integrantes do governo federal, da PF e advogados do ex-ministro da Justiça. A gravação faz parte do inquérito que apura as acusações feitas por Moro de interferência política do presidente na Polícia Federal.
Fontes que assistiram ao vídeo relataram que Bolsonaro usou o verbo “foder” ao reclamar do impacto de uma possível perseguição a seus familiares.
Conforme a Folha de S. Paulo, o presidente então disse que, antes disso, trocaria todos da “segurança” do Rio, o chefe da área e até o ministro. Na interpretação de quem assistiu ao vídeo, as palavras foram um recado a Moro. O presidente, de acordo com quem assistiu ao vídeo, diz que pretendia proteger sua família.
Bolsonaro afirmou, segundo pessoas que tiveram acesso à gravação, que não poderia ser “surpreendido” porque, de acordo com ele, a PF não repassava informações.
“A reunião ministerial sai muita coisa. Agora, não é para ser divulgado. A fita tinha que ser, inclusive, destruída após aproveitar imagens para divulgação, ser destruída. Não sei por que não foi. Eu poderia ter falado isso, mas jamais eu ia faltar com a verdade. Por isso resolvi entregar a fita. Se eu tivesse falado que foi destruída, iam fazer o quê? Nada. Não tinha o que falar”, disse Bolsonaro.
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