O Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou ter identificado, neste sábado (26), um dos autores de ameaças ao deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ). Na última quinta-feira, o parlamentar anunciou que vai renunciar ao mandato e deixou o país devido a ameaças que sofreu.
O suspeito, segundo o governo, é Marcelo Valle Silveira Melo, já conhecido da Polícia Federal (PF). O investigado é um analista de sistemas de 33 anos, membro de grupo autointitulado “Homens Sanctos”, conhecido por fazer ameaças pela internet. Melo, segundo o ministério, atacava Jean Wyllys sob o nome de Emerson Setim, também investigado por crimes virtuais.
Melo já foi preso duas vezes, a última em maio de 2018, e segue detido. Em dezembro ele foi condenado a 41 anos, seis meses e 20 dias de prisão pela Justiça Federal em Curitiba, que não permitiu que ele recorresse em liberdade.
O advogado Rui Barbosa, que defende Melo, afirma não ter conhecimento destas informações, mas garante que seu cliente não tem, desde a prisão, acesso a qualquer meio de comunicação. “Qualquer carta endereçada a sua família é primeiro passada à direção do presídio. Após sua prisão, [Melo] nunca teve nenhuma visita na cadeia. O único contato dele é comigo, seu advogado. Então qualquer delito imputado a Marcelo em relação a este caso é absolutamente falso e desprovido de provas”, afirmou o defensor.
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Barbosa afirma, ainda, que Emerson Setim (cuja identidade Melo teria usado para postar as ameaças ao deputado, segundo o Ministério da Justiça), é desafeto de Melo, está em liberdade “e vem postando vídeos ameaçando Marcelo e sua família”.
Em nota, o governo afirmou que “repudia a conduta dos que se servem do anonimato da internet para covardemente ameaçar qualquer pessoa e em especial por preconceitos odiosos”.
No comunicado, a pasta ainda “lamenta a decisão do deputado de deixar o país”, mas nega que tenha havido omissão do Estado às acusações de Jean Wyllys, como o próprio deputado afirmou em carta escrita ao partido.
Crimes de ódio na internet
O brasiliense Marcelo Valle Silveira Melo é investigado pela Polícia Federal há mais de 10 anos por crimes de ódio. Em 2005, ele foi denunciado por fazer ataques a negros na rede social Orkut. Por esse caso, foi o primeiro condenado por racismo da Justiça Brasileira, em 2009.
Valle, que chegou a ser estudante de Letras-Japonês na UnB (Universidade de Brasília), mas abandonou o curso, recorreu da sentença e não foi preso. Mais tarde, em 2012, quando foi deflagrada a Operação Intolerância, ele foi à cadeia por incitar o ódio a minorias e planejar, conforme a Polícia Federal, um ataque a estudantes da UnB. Ficou preso por um ano e ganhou o direito de responder em liberdade, voltando a fazer ataques pela internet.
Melo foi condenado em 2013 por veiculação de “material de conteúdo racista (com incitação à violência contra negros, homossexuais e mulheres) e contendo apologia aos crimes de estupro, homicídio e abuso sexual contra crianças e adolescentes”, segundo anotou a Justiça à época de sua última prisão no ano passado.