O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) presidiu, nesta segunda-feira (14), uma audiência pública para debater a exigência do passaporte vacinal. O documento atesta a imunização de uma pessoa contra a covid-19 e é utilizado para ingressar em determinados locais, com o objetivo de aumentar a parcela imunizada da população. A audiência no Senado Federal previa analisar a eficiência da medida e os reflexos nos direitos pessoais, trabalhistas, sociais e religiosos da população. O evento organizado pelo senador, no entanto, foi marcado por discursos negacionistas contra as vacinas, com tentativas de associar os imunizantes a outras doenças, como câncer. Girão foi um dos líderes da tropa de choque governista na CPI da Covid, onde defendeu as posições do presidente Jair Bolsonaro em relação ao vírus e à vacina.
“O Senado Federal, mais uma vez, inova, com debates colocados, muitas vezes, na sociedade, como politicamente incorretos, vamos dizer assim, com um pouco de polêmica, já que tudo, no nosso país, infelizmente, virou essa briga política. Deixando um pouco a emoção de lado, o nosso objetivo é entrar pela razão, pelo bom senso”, discursou Girão na abertura da audiência.
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Participaram da audiência os médicos José Augusto Nasser e Roberta Lacerda. Os dois são figuras frequentes em eventos do tipo, tendo participado da audiência pública do Ministério da Saúde destinada a debater a aplicação de vacinas contra a covid-19 em crianças entre 5 e 11 anos, realizada em janeiro.
Na ocasião, ambos haviam sido convidados para representar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Bia Kicis (PSL-DF). O fato não passou despercebido na audiência de hoje.
“Eu tomei a liberdade, vendo aqui os convidados que estão no Plenário e que inclusive se deslocaram de outros estados da federação para participar desta audiência, de chamar aqui, como convidados, a deputada Bia Kicis, que é aqui do Distrito Federal, para estar conosco aqui na Mesa”, destacou o senador Eduardo Girão.
No começo de sua fala, Roberta Lacerda citou o juramento de Hipócrates, patrono da medicina. Segundo a especialista, “o médico deve agir de pronto e não esperar caírem do céu as evidências necessárias para salvar vidas”. A médica criticou os dados que chamou de “imprecisos” sobre os riscos das vacinas e afirmou que a imunização aumenta as chances de sequelas cardiológicas e oncológicas.
Publicidade“Chamo à reflexão de todos aqui que se submeteram a fazer um screening muito detalhado de suas avaliações cardiovasculares e, como vou mostrar, onco-hematológicas, porque o número de caso de cânceres vai aumentar muito”, afirmou a médica. No entanto, Roberta não apresentou nenhum estudo que comprove uma maior incidência de câncer em pessoas imunizadas contra a covid-19.
Recentemente, a médica teve a conta no Twitter suspensa por desrespeitar as regras da rede social e compartilhar conteúdos falsos sobre a pandemia de covid-19.
O médico Augusto Nasser falou que os imunizantes atualmente disponíveis não são vacinas, e sim “terapias genéticas”. O médico também utilizou a incidência de câncer como um argumento contra a vacinação.
“Estamos diante de uma terapia genética; isso não é vacina. O Kfouri fala aqui para todos nós dentro daquela narrativa da vacina, tudo ele joga para a vacina, tudo é controlado na vacina, mas não é assim que funciona. Isso aqui é terapia genética, e dessa parte eu entendo. Você não vai falar de vacina, porque vacina tem uma outra legislação. A terapia genética tem um outro objetivo. Ela te causa câncer, ela te causa problemas imunológicos, ela causa danos no teu DNA”, afirmou o médico.
Nenhum dos médicos críticos à vacinação e presentes na audiência pública apresentou dados que comprovem uma maior incidência de câncer em pessoas que foram imunizadas.
A vacinação é a melhor ferramenta para se proteger da covid-19, tendo respaldo da Organização Mundial da Saúde. Desde o início da pandemia, o Brasil já registrou mais de 638 mil óbitos. A imunização foi essencial para reduzir os óbitos e casos graves. Segundo o painel da vacinação do Ministério da Saúde, já foram aplicadas mais de 359 milhões de doses no país, e cerca de 71% da população está com o ciclo vacinal completo.
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