Logo depois que o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) achou que estava sendo engraçado ao colocar uma peruca loira e subir à tribuna dizendo que seu nome “agora era Nikole” em pelo Dia Internacional da Mulher, um grupo de deputadas uniu-se em apoio a um pedido de cassação do seu mandato.
O pedido foi formalizado pelo Gabinete Compartilhado, que é formado pelas deputadas Tabata Amaral (PSB-SP), Duda Salabert (PDT-MG) e Camila Jara (PT-MS) e pelos deputados Duarte (PSB-MA), Pedro Campos (PSB-PE), Amor Mandel (Cidadania-AM), além do senador Alessandro Vieira. Mas, segundo Tabata Amaral, a maioria da bancada feminina apoiou a iniciativa. “Quando se ataca uma mulher, atacam-se todas”, disse Tabata. Ela e Duda Salabert falaram sobre o caso com exclusividade para o Congresso em Foco.
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“A luta das mulheres sempre tem algumas características. Uma é que ela é uma luta constante. A gente viu um caso muito grave de ódio contra mulheres aqui no plenário hoje. Mas o que mais me anima é que ela sempre foi e ela é uma luta coletiva”, considera Tabata Amaral.
Veja abaixo a entrevista de Tábata:
A deputada enumerou os esforços que vêm sendo empreendidos para aprovar a pauta de projetos de interesse das mulheres. E lamentou que justamente nesse momento Nikolas Ferreira tenha subido à tribuna para debochar das mulheres trans. “Não é sobre esquerda ou direita. Não é sobre concordância ou discordância. É sobre um parlamentar que, com sua fala irresponsável e criminosa, coloca em risco a existência de muitas pessoas. Mas, mais do que isso, nesse contexto aqui de parlamento, tenta silenciar as parlamentares trans que nós temos. Tenta silenciar todas nós, mulheres”, critica a deputada.
Duas mulheres trans
Pela primeira vez na história, duas mulheres trans foram eleitas e fazem parte da Câmara dos Deputados: Duda Salabert e Erika Hilton (Psol-SP). “O Brasil há 14 anos consecutivos é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo”, lembra Duda. Tabata lembra que o México, que está em segundo lugar, tem cerca de metade dos casos brasileiros. “Somos um país preconceituoso e atrasado. O que se viu hoje na Câmara dos Deputados, quando o deputado Nikolas Ferreira abordou uma questão sensível de forma debochada, é o exemplo mais claro da tentativa de parte da sociedade em tentar apagar da convivência social pessoas trans”, continua Duda. “Este rapaz responderá na Justiça e aqui dentro da Câmara por sua fala criminosa”.
Veja abaixo a entrevista de Duda Salabert:
“Eu não ouvi a fala porque eu não costumo dar atenção para discursos que flertam com o fascismo ou que endossam a estrutura fascista que foi vencida nas urnas”, disse Duda Salabert. “Nossa preocupação é fazer políticas públicas que ajudem o Brasil a superar a crise econômica em que estamos, que torne a nossa legislação ambiental mais rígida a fim de ajudar e superar também a crise climática”.
“E também combater a desigualdade de gênero, que acaba alijando diversas mulheres, como também as pessoas travestis e transexuais”, continua. “Somos um país em que 90% da população travesti está na prostituição como consequência da estrutura odiosa que há”.
“O fascismo quer a exclusão, quer o apagamento de uma parcela da sociedade”, ataca Duda Salabert. “Não fui eleita para rivalizar com caricaturas risíveis. Minha preocupação é com a fome do Brasil”.