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O Congresso em Foco Talk desta quinta-feira (21) entrevistou os deputados Glauber Braga (Psol-RJ) e Sâmia Bomfim (Psol-SP). Para eles, a polarização política é uma questão que ultrapassa Jair Bolsonaro e Lula, por exemplo. Ela afirma que em alguns estados o papel das forças públicas e do Estado paralelo, assim como da doutrina religiosa, influenciam a disputa política. “Não tem a ver só com uma questão ideológica, mas tem a ver com a estrutura de sociedade para ter essas consolidações de poder e de visão de mundo”.
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Para a parlamentar, as eleições municipais também poderão reforçar a polarização política, tão evidente no processo democrático brasileiro, com preocupações ideológicas e com influência dos demais setores citados por ela.
“Ouso dizer que as eleições municipais podem ser um aprofundamento disso. Claro, na eleição municipal a pessoa quer saber quem vai administrar melhor a sua cidade, mas não dá para dizer que não vai ser uma eleição polarizada, com essa mesma divisão da sociedade. A dúvida é: quem será o candidato do Lula e quem será o candidato do Bolsonaro, a grosso modo”. O casal foi entrevistado pelos jornalistas Edson Sardinha, diretor de redação do Congresso em Foco, e Lucas Neiva, repórter do site.
Machismo
PublicidadeSâmia Bomfim foi questionada em relação ao machismo e à violência política de gênero na Câmara dos Deputados. A congressista afirmou que muitas vezes parlamentares se tornam alvos simplesmente pela condição de ser mulher.
“Muitas vezes mulheres candidatas ou parlamentares que vocalizam com firmeza as posições são alvo, não só pelo que pensam, pelo que falam, mas pela condição de ser mulher. O bolsonarismo é machista, e misógino. Isso é uma característica do modo que eles veem o mundo, da atuação política deles”.
A deputada lamentou os episódios acontecidos com ela durante a CPI do MST e também no plenário. Na ocasião da comissão parlamentar de inquérito, o presidente do colegiado, deputado Zucco (Republicanos-RS), perguntou à deputada se ela queria “um calmante ou um hambúrguer para se acalmar”. Ele também cortou a palavra dela várias vezes, o que ensejou a abertura de inquérito contra ele por violência política de gênero.
Ela lembrou ainda que recebeu três representações no Conselho de Ética, duas na CPI, pelo que ela avaliou como “comportamento” e uma durante a votação do marco temporal pela “contundência”.
Segundo a deputada, são tentativas de intimidá-la ou restringir sua participação ativa na Casa. “Nada disso funciona, porque eu sei que o que importa mesmo é o apoio de outras mulheres. Talvez alguns estejam pouco acostumados com mulheres que respondam à altura, que utilizem o mesmo tom de voz e que não se intimidem. Mas vou buscar seguir dessa forma”, concluiu a parlamentar.
Segurança Pública e GLO
Apesar de não ser uma pauta estritamente associada à esquerda pela maioria, o deputado Glauber Braga explicou como essa ala ideológica observa a segurança pública sob o prisma da garantia de direitos.
“Nossa lógica de segurança é outra, não é de natureza repressiva e de controle territorial contra a pobreza. A nossa lógica de segurança é de garantia de direitos que são sistematicamente desrespeitados e que quando você investe neles, você tem condições concretas de diminuir os índices de violência”.
Ele destacou que a atuação da esquerda se dá com projetos como o Plano Nacional de Educação em unidades prisionais, fortalecimento da guarda portuária para evitar ampliação do tráfico de armas, defesa pela não privatização da Polícia Penal e garantias sociais robustas nas comunidades.
“A esquerda não pode ficar com essa iniciativa recuada como se esse não fosse um assunto que a gente dominasse e que trouxesse elementos que são relevantes e importantes. A gente tem pontos a abordar, nós temos projetos apresentados e nós podemos defender nossos projetos”, disse Glauber Braga
Por outro lado, o parlamentar criticou a atuação da direita como uma defesa de projetos pessoais de poder. “Alguns desses que se apresentam como deputados da segurança pública são picaretas que fazem, na verdade, a defesa dos seus projetos pessoais de poder. A turma ligada à chamada Bancada da Segurança Pública só ficou lambendo as botas dos oficiais, dos generais que compunham o primeiro escalão do governo Bolsonaro”.
Glauber Braga também expôs suas ressalvas quanto ao ato de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), em que as Forças Armadas foram autorizadas pelo Executivo para reforçar o policiamento em portos e aeroportos de São Paulo e do Rio de Janeiro, estado do congressista.
“Isso não é solução. Garantia da Lei e da Ordem utilizando as Forças Armadas para ocupação territorial é terrível e nós esperamos que elas não se repitam como aconteceram no passado recente. É menos pior em aeroportos do que em comunidades, mas continua não sendo uma boa solução, porque parte do pressuposto que os oficiais têm mais capacidade de realização desse trabalho do que os civis”, explicou o parlamentar
Perfil dos parlamentares
Os dois deputados estão entre os mais combativos na Câmara. Sâmia Bomfim foi escolhida como a melhor da Câmara pelo público e pelos jornalistas no Prêmio Congresso em Foco 2023. Glauber também ficou entre os mais bem avaliados na votação da internet este ano e já foi agraciado com o prêmio principal, dado pelo júri, em 2018. Os dois são casados e têm um filho de dois anos. Sâmia viveu uma tragédia familiar em outubro, quando seu irmão, o médico Diego Bomfim, foi assassinado a tiro, junto com os também médicos Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida. A quarta vítima, Daniel Sonnewend Proença, foi ferido, mas sobreviveu. Os quatro estavam em um quiosque, na Barra da Tijuca, no Rio, onde participariam de um congresso médico. O caso está sob investigação.
A deputada de 34 anos é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e servidora na área técnico-administrativa da mesma universidade. Vereadora mais jovem da capital paulista, aos 27 anos, Sâmia está em seu segundo mandato federal. Ela liderou a bancada do Psol na Câmara em duas oportunidades. A parlamentar foi a principal liderança da base governista na CPI do MST, concluída sem aprovação de relatório.
Aos 41 anos, Glauber Braga está em seu quinto mandato de deputado federal. Em 2018 ele foi escolhido como o melhor deputado do ano pelo júri do Prêmio Congresso em Foco. Bacharel em Direito, Glauber foi secretário municipal em Nova Friburgo (RJ) e dirigente estadual do PSB, partido pelo qual chegou à Câmara em 2009 e do qual se desligou, em 2015, após divergências internas para se filiar ao Psol. Atua principalmente nas áreas da educação e de políticas para juventude.