O mundo vive uma crise profunda dos paradigmas ideológicos. A ideia de esquerda, direita e centro, herdada da Revolução Francesa, como referência para a dinâmica do sistema político, ficou em xeque. No século 20, a luta pela hegemonia política se deu entre liberalismo, social-democracia e comunismo. Estávamos diante de uma sociedade claramente estratificada entre capital e trabalho, onde projetos antagônicos se chocavam na arena das decisões sociais. Ainda assim nenhum bloco era totalmente homogêneo.
O liberalismo nasceu nos países ocidentais a partir das revoluções industrial, francesa e americana, calcado na teoria dos clássicos Adam Smith, Ricardo, Stuart Mill, Locke, Tocqueville, entre outros. Já de imediato enfrentou a oposição do conservadorismo de Edmund Burke, como crítica interna dentro do campo capitalista. Mais tarde, Hayek e Friedman, lançaram as bases do neoliberalismo.
Advogavam o Estado mínimo, a primazia do mercado, eleições democráticas, liberdades individual e coletiva e o império da propriedade privada. O indivíduo seria o centro do processo social.
Diante das iniquidades sociais e das péssimas condições de vida do operariado no “capitalismo selvagem”, veio à tona o movimento socialista em defesa de uma sociedade mais justa e igualitária.
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Já na segunda metade do século 19 este campo político nasce marcado por dissensões internas. A vertente liderada por Marx e Engels, o anarquismo de Bakunin e o socialismo reformista de Lassale. A cisão desse bloco se consolidou a partir dos embates entre Lênin, Trotsky e Rosa Luxemburgo, de um lado, e Kautsky e Bernstein, de outro.
Levanto este histórico não por diletantismo teórico, e sim porque o embate ideológico se radicalizou no mundo de Trump, do Brexit e, no Brasil, de Bolsonaro. O laboratório das ciências políticas e sociais é a vida. E ela problematizou todos os três paradigmas fundamentais. O liberalismo foi confrontado pelo aumento das desigualdades, como demonstrou Thomas Piketty, e pelas duas grandes crises mundiais de 1929 e 2008.
A social-democracia mergulhou em profunda crise em função da insustentabilidade do avanço do Estado de Bem-Estar Social, diante de estrangulamentos fiscais graves. E o comunismo encontrou seu fim na dissolução da URSS e do leste europeu e na queda do muro de Berlim. Por isso, é difícil compreender a saga anticomunista que alguns promovem no Brasil. Ou alguém enxerga sua presença ameaçadora nas decadentes experiências da Venezuela e de Cuba, no capitalismo de Estado da China ou na caricatura representada pela Coreia do Norte?
Hoje, relativizando ao máximo os conceitos de direita, esquerda e centro, ser social-democrata no Brasil dos nossos dias é ser radicalmente democrático na política, fortemente liberalizante na economia e jogar o foco no combate às desigualdades sociais, colocando o arsenal de políticas públicas em favor de um país mais equânime e justo.
Esse é o nosso desafio!