Um grupo suprapartidários de parlamentares, que inclui integrantes de siglas tanto à direita, quanto à esquerda, protocolam nesta quarta-feira (30) um ‘superpedido’ impeachment contra o presidente Jair Messias Bolsonaro. A entrega ocorreu em um ato realizado no salão interno do Congresso Nacional, onde estiveram presentes, advogados, representantes de organizações indígenas, membros de grupos ligados a categorias sindicais e movimentos estudantis.
O documento conta com 46 signatários e reúne mais de 100 pedidos de impeachment já apresentados na Câmara. Cabe ao presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), autorizar a abertura de um procedimento de afastamento.
Uma das primeiras a discursar no evento que marcou a entrega do documento foi a deputada do PT, Gleisi Hoffmann. “Temos hoje um governo que está apodrecendo e carcomido. Esse é um marco importante para que a gente traga de novo o Brasil para o povo brasileiro…Esse é um passo enorme”, disse.
Assista alguns dos discursos:
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Outrora na lista das principais aliadas do presidente Bolsonaro durante as eleições de 2020, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) também se pronunciou favorável ao afastamento do presidente. “Eu fui líder desse ogro, desse monstro”. Em 2018 foi nomeada líder do chefe do Executivo na Câmara. Hasselmann rompeu com o presidente em outubro de 2019. Outro ex-bolsonarista, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), fundador do Movimento Brasil Livre (MBL) falou pouco depois. Ele chamou Bolsonaro de “o mais criminoso” presidente da história.
O que diz o documento
O pedido é o 123º do seu tipo, e foi encaminhado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que pode arquivar ou não a abertura do processo de impeachment.
Leia a íntegra do pedido:
O documento explica que os autores se reuniram virtualmente em 23 de abril para em busca de uma “coordenação dos requerimentos”. 122 pedidos pedidos de impeachment já haviam sido entregues à Câmara e seis deles arquivados pelo presidente Arthur Lira.
“Na ocasião, os presentes compreenderam, de maneira uníssona, que a elaboração de uma única peça, que viesse a sintetizar as suas manifestações específicas, poderia ter o efeito de provocar a resposta há muito aguardada na presidência da Câmara dos Deputados, com a instauração, afinal, do competente processo de impeachment”, diz o texto.
Tramitação
Após protocolado, o pedido de impeachment será analisado pelo presidente da Casa, Arthur Lira, que poderá aceitar ou não. Caso aceito, a solicitação passa por análise da comissão composta por parlamentares de todas as bancadas da Câmara. A Câmara tem o prazo de até dez dias para apresentar um parecer favorável ou contra o processo.
Faz-se necessário pelo menos 342 votos dos 513 deputados para o processo caminhar para o Senado. Depois, uma votação entre os senadores para confirmar ou não a abertura da investigação. Uma vez aberto, o presidente da República é afastado até o final do processo.
Desde a ditadura, apenas dois presidentes sofreram impeachment no Brasil: Fernando Collor, em 1992, mas renunciou ao cargo da votação final no Senado, e Dilma Rousseff, em 2016.
A oposição afirma que a aliança do presidente Bolsonaro com parlamentares do Centrão dificulta o processo, mas se mostram otimistas com o superpedido e com a pressão imposta pelos atos contra o governo nas ruas.
“A companhia de Bolsonaro tem se tornado cada vez mais tóxica, o que deve afastar o apoio de parte dos políticos que hoje dão sustentação ao presidente. Vamos continuar pressionando o presidente da Câmara, Arthur Lira, para que ele dê continuidade ao processo. Nossa pressão na Câmara e os crescentes movimentos de rua, certamente farão com que o presidente da Câmara se dê conta de que é inevitável o afastamento do presidente da República”, afirma o líder da Oposição Alessandro Molon (PSB-RJ) ao Congresso em Foco.
Veja todos os crimes aos quais Bolsonaro é acusado:
- Crime contra a existência política da União. Ato: fomento ao conflito com outras nações;
- Hostilidade contra nação estrangeira. Ato: declarações xenofóbicas a médicos de Cuba;
- Crime contra o livre exercício dos Poderes. Ato: ameaças ao Congresso e STF, e interferência na PF;
- Tentar dissolver ou impedir o funcionamento do Congresso. Ato: declarações do presidente e participação em manifestações antidemocráticas;
- Ameaça contra algum representante da nação para coagi-lo. Ato: disse de que teria que “sair na porrada” com senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), membro da CPI da Covid;
- Opor-se ao livre exercício do Poder Judiciário. Ato: interferência na PF;
- Ameaça para constranger juiz. Ato: ataques ao Supremo;
- Crime contra o livre exercício dos direitos políticos, individuais e sociais. Ato: omissões e erros no combate à pandemia;
- Usar autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder. Ato: trocas nas Forças Armadas e interferência na PF;
- Subverter ou tentar subverter a ordem política e social. Ato: ameaça a instituições;
- Incitar militares à desobediência à lei ou infração à disciplina. Ato: ir a manifestação a favor da intervenção militar;
- Provocar animosidade nas classes armadas. Ato: aliados incitaram motim no caso do policial morto por outros policiais em Salvador;
- Violar direitos sociais assegurados na Constituição. Ato: omissões e erros no combate à pandemia;
- Crime contra a segurança interna do país. Ato: omissões e erros no combate à pandemia;
- Decretar o estado de sítio não havendo comoção interna grave. Ato: comparou as medidas de governadores com um estado de sítio;
- Permitir a infração de lei federal de ordem pública. Ato: promover revolta contra o isolamento social na pandemia;
- Crime contra a probidade na administração. Ato: gestão da pandemia e ataques ao processo eleitoral;
- Expedir ordens de forma contrária à Constituição. Ato: trocas nas Forças Armadas;
- Proceder de modo incompatível com o decoro do cargo. Ato: mentiras para obter vantagem política;
- Crime de apologia à tortura;
- Negligenciar a conservação do patrimônio nacional. Ato: gestão financeira na pandemia e atrasos no atendimento das demandas dos estados e municípios na crise de saúde;
- Crime contra o cumprimento das decisões judiciais. Ato: não criar um plano de proteção a indígenas na pandemia.
Conforme antecipado pelo Congresso em Foco, o documento também traz a lista dos artigos, citados pela Oposição, em que são enquadrados os crimes de Bolsonaro.
- Crimes contra a existência da União (art. 5º, incisos 3, 7 e 11 da Lei nº 1.079/1950);
- Crimes contra o livre exercício dos poderes legislativo e judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados (art. 6º, incisos 1, 2, 5, 6 e 7 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950);
- Crimes contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais (art. 7º, incisos 5, 6, 7, 8 e 9, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950);
- Crimes contra a segurança interna (art. 8º, incisos 7 e 8 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950);
- Crimes contra a probidade na administração (art. 9º, incisos 3, 4, 5, 6 e 7, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950);
- Crimes contra a guarda e legal emprego dos dinheiros públicos (art. 11, inciso 5, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950);
- Crimes contra o cumprimento de decisões judiciárias, (art. 12, incisos 1 e 2 da Lei nº 1.079/1950).
Ao todo, o ‘superpedido’ reúne 46 assinaturas de signatários, de diferentes partidos e ideologias. Entre eles, encontram-se os ex-aliados do presidente. Confira quem assinou:
- Mauro De Azevedo Menezes, Membro Da Associação Brasileira De Juristas Pela Democracia (Abjd);
- Tânia Maria De Oliveira, Integrante Associação Brasileira De Juristas Pela Democracia (Abjd);
- Sônia Guajajara, Coordenadora Executiva Da Articulação Dos Povos Indígenas Do Brasil (Apib).
- Inácio Lemke, Presidente Do Conselho Nacional De Igrejas Cristãs Do Brasil – Conic.
- Paulo Jeronimo De Sousa, Presidente Da Associação Brasileira De Imprensa – Abi.
- Marco Aurélio De Carvalho, Coordenador Do Grupo Prerrogativas.
- Raimundo José Arruda Bastos, Coordenador Do Associação Brasileira De Médicos E Médicas Pela Democracia – Abmmd.
- Iago Montalvão Oliveira Campos, Presidente Da União Nacional Dos Estudantes, Une.
- Rozana Fonseca Barroso Da Silva, Presidenta Da União Brasileira De Estudantes Secundaristas – Ubes.
- Cristina De Faria Cordeiro, Presidenta Da Associação Juízes Para A Democracia – Ajd.
- Gabriel Napoleão Velloso Filho, Desembargador Do Trabalho, Integrante Da Associação Juízes Para A Democracia – Ajd.
- Claudia Maria Dadico, Integrante Da Associação Juízes Para A Democracia – Ajd.
- Ana Paula Costa Barbosa, Representante Do Coletivo Defensoras E Defensores Públicos Pela Democracia.
- Sheila Santana De Carvalho, Da Coalizão Negra Por Direitos.
- Douglas Elias Belchior, Da Coalizão Negra Por Direitos.
- Symmy Larrat Brito De Carvalho, Presidenta Da Associação Brasileira De Gays, Lésbicas, Travestis E Transexuaisabglt.
- Vanessa Patriota Da Fonseca, Membra Do Comitê Facilitador Do Fórum Social Mundial Justiça E Democracia – Fsmjd.
- Mauri José Vieira Da Cruz, Do Fórum Social Mundial Justiça E Democracia – Fsmjd.
- Nalu De Faria Da Silva, Coordenação Nacional Da Marcha Mundial Das Mulheres.
- Maria Anna Eugênia Do Valle Pereira Stockler, Representante Da 342 Artes.
- Raimundo Vieira Bonfim, Coordenador Geral Da Central De Movimentos Populares – Cmp.
- Guilherme Castro Boulos, Da Frente Povo Sem Medo.
- Alex Sandro Gomes, Presidente Da Associação Nacional Das Torcidas Organizadas Do Brasil – Anatorg.
- João Paulo Rodrigues Chaves, do Movimento Dos Trabalhadores Sem Terra – Mst.
- José Reginaldo Inácio, Presidente Nova Central Sindical de Trabalhadores.
- Adilson Gonçalves De Araújo, Presidente Nacional Da Central De Trabalhadores E Trabalhadores Do Brasil – Ctb.
- Edson Carneiro Da Silva, Presidente Da Intersindical Central Da Classe Trabalhadora.
- Sérgio Nobre
- Atnágoras Teixeira Lopes, Da Central Sindical E Popular Conlutas
- Miguel Eduardo Torres
- José Gozze
- Edmilson Silva Costa
- Carlos Roberto Siqueira De Barros
- Gleisi Helena Hoffmann, Presidente Nacional Do PT;
- José Maria De Almeida, Do Pstu;
- Juliano Medeiros, Presidente Nacional Do Psol;
- Carlos Lupi, Presidente Nacional Do PDT;
- Leonardo Pericles Vieira Roque
- Luciana Santos
- Rui Costa
- Heloísa Helena
- Wesley Elderson Diógenes Nogueira
- Roberto Freire, Presidente Nacional Do Cidadania.
- Deputada Federal Joice Hasselmann (Psl-sp);
- Deputado Federal Kim Kataguiri (Dem-sp);
- Deputado Federal Alexandre Frota (Psdb-sp).
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