No dia da primeira tentativa de votação do mérito do PL das Fake News na Câmara, na última terça-feira (2), o relatório enfrentou seu pico de resistência. Lideranças da Frente Parlamentar Evangélica, da Frente Parlamentar Católica e da bancada da bala se reuniram no Salão Verde para expressar seu descontentamento com o projeto, que acabou tendo sua votação adiada. Em plenário, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-presidente da bancada evangélica, revelou que a pressão não se deu por acaso: o alvo do era o presidente Arthur Lira (PP-AL).
A revelação se deu em um desabafo de Sóstenes na tribuna. O deputado criticou Lira por conta de sua fala no dia 28, durante a votação do requerimento de urgência do PL das Fake News, quando o presidente se referiu ao líder do PL, Altineu Côrtes (PL-RJ), como descumpridor de acordos. O líder reivindicava uma votação nominal, enquanto Lira afirmava que o acordo entre os partidos era por uma votação simbólica para a urgência.
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A discussão acabou envolvendo o líder da bancada evangélica, Eli Borges (PL-TO), que se juntou ao colega de partido e cobrou um adiamento da votação. Lira respondeu com deboche, também acusando-o de descumprir o acordo pela votação simbólica. “É importante esse posicionamento para a gente saber como se conduz os acordos no plenário. (…) Eu vou saber compreender a grandeza do seu ato de hoje”. Eli continuou cobrando o adiamento, mas foi constantemente interrompido por Lira, que repetia “eu agradeço muito” quando o evangélico tentava falar.
Sóstenes Cavalcante contou que a resposta intensa da bancada evangélica à votação do dia 2 se deu justamente por solidariedade ao seu líder. “Nós vimos vossa excelência cassar a palavra, não deixou continuar falando o líder da frente parlamentar evangélica. Sabe por que não se votou o PL das Fake News? Porque o deputado Eli sequer foi pro seu estado, ele passou o fim de semana em Brasília ligando para deputados para que se colocasse para votar, esse projeto hoje seria derrotado”, exclamou.
O parlamentar cobrou respeito à frente, e ressaltou o impacto dos deputados evangélicos sobre a tramitação do projeto. “Termino dizendo ao Brasil: sabe por quê o PL das Fake News não foi votado hoje? Porque aqui nesta Câmara tem uma bancada de deputados conservadores de direita, que não vão aceitar censura neste país”, declarou. Ele também conta não ter sido orientado a revelar o interesse da bancada, e que seu objetivo era alertar Arthur Lira sobre a forma como está tratando a oposição.
Lira é um dos principais defensores do PL das Fake News, atuando em parceria com o relator Orlando Silva (PCdoB-SP) desde que o projeto chegou à Câmara, em 2020. Desde 2022, critica abertamente a pressão das big techs sobre a discussão do projeto, e procura angariar apoio para sua aprovação. Ao atacar o projeto, a bancada evangélica consegue atingir diretamente os interesses legislativos do presidente.
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