Recentemente, o país foi imerso na trajetória política do ex-deputado federal Rubens Paiva, eleito em 1962 pelo PTB. A estreia do filme “Ainda Estou Aqui”, baseado no livro autobiográfico homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens, narra o desaparecimento e a morte brutal do parlamentar, nunca reconhecida oficialmente durante a ditadura militar. Antes de ser assassinado pelas Forças Armadas em 1971, Paiva viveu no autoexílio após o golpe de 1964, devido à cassação de seu mandato pelo Ato Institucional Nº 1.
O filme provocou um intenso debate sobre o contexto histórico e institucional da ditadura (1964-1985) e sua repressão às forças opositoras. Esse debate inevitavelmente se conecta à conjuntura atual. Na semana passada (13), a ação premeditada de Francisco Wanderley Luiz, 59 anos, que detonou explosivos na Praça dos Três Poderes, em Brasília, resultando em sua própria morte, está longe de ser um “ato isolado”. Ela se alinha a uma ideologia bolsonarista que culminou na tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023.
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O autor das explosões não era um “lobo solitário” normalizando valores antidemocráticos, mas evidencia a ascensão de lideranças inclinadas ao autoritarismo no sistema representativo e nas organizações partidárias. Isso aponta para um paradoxo estratégico na ação política: enquanto o PL de Valdemar da Costa Neto busca equilibrar-se entre a ordem institucional e o golpismo, visando as eleições de 2026, as redes sociais bolsonaristas e suas lideranças, inclusive parlamentares, mantêm as bases locais em constante agitação, promovendo coesão social e política, mesmo que isso implique confronto violento com as instituições.
Quantos “Franciscos” estão organizando a base bolsonarista? Como a direita continua normalizando o radicalismo violento e golpista? Uma semana após as explosões em Brasília, novas investigações da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 resultaram na prisão de cinco pessoas, incluindo quatro militares do Exército vinculados às forças especiais conhecidas como “kids pretos”: o general de brigada da reserva Mario Fernandes, o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira.
Segundo a PF, o grupo elaborou o plano intitulado “Punhal Verde e Amarelo“, que previa o assassinato de Lula e de seu vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin. Parte do plano incluía a prisão e execução do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, com início previsto para 15 de dezembro de 2022. Naquela época, Lula e Alckmin já haviam sido diplomados pelo TSE, mas, na noite de 12 de dezembro, houve um ataque à sede da PF e uma tentativa de invasão do hotel onde estavam hospedados, possivelmente parte de um plano mais amplo que culminou nos eventos de 8 de janeiro.
E o Congresso nessa conjuntura? Nos últimos meses, houve articulações políticas visando a viabilizar um projeto legislativo de anistia aos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro, incluindo o retorno da elegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. Essa agenda foi determinante na negociação do apoio do PL ao deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) para a sucessão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A ação do homem-bomba e o avanço das investigações da PF sobre a atuação de golpistas nas Forças Armadas, com possível aval de Bolsonaro, dificultam a continuidade da proposta de anistia no Congresso. No entanto, tanto a Câmara quanto o Senado serão pressionados a buscar uma saída institucional para a sobrevivência do grupo bolsonarista. Os fatos exigem que a direita e suas forças partidárias demonstrem compromisso com a democracia e o Estado de Direito. Veremos, se a democracia ainda está aqui.
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