Para conseguir governar sem turbulências, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá um duro obstáculo a ser enfrentado em 2023. A bancada de seu partido está em desvantagem em relação à do PL, principal sigla da oposição. Um de seus principais aliados, o PSB, do vice Geraldo Alckmin, encolheu drasticamente na Câmara dos Deputados após as eleições, beirando não alcançar a cláusula de barreira. O PDT, segundo maior partido de esquerda, chegou ao pior momento de sua história, com 17 deputados.
Preparando-se para o ambiente hostil na Câmara, o novo governo articula a busca de apoios, como conta ao Congresso em Foco o líder do PSB na Câmara, Bira do Pindaré (MA). “Já teremos boas conversas com o PSDB e com o MDB. São partidos do dito campo democrático no Brasil, e certamente terão interesse em dialogar conosco”, anunciou. A articulação da nova bancada é uma das preocupações da transição ao novo governo, processo coordenado por Alckmin.
Governadores tucanos
No caso do PSDB, a esperança de Bira é atrair apoio das novas gestões estaduais, com os governadores eleitos Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Raquel Lyra, de Pernambuco. Os acenos, porém, são opostos: a nova chefe de governo pernambucana, em entrevista à revista Veja, anunciou que pretende manter aberto um canal de diálogo com o governo Lula, e já ter laços de confiança com Alckmin. Leite, porém, já defendeu que os tucanos voltem à oposição, como fizeram nos governos petistas anteriores de Lula e de Dilma Rousseff.
No MDB, a situação já é mais amigável. “Mesmo que não oficialmente, o MDB participou do segundo turno nesta eleição com muita efetividade, representado pela Simone Tebet (MS)”, relembrou Bira. Hildo Rocha (MDB-MA), vice-líder do MDB na Câmara, explica que a situação na bancada emedebista difere por não haver ânimo para uma oposição. “O partido está dividido em duas correntes. Uma defende que a gente faça parte do novo governo. Outra prefere manter a independência, não compondo e nem se opondo ao PT”, disse ao Congresso em Foco.
O PP de Lira
Outro diálogo mantido pelas lideranças do futuro governo é com o PP, antigo parceiro do PT que hoje forma o governo de Jair Bolsonaro. Trata-se da sigla do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), que acena ao PT para conseguir apoio para sua reeleição. O líder do PSB considera esse caminho como o mais provável. “Até o momento, não há outro pretendente contra o Lira. Ele está correndo leve e solto. (…) Nesse sentido, nós vamos ter que abrir para o diálogo”.
Lira já chegou a se reunir com Geraldo Alckmin em sua residência oficial na tarde de terça-feira (8) para discutir a transição de governos. A expectativa é de que ele se encontre hoje com o presidente eleito Lula. Paralelamente, Lira também negocia com as lideranças do PL. “Há um acordo para que isso [apoio a Lira] aconteça. O presidente Valdemar da Costa Neto ratificou a possibilidade, mas para isso é preciso que o acordo também passe ao Senado Federal”, conta o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Lincoln Portela (PL-MG).
Outro provável aliado para o PT na nova legislatura é o PSD, terceiro maior partido de centro na Câmara e segundo maior de todos no Senado. Na avaliação do deputado Marcelo Ramos (AM), um dos quadros de destaque da legenda, a aproximação do partido ao novo governo é o caminho natural de seus parlamentares. Ele teme que isso possa acontecer com a manutenção de Lira na presidência. Ramos se elegeu vice-presidente da Casa em chapa com Lira, mas os dois romperam quando o amazonense endureceu a oposição ao presidente Jair Bolsonaro e trocou o PL pelo PSD. O Tribunal Superior Eleitoral determinou a realização de nova eleição para o cargo, por entender que o cargo pertencia ao antigo partido de Ramos. Com isso, ele perdeu o posto para Lincoln Portela.
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