As constantes viagens com dinheiro público do deputado Tiririca (PL-SP) para Fortaleza, mesmo tendo domicílio eleitoral na capital paulista, viraram alvo de investigação. O Ministério Público Federal em Brasília abriu no último dia 18 um inquérito civil para apurar o uso irregular da verba destinada exclusivamente ao exercício do mandato. Cearense, Tiririca tem escritório político em São Paulo, mas não tem aparecido por lá, conforme mostrou o Congresso em Foco em outubro. Até então ele havia voado uma única vez para a capital paulista e 35 vezes (70 trechos de ida e volta) para o Ceará. Esses gastos somavam R$ 70 mil.
O uso da cota para fins particulares é proibido pelo regimento interno da Câmara. Além de Tiririca, assessores de seu gabinete também voaram para a capital cearense. Funcionários podem voar com a cota, desde que a trabalho. O MPF vai investigar se há relação entre as viagens para o Nordeste com o exercício do mandato, dado a ele por eleitores de São Paulo.
Comediante e primeiro palhaço eleito para o Congresso, Tiririca tem conciliado as atividades em Brasília com seus shows artísticos, conforme mostra sua agenda em sua página na internet.
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Em outubro o Instituto OPS denunciou o deputado do PL à Câmara, ao Ministério Público Federal e ao Tribunal de Contas da União (TCU), o que gerou reportagens do Congresso em Foco e da revista Época. Tiririca recebe salário de R$ 33,7 mil e tem uma verba de mais de R$ 37 mil para gastar com passagens e outras despesas atreladas ao exercício do mandato, além de auxílio-moradia ou apartamento funcional na capital federal.
A Câmara expediu um total de R$ 142,9 mil para o gabinete de Tiririca entre fevereiro e outubro de 2019. Procurados, o deputado e sua assessoria declararam que não comentariam os motivos das viagens.
Responsável pela denúncia na PGR e no TCU, o diretor-presidente do Instituto OPS, Lúcio Big, diz que todo político deve ter total responsabilidade sobre o uso de dinheiro público. “Não é possível que um representante eleito pelo povo trate de um assunto tão sério como sendo mais uma de suas piadas. Quando descobrimos o indício de uso irregular do dinheiro público, imediatamente acionamos a Câmara dos Deputados, o MPF e TCU, uma vez que o deputado Tiririca e sua equipe não quiseram responder aos nossos questionamentos. Esperamos que o parlamentar devolva aos cofres públicos todo o valor envolvido”, afirma Lúcio.
As passagens de uma assessora custaram R$ 40,2 mil, dos quais R$ 24,9 mil em viagens entre Brasília e Fortaleza, capital distante 2,3 mil km (em trajeto aéreo) da paulista, principal base eleitoral de Tiririca. Com outro assessor os gastos chegaram a R$ 20,7 mil. Já o terceiro somou R$ 5,6 mil. Com exceção de um trecho, os demais voos desses dois foram entre Brasília e cidades paulistas, como São Paulo, São José do Rio Preto, Campinas e Ribeirão Preto.
O distanciamento da base eleitoral não significa que Tiririca não esteja trabalhando. Este ano, por exemplo, ele apresentou 17 propostas voltadas para as áreas da saúde, da educação, dos idosos e da comunidade circense. Desde 2012 ele foi autor ou coautor de 53 proposições. Sua assiduidade, que chegou a 100% nos dois primeiros mandatos, ainda é alta. O deputado registrou presença 110 vezes na Câmara e justificou oito de suas 15 ausências. Deixou apenas uma sem justificativa.
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