Os relatos feitos pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, e pelo interventor federal na área de segurança no Distrito Federal, Ricardo Cappelli, são da maior gravidade. Há uma profunda mudança no procedimento adotado no dia 1º de janeiro na posse do presidente Lula com relação à frouxidão vista no domingo (8), quando os golpistas invadiram os principais prédios da República e cometeram barbaridades como rasgar uma tela de Di Cavalcanti, urinar em uma tapeçaria de Burle Marx e destruir um relógio de 300 anos que foi trazido para o Brasil pela família real portuguesa. E essa profunda mudança no procedimento pode ser resumida em um nome e um sobrenome: Anderson Torres.
No dia 1º de janeiro, um número muito maior de pessoas esteve na posse de Lula. Os acampamentos bolsonaristas ainda estavam montados. E sabe-se que também pelo lado da extrema-direita pessoas vieram a Brasília para tentar tumultuar o processo. Naquela ocasião, ficou acertado o procedimento de segurança que foi adotado. O trânsito de automóveis ficou proibido na Esplanada dos Ministérios. Houve pela manhã revista das pessoas que chegavam para a posse. A segurança em frente aos prédios na Praça dos Três Poderes foi reforçada.
Quem cobriu a posse sabe de todas as restrições de entrada feitas. Quem, por exemplo, cobriu a recepção aos chefes de Estado no Itamaraty teve de se deslocar até o Instituto Rio Branco e dali pegar ônibus que levavam até uma entrada nos fundos do prédio. Foi proibido entrar de outro jeito. Quem cobriu a posse no Planalto foi obrigado a procedimento semelhante, desta vez tendo como ponto inicial de trajeto o Centro Cultural Banco do Brasil. Ao final, para voltar, a mesma coisa.
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Estava combinado com os órgãos de segurança do Distrito Federal a mesma estratégia para o domingo. Já se sabia que haveria uma manifestação bolsonarista porque ela há dias vinha sendo convocada pelas redes sociais. Já se sabia mesmo que haveria risco de invasão dos prédios, porque ameaças nesse sentido também circulavam. Na sexta-feira (6), o diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, teve uma reunião com representantes do GDF. E ficou combinado que os procedimentos de segurança seriam os mesmos.
Do dia 1º para o dia 6, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, nomeou Anderson Torres como seu secretário de segurança. No dia 1º, ele não era ainda o secretário de Segurança. Foi nomeado somente no dia 2 de janeiro. Nomeado, Anderson Torres embarcou para a Flórida, mesmo estado dos Estados Unidos onde está Jair Bolsonaro.
Diante do que foi acertado na reunião da qual participou Andrei Rodrigues, acreditava-se que os procedimentos de segurança no domingo seriam os mesmos. Da parte do governo federal, a Força Nacional foi colocada na Esplanada. Mas na ocasião eram apenas 143 homens disponíveis. O grosso das tropas de segurança seria o efetivo da Polícia Militar, sob as ordens da Secretaria de Segurança do Distrito Federal. E, enquanto os bárbaros depredavam os prédios públicos e urinavam em obras de arte de valor inestimável, os PMs tomavam água de coco. Não é exagero. Os vídeos que comprovam isso circulam pela internet.
Na entrevista que concedeu na segunda-feira (9), Flávio Dino afirmou que tentou contato com Ibaneis na manhã do domingo. E que teve o relato de que o retorno dado ao agora governador afastado por 90 dias é de que tudo ocorreria em tranquilidade. Dino afirma que soube das mudanças nos procedimentos acordados pela imprensa, quando começou a ver que os bolsonaristas desciam sem restrições pela Esplanada. O resto nós vimos, com lágrimas nos olhos.
Até onde Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, foi engenheiro nessa arquitetura do caos as investigações agora irão apurar. Mas é sempre bom lembrar que no dia da diplomação de Lula, 12 de dezembro do ano passado, ele, ainda ministro, ficou jantando em um restaurante enquanto a horda bolsonarista queimava carros e ônibus por Brasília. Quem conduziu todo o processo de apaziguamento da cidade já foi Flávio Dino. Que na ocasião era somente futuro ministro da Justiça. Por que Ibaneis ignorou isso tudo e nomeou Anderson secretário, é outra coisa que ele terá de explicar. Que terá de explicar reforçado o fato de que, diante do caos, o exonerou imediatamente, uma clara admissão de erro, no mínimo.
Felizmente, essa obra do caos foi mal construída. E desmoronou em seguida – apesar dos estragos incalculáveis nos três palácios. A ideia é que as invasões fossem as três primeiras peças de um trágico dominó. Em seguida, os bárbaros invadiriam as refinarias, impedindo a produção de combustíveis. E bloqueariam as rodovias. Parando, assim, o país.
O que se queria em seguida é que o governo federal, diante do caos, aplicasse a Garantia da Lei e da Ordem, espalhando tropas militares pelo país. A baixa oficialidade, então, trataria de transformar isso em um golpe de Estado. Nada disso aconteceu.
A significativa imagem de Lula descendo na segunda-feira a rampa do Palácio do Planalto de braços dados com a presidente do STF, Rosa Weber, acompanhado dos 27 governadores brasileiros, sem exceção, dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do procurador-geral da República, Augusto Aras, mostra um presidente fortalecido como nunca. O objetivo de enfraquecer a República e suas instituições foi totalmente frustrado.
Para o bem do Brasil, a horda radical bolsonarista se ferrou… Se ferrou de verde e amarelo…