O Quilombo nos Parlamentos, iniciativa da Coalizão Negra por Direitos para aumentar a representatividade racial no Congresso e nas assembleias estaduais, elegeu 26 parlamentares negros envolvidos diretamente com o combate à discriminação racial no último dia 2 de outubro. O movimento elegeu oito deputados federais e 18 estaduais. Entre os eleitos pelo projeto estão nomes como Benedita da Silva (PT-RJ) e Taliria Petrone (Psol-RJ), que renovaram o mandato, e Hérika Hilton, primeira mulher trans eleita na Câmara, ao lado de Duda Salabert (PDT-MG).
Além deles, outros 97 candidatos apoiados pela iniciativa ficaram na suplência. Na Câmara, ficaram na primeira suplência de sua chapa o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) e a advogada Robeyoncé Lima (Psol-PE). Travesti, Robeyoncé teve uma das maiores votações de Pernambuco. Recebeu 80.732 votos. Mas, devido ao cálculo eleitoral, não foi eleita.
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Para Sheila de Carvalho, articuladora da Coalizão Negra por Direitos e diretora política do Instituto de Referência Negra Peregum, o resultado eleitoral não indica avanços na representatividade no Legislativo, já que o número de representantes do movimento negro permaneceu o mesmo, e deputados com longa trajetória de defesa de direitos da população negra não se reelegeram. Entre as lideranças negras não reeleitas estão o líder do PSB na Câmara, Bira do Pindaré (SP), e o deputado Vicentinho (PT-SP).
Além disso, dado o perfil do restante dos deputados e senadores eleitos, Sheila prevê um cenário de forte resistência no Parlamento a propostas de avanço na defesa de direitos da população negra, indígena e mulheres.
“Com o resultado da eleição no último domingo, o Senado, principalmente, tornou-se muito mais alinhado ao bolsonarismo e à política de morte contra a população negra. Precisamos nos preparar para uma casa mais violenta e menos receptiva às agendas voltadas para essa população”, avalia Sheila.
Candidaturas do Quilombo nos Parlamentos eleitas:
Publicidade– Deputados federais
Valmir Assunção (PT-BA), Dandara Tonantzin (PT-MG), Carol Dartora (PT-PR), Benedita da Silva (PT-RJ), Henrique Vieira (Psol-RJ), Talíria Petrone (Psol-RJ), Denise Pessôa (PT-RS), Erika Hilton (Psol-SP)
– Deputados estaduais
Olívia Santana (PCdoB-BA), Andreia de Jesus (PT-MG), Macaé Evaristo (PT-MG), Carlos Bordalo (PT-PA), Lívia Duarte (Psol-PA), Renato Freitas (PT-PR), Dani Portela (Psol-PE), Renata Souza (Psol-RJ), Veronica Lima (Psol-RJ), Dani Monteiro (Psol-RJ), Divaneide Basílio (PT-RN), Matheus Gomes (Psol-RS), Bruna Rodrigues (PCdoB-RS), Laura Sito (PT-RS), Paula Nunes (Bancada Feminista) (Psol-SP), Monica Seixas (As Pretas) (Psol-SP), Leci Brandão (PCdoB-SP), Thainara Farias (PT-SP).
– 97 suplências
– Total: 4.223.028 votos
Sub-representação no Congresso
Apesar do aumento de 36,25% das candidaturas de pretos e pardos para a Câmara em 2022 na comparação com 2018, o número de candidatos efetivamente eleitos com essas características autodeclaradas cresceu apenas 8,94%. Passou de 123 para 134.
De acordo com a eleição do dia 2, foram eleitos 27 deputados autodeclarados pretos e 107 autodeclarados pardos. Em 2018, foram eleitos 21 e 102 deputados, respectivamente.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022, foram registradas 4.886 candidaturas de pretos e pardos – quase metade (47%) dos cerca de 10 mil postulantes a uma vaga na Câmara. Em 2018, foram 3.586, ou 42% dos 8,6 mil candidatos.
No Senado, pretos e pardos representaram cerca de 33% do total de candidaturas. Mas apenas seis entre os 27 eleitos fizeram essa autodeclaração racial: Romário (PL-RJ), Beto Faro (PT-PA), Magno Malta (PL-ES), Dr. Hiran (PP-RR), Flávio Dino (PSB-MA) e Rogério Marinho (PL-RN). O senador eleito pelo Rio Grande do Norte se autodeclara pardo e, embora tenha pele branca, seu nome é incluído na lista de candidaturas negras exitosas.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56% dos brasileiros são negros, grupo composta por pessoas que se autodeclaram pretas e pardas. Essa parte da população, porém, é sub-representada nos parlamentos e instituições democráticas pelo país. Mesmo sendo a maioria da população, menos de 25% do Legislativo é ocupado por eles.