Eduardo Militão
O “golpe da creche” é uma fraude complexa com diversas modalidades de atuação. Até agora, a Polícia Legislativa da Câmara indiciou 47 pessoas nos inquéritos sobre a fraude no auxílio-creche e 20 pessoas nas apurações sobre o vale-transporte. Alguns suspeitos foram indiciados em ambas as investigações.
Existem três gabinetes envolvidos até agora: Sandro Mabel (PR-GO), Raymundo Veloso (PMDB-BA) e Ênio Tatico (PTB-GO). Entretanto, a polícia não encontrou indícios da participação deles. Falta aguardar o envio do exame das assinaturas dos deputados ao Instituto Nacional de Criminalística para saber se houve fraudes nas nomeações dos servidores.
O QUE DIZEM OS DEPUTADOS
Sandro Mabel afirma que tomou providências e não tem compromisso com os fraudadores
Raymundo Veloso diz que não tem responsabilidade sobre funcionários envolvidos
Tatico diz que o golpe acontecia sem o seu conhecimento
CONHEÇA OS PRINCIPAIS SUSPEITOS
Francisco José Feijão de Araújo, o Franzé — Ex-assessor do deputado Sandro Mabel (PR-GO), é apontado pelos policiais como um dos líderes do esquema. Segundo a faxineira desempregada Márcia Flávia (nome fictício) e o pasteleiro Severino Lourenço, foi ele quem pegou seus documentos pessoais dizendo que lhe daria um benefício social, quando, na verdade, eles se transformaram em funcionários do gabinete de Mabel. Foi indiciado.
Franzé não respondeu aos pedidos de entrevista feitos por meio da esposa, familiares, colegas de gabinete e advogados. Nas últimas semanas, o casal ficou de conversar com o Congresso em Foco, mas isso não se concretizou.
Abigail Pereira da Silva — Ex-assessora do deputado Veloso (PMDB-BA), esposa de Franzé. É apontada pelos policiais como outra líder do esquema. Segundo Veloso, Abigail indicou duas funcionárias que “passavam necessidade” para trabalhar. Depois de dois anos lotadas no gabinete, Veloso decidiu demiti-las porque não estavam trabalhando. Veloso ainda afastou Abigail por envolvimento na farra das passagens. Foi indiciada.
Abigail prometeu conceder entrevista após o carnaval, mas depois não respondeu aos pedidos feitos pelo Congresso em Foco.
Alda Silva Bandeira e Rosângela Maria da Rocha – Ex-servidoras do gabinete de Raymundo Veloso (PMDB-BA). Segundo o deputado, foram indicadas por Abigail para trabalhar por serem pessoas carentes. Investigações dizem que filhos de Alda foram registrados em escola no Distrito Federal, embora estudassem em Águas Lindas (GO). O parlamentar resolveu demiti-las dois anos depois porque elas não apareciam no gabinete. Foram indiciadas.
A reportagem não localizou as duas no seu antigo emprego.
Clébia Pereira da Silva – Nos registros da Câmara, ainda é servidora do gabinete de Veloso e irmã de Abigail. Colegas dizem que o deputado a demitiu antes do carnaval. Segundo a polícia, Clébia usou documentos falsos para comprovar que morava em Formosa e receber vale-transporte de R$ 480. Foi indiciada.
Não está mais trabalhando no gabinete. Sua mãe, que trabalha em outro gabinete, prometeu contatar Clébia e seus outros filhos para o Congresso em Foco, mas não houve retorno ao site.
Márcia Flávia Silveira (nome fictício) — Faxineira desempregada de Valparaíso (GO) que virou secretária parlamentar do deputado Sandro Mabel (PR-GO), embora nunca tenha trabalhado na Câmara. Foi quatro vezes a uma agência bancária abrir contas para recebimento de valores acompanhada de Franzé. Foi indiciada.
Afirma que foi vítima de Franzé e de uma quadrilha e que não queria ser funcionária fantasma, mas apenas receber um benefício social para seus filhos.
Petrônio Pereira Portela de Lima – Ex-servidor do gabinete de Raymundo Veloso (PMDB-BA) e irmão de Abigail. Segundo a polícia, também está envolvido no golpe. Foi indiciado.
Não está mais trabalhando no gabinete. Sua mãe, que trabalha em outro gabinete, prometeu contatar Petrônio e seus outros filhos para o Congresso em Foco, mas não houve retorno ao site.
Rafael Reis Gonçalves – Ex-servidor do gabinete de Raymundo Veloso (PMDB-BA) e marido de Clébia. Segundo colegas, ele aparecia para trabalhar regularmente. Mas o deputado diz que sequer se recorda da pessoa e muito menos da nomeação do servidor. Foi indiciado.
A reportagem não localizar a pessoa em seu antigo emprego. Sua sogra, que trabalha em outro gabinete, prometeu contatar Petrônio e outros familiares para o Congresso em Foco, mas não houve retorno ao site.
Severino Lourenço dos Santos Neto — Vendedor de pastéis do Gama (DF), um dos servidores que foi lotado no gabinete de Sandro Mabel. Ao menos no papel, ele era funcionário da Câmara, recebendo R$ 7 mil por mês, incluindo benefícios do Programa de Assistência Pré-escolar (PAE) e do vale-transporte. Ele foi exonerado em 31 de agosto do gabinete de Mabel, para onde foi contratado em 7 de janeiro de 2008. Foi indiciado.
Afirma que foi vítima de Franzé e de uma quadrilha e que não queria ser funcionário fantasma, mas apenas receber um benefício social para seus filhos.
Zenon Vaz da Silva – Ex-servidor do gabinete de Veloso. Segundo a polícia, o cantor sertanejo Igor, da dupla Igor e Breno, nunca apareceu para trabalhar e era um fantasma contratado pela quadrilha. Parte de seu salário de pouco mais de R$ 1 mil ficava com ele e o restante, com os líderes do golpe. Foi indiciado.
Afirmou que poderia comentar o caso depois do carnaval, mas, depois, não foi mais localizado pelo Congresso em Foco.
Leia também:
Tudo sobre o golpe da creche