O setor do agronegócio é um dos que mais demonstram preocupação com o impacto logístico e econômico que a guerra entre a Rússia e Ucrânia possa provocar sobre a cadeia produtiva brasileira. Tanto os dois beligerantes quanto a Bielorrússia, aliada da Rússia no conflito, estão entre os maiores produtores mundiais de fertilizantes, bem como os maiores fornecedores do produto ao Brasil.
Com a guerra, somam-se duas preocupações no setor: a primeira, é a dificuldade dos dois países no fornecimento dos fertilizantes aos seus parceiros comerciais. De um lado, a Ucrânia se encontra com sua capacidade de exportação comprometida pelo bloqueio marítimo imposto pela Rússia, bem como por conta das batalhas que acontecem em suas cidades e portos mais importantes. Do outro, a Rússia também sofre bloqueios aéreos e navais da União Europeia, em retaliação às ações militares.
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O outro temor, conforme explica o vice-líder do governo na Câmara e vice-presidente da bancada ruralista Evair de Melo (PP-ES), diz respeito ao impacto da guerra sobre a demanda de produtos agropecuários. “Essa guerra tem impacto na cadeia global de produção de alimentos. Rússia e Ucrânia têm cadeias consideráveis de exportação de proteína animal. Isso pode causar um desabastecimento, principalmente no oriente médio e na China, e com isso elevar o preço internacional desses produtosl”, explica.
O deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) ainda aponta para uma terceira consequência do impacto do conflito sobre o agronegócio: o aumento no custo de energia. “Nos próximos 30, 40 dias, será feita a colheita da safra de cana de açúcar, e vão faltar fertilizantes para adubar a próxima safra. Isso vai afetar a produção de combustíveis sustentáveis, e com isso vamos ter que aumentar o uso de combustíveis fósseis como carvão e derivados de petróleo”, alertou.
Uma solução trabalhada pelo Ministério da Agricultura foi negociar com o Canadá para que se crie uma nova linha de fornecimento de fertilizantes à base de potássio, principal substância que preocupa o setor. A frente ruralista apoia o esforço, mas Evair de Melo é pessimista quanto aos possíveis resultados. “É uma opção. Mas é uma corrida global, o Brasil não está indo sozinho ao Canadá. Vamos ter que concorrer com Estados Unidos, Argentina e outros países”, ressaltou.
Os parlamentares consideram que há urgência em adotar medidas que ajudem a reduzir a dependência do potássio estrangeiro para a produção de fertilizantes. Evair de Melo defende o mesmo plano proposto pelo presidente Jair Bolsonaro, que procura meios de permitir a exploração do potássio localizado no interior da Amazônia. A proposta vem com um preço: as reservas ficam dentro de terras indígenas.
O vice-líder governista considera que a mineração nessas terras é um preço necessário. “A soberania brasileira passa pela produção de fertilizantes em território interno. O brasileiro pode escolher: ou passa fome, ou começa a extrair potássio nessas terras indígenas”, argumentou.
A abordagem não é bem vista pelo deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), líder da frente parlamentar ambientalista. “O que o governo quer é legalizar a mineração em terras indígenas. É uma pauta que o governo defende desde o começo. Agora, querem usar esse argumento, que é extremamente falho e falso”, afirmou. O parlamentar também aponta que, mesmo que seja legalizada a extração de potássio na Amazônia, as operações dificilmente teriam como começar em menos de um ano.
Zé Silva já levanta duas alternativas. A primeira delas, para lidar com a falta de fertilizantes provocada pela guerra, é estreitar laços com o Irã. “Tanto o Canadá quanto o Irã são países importantes nessa produção. O Irã tem muito interesse em importar produtos brasileiros, como a soja. Eles têm interesse em ampliar a agenda comercial com o Brasil, e são uma opção que o Brasil precisa procurar”.
Outra alternativa, para longo prazo, é o investimento em pesquisas. “Em tempo de escassez, precisamos investir na pesquisa agronômica para desenvolver novas variedades cultivares que tenham menor dependência desses fertilizantes. Isso não resolve a situação das próximas safras, mas pode solucionar a questão em poucos anos”, sugeriu.
Além da pesquisa relacionada aos produtos, Zé Silva também propõe que o governo invista em pesquisas de microorganismos de efeito semelhante. O deputado dá como exemplo um estudo concluído em 2021 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Eles buscaram microorganismos nas raízes do mandacaru, uma planta da caatinga brasileira, que hoje é um produto biológico que aplicamos em cana e pastagens, que aumenta de quatro a cinco toneladas a colheita por hectare ao ano”, relembra.
Em coletiva de imprensa na quarta-feira (2), a ministra da agricultura Tereza Cristina afirmou que deverá apresentar um plano de fertilizantes até o dia 17. Ela afirma que o plano já era elaborado antes da crise de abastecimento, voltado para a produção de fertilizantes no Brasil. Apesar de apontar para a busca por novos fornecedores, a chefe da pasta não indicou o que será feito para garantir a produção interna.
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