Herdeiro de um clã político, Hugo Motta (Republicanos-PB) chegou à Câmara aos 21 anos, idade mínima para exercer o mandato de deputado, em 2010, eleito com 86.150 votos. Filho e neto de deputados, concluiu o curso de Medicina paralelamente aos trabalhos na Câmara e caminha para ganhar um protagonismo que nenhum de seus familiares alcançou. De ontem para hoje, o líder do Republicanos foi alçado à condição de novo favorito à presidência da Câmara, ao receber o apoio do presidente de seu partido, o deputado Marcos Pereira (SP), que retirou sua candidatura em seu favor.
A uma semana de completar 35 anos, o deputado fez parte da base dos governos Dilma, Temer e Bolsonaro. Eleitor declarado do ex-presidente, aproximou-se de Lula depois que o seu companheiro de partido e Câmara Silvio Costa Filho assumiu o Ministério de Portos e Aeroportos.
Sua capacidade de dialogar com lideranças governistas e oposicionistas levou Marcos Pereira a indicar o nome do colega ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que enfrenta dificuldade para emplacar seu postulante favorito, o baiano Elmar Nascimento (União), que esbarra na resistência do Planalto e de parlamentares de várias bancadas.
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Governismo
De acordo com o Radar do Congresso, Hugo Motta votou conforme a orientação do governo Lula em 86% das vezes. Índice pouco abaixo de Marcos Pereira, que registrou 91%. Na média, o índice de governismo da Câmara é de 79%. Em 2016, então filiado ao MDB, ele votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
Mesmo com a ida de Silvio Costa Filho para o governo, Hugo Motta sempre preferiu intitular a bancada que lidera como independente. “A nomeação de Silvio Costa Filho foi muito mais pessoal do presidente, pela relação que o deputado tinha com o PT, com Lula, muito antes até de vir para o Republicanos. A indicação chegou à bancada de forma satisfatória, a bancada ficou feliz com essa indicação. Mas, o Republicanos não altera a sua posição de independência. Vamos ter também autonomia de ficarmos contrários a pautas que, por ventura, venham ao plenário da Câmara dos Deputados e não esteja no manifesto do partido” afirmou o deputado em setembro de 2023 ao Correio Braziliense.
PublicidadeCaminho aberto
Hugo Motta já havia manifestado o desejo de concorrer à presidência da Câmara, mas só admitia a possibilidade de levar o plano adiante se recebesse o apoio de Marcos Pereira. Com a declaração de apoio do presidente do seu partido, o desafio do paraibano agora é articular para que outros dois adversários deixem a corrida eleitoral, os baianos Antonio Brito (PSD) e Elmar Nascimento. Uma missão para a qual espera ter o apoio dos presidentes Lula, no caso do primeiro, e Arthur Lira, amigo do segundo.
O líder do Republicanos também aguarda a adesão de duas das mais poderosas bancadas da Câmara, a evangélica e a ruralista, das quais faz parte. Na mesma entrevista à repórter Mayara Souto, do Correio, Hugo Motta saiu em defesa das duas bancadas ao criticar o que chamou de interferência do Supremo Tribunal Federal nos assuntos legislativos.
“A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) se movimentou diante da decisão sobre o Marco Temporal do Supremo, na semana passada. E a Frente Parlamentar Evangélica, pelo fato de estar se tratando, também no Supremo, a discussão da legalização do aborto. São frentes que têm nesses dois temas pilares de defesa e atuação política de muitos parlamentares”, afirmou ainda em setembro de 2023. “Quando há essa interferência, existe sim esse conflito entre os poderes”, resumiu.
Votações
Ao longo de seu mandato, Hugo Motta colidiu com o PT em diversos momentos. Além de ter votado a favor do impeachment de Dilma, presidiu a CPI da Petrobras, que terminou com o pedido de indiciamento de 70 pessoas. Entre elas, ex-diretores e gerentes da estatal e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Ainda filiado ao MDB, partido que deixou para se filiar ao Republicanos em 2018, votou a favor das principais pautas do governo de Michel Temer, como a PEC do Teto dos Gastos e a reforma trabalhista. Também votou contra o pedido do Ministério Público para investigar o então presidente da República.
No governo Bolsonaro, assumiu relatorias de propostas importantes, como a PEC Emergencial da pandemia e a PEC dos Precatórios (23/2021). Votou a favor da privatização dos Correios e comandou a comissão para privatização da Eletrobras. Já no governo Lula, apoio o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária, medidas defendidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Família
Se chegar à presidência da Câmara, Hugo Motta escreverá novo capítulo na biografia política de sua família. Seu pai, Nabor Wanderley, é prefeito de Patos (PB), cidade que já foi administrada pela avó materna do deputado, Francisca Motta, e pelo avô paterno. Nabor, que já foi deputado estadual, é candidato à reeleição como prefeito. O avô materno de Hugo Motta, Edivaldo Fernandes Motta, também foi deputado estadual e federal.
Em 2022, quando concorreu ao atual mandato na Câmara, Hugo Motta declarou à Justiça eleitoral ter patrimônio de R$ 1.167.092,40. Ele conquistou o quarto mandato com 158.171 votos.