A Polícia Federal (PF) concluiu a análise das mensagens do celular do governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), referentes aos atos golpistas que resultaram nos ataques às sedes dos três poderes em oito de janeiro. No relatório, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), consta que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o ministro da Justiça, Flávio Dino, alertaram previamente o governador sob o risco do ataque, mas este minimizou a situação.
“Estimado governador, boa noite! A Polícia do Senado está um tanto apreensiva pelas notícias de mobilização e invasão ao Congresso. Pode nos ajudar nisso?”, perguntou Pacheco a Ibaneis na noite anterior em mensagem do Whatsapp. Ibaneis garantiu que isso não iria acontecer. “Já estamos mobilizados. Não teremos problemas, coloquei todas as forças nas ruas”, afirmou.
Comando de um major
Os depoimentos de oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) já mostram que, na realidade, Ibaneis não havia mobilizando todo o contingente da força policial. Apenas pouco mais de 300 militares foram entregues ao comando de um major, enquanto os demais estavam sob aviso, mas desmobilizados. Dos ativos, mais da metade eram policiais recém formados, ainda sem experiência de campo.
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Além de ignorar o alerta de Pacheco, Ibaneis Rocha também não adotou medidas para atender a um outro alerta, enviado por meio de ofício por Flávio Dino. O ministro relatou ter sido informado pela inteligência da PF sobre as intenções dos manifestantes de “promover ações hostis e danos contra os prédios dos Ministérios, do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto, do STF e possivelmente de outros órgãos”, e recomendou o bloqueio, nos dias 8 e 9, do acesso de ônibus e manifestantes à Esplanada dos Ministérios. Dino também ofereceu reforço das forças federais de segurança.
Em vez de atender à recomendação, Ibaneis afirmou à impresa que o acesso à Esplanada estaria liberado, porque estava convicto de que a manifestação seguiria de forma pacífica. No dia dos atos golpistas, antes deles acontecerem, Dino ainda questionou o governador agora afastado sobre os pontos de bloqueio. Ibaneis repassou os relatórios do secretário de Segurança Pública substituto, Fernando de Souza Oliveira, afirmando que a situação estava sob controle. Horas depois, Brasília assistiu a um dos dias mais tristes da sua história, quando os três principais prédios da República foram invadidos e depreadados. Então, Ibaneis enviou a seguinte mensagem a Flávio Dino: “Vamos precisar do Exército, vou te ligar”. O último contato entre os dois foi o envio do número de contato de Fernando Oliveira.