Líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP) disse em entrevista coletiva, nesta quinta-feira (11), que o governo anterior foi responsável por montar um “aparato repressivo” contra o Estado Democrático de Direito. O senador foi um dos alvos de monitoramento ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A nova fase da Operação Última Milha, deflagrada nesta quinta-feira pela Polícia Federal, revelou que mais autoridades foram espionadas durante o governo Bolsonaro. Os alvos da Abin paralela eram considerados adversários políticos do ex-presidente, como senadores responsáveis pela CPI da Covid, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), entre outras autoridades.
“Essas informações só confirmam o que anteriormente apenas denunciávamos. Durante o período anterior se montou um aparato repressivo com a intenção clara de romper com o Estado Democrático de Direito, e que entre os gravíssimos crimes cometidos, estava a violação da intimidade privada de opositores do governo. Isso também reafirma que a eleição do presidente Lula foi um movimento de salvação da democracia brasileira”, afirmou Randolfe Rodrigues.
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Ainda segundo o senador, a espionagem contra ele e os senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL), que compunham a cúpula dirigente da CPI da Covid, é sintomática do governo anterior. Randolfe argumenta que a preocupação era maior em investigar os parlamentares do que comprar vacinas.
“Tem significado de diagnóstico o fato de que, além do meu monitoramento pessoal, os demais colegas também foram monitorados pela Abin paralela. Juntos, dirigíamos a CPI da Covid, o que confere tons de tragédia ainda maior à situação. Enquanto brasileiros morriam, o governo anterior se preocupava em espionar a vida dos que investigavam as razões do genocídio em curso”, disse Randolfe.
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Senador defende maior controle da Abin
Apesar da espionagem com uso do Estado, Randolfe afirmou que não vai entrar com ação indenizatória contra a União. Ainda assim, ressaltou que os culpados devem ser punidos com rigor, incluindo o deputado federal Delegado Ramagem (PL-RJ), diretor da Abin durante o governo Bolsonaro, a quem ele caracterizou como um “chefe da Gestapo” do regime anterior. O senador também reafirmou a importância da Abin, mas alertou para maiores controles.
“A Abin tem que existir para proteger o Estado Democrático de Direito e não corrompê-lo. Deve continuar existindo e tem total apoio nosso.Talvez, tenha-se que refletir, quem sabe, sobre um controle maior por parte das instituições sobre sua função, para que não aconteça o desvio de finalidade da Abin”.
Outros parlamentares espionados ilegalmente pela Abin também se manifestaram. Renan Calheiros associou à prática aos métodos da polícia nazista. “Como democrata, lamento e repudio que estruturas do Estado tenham sido criminosamente capturadas para atuar como polícias políticas, com métodos da Gestapo, um pantâno repugnante e sem fim. Sigo confiante nas instituições, na apuração, denúncia e julgamento dos culpados”.
Alessandro Vieira (MDB-SE) disse que a espionagem criminosa é uma prática “típica de governos ditatoriais”. O senador também ressaltou: “O Brasil segue cheio de problemas, mas ao menos do risco de volta da ditadura nos livramos”.