Em 1990, quando lançou o Plano Collor, o então presidente Fernando Collor disse que tinha “apenas uma bala” para salvar a economia do país. Como não salvou, Collor ficou depois sem “bala” e sem discurso. Na véspera dos desfiles de Sete de Setembro, diversos cartazes estão espalhados pelo país dizendo que as manifestações políticas que serão organizadas podem ser a última chance de reversão do resultado da eleição que, segundo as pesquisas, no momento é adverso à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. “É agora ou nunca”, dizem os cartazes. Como em 1990 no Plano Collor, o depósito de todas as esperanças em um único ato pode acabar gerando frustração parecida.
De acordo com a pesquisa do Ipec divulgada na noite de segunda-feira, depois de um período de crescimento e outro de estacionamento, Bolsonaro teve uma pequena queda de um ponto percentual, dentro da margem de erro. Segundo o Ipec, primeira pesquisa a medir integralmente os efeitos do debate presidencial na Band, Bolsonaro caiu de 32% na rodada anterior para 31%, enquanto seu principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, manteve os mesmos 44%. Por essa razão, os políticos bolsonaristas planejam transformar a festa pelos 200 anos da Independência do país em um grande ato político. Um ato de “virada” como estão dizendo.
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Diversos líderes do governo no Congresso Nacional já anunciaram sua presença nas manifestações previstas para acontecer em Brasília e nas capitais estaduais em favor de Jair Bolsonaro durante o bicentenário da independência. Além de exaltar o ato, parlamentares da Câmara e do Senado convocam seus apoiadores a participar.
Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, foi um dos primeiros a antecipar sua participação, tendo publicado um vídeo na segunda-feira (5) onde convida seus apoiadores para participar. “Sete de Setembro, todo mundo na rua. Vamos comemorar os 200 anos de independência do Brasil e vamos levar a mensagem do presidente Bolsonaro: Deus, pátria e família para todos. Queremos ver os brasileiros de verde e amarelo nas ruas”, declarou.
Blitz Bolsonaro
Em Manaus, o deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM), vice-líder do governo na Câmara e frequente orador em defesa do presidente em plenário, organizou na noite de segunda-feira uma “blitz Bolsonaro”, onde ele e um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro entregaram adesivos e santinhos de campanha aos motoristas que atravessassem a Ponte Negra. Em seu Instagram, afirmou se tratar de um “aquecimento para o Sete de Setembro”.
Evair de Melo (PP-RS), vice-líder do governo na Câmara, também se pronunciou nas redes sociais, publicando um vídeo para agradecer aos eleitores que participam da mobilização para as manifestações. “Em nome de Deus, pátria, família e da nossa liberdade, quero agradecer cada um de vocês por essa bonita e importante mobilização voluntária para o Sete de Setembro. É um gesto, é um símbolo que marca a posição de homens e mulheres que querem o melhor para o nosso país” disse.
PublicidadeOs vice-líderes na Câmara Giovani Cherini (PL-RS), José de Medeiros (PL-MT) e Sanderson (PL-RS) também se pronunciaram, de forma mais tímida: os dois primeiros publicaram breves comentários em seus perfis no Twitter e Instagram afirmando que a comemoração “será gigante”, enquanto Sanderson apenas divulgou uma foto nos stories onde participa de uma reunião partidária, com a hashtag “setedesetembro” e marcando o presidente Jair Bolsonaro.
No Senado, o líder Carlos Portinho (PL-RJ) se limitou a publicar uma nota no Twitter, afirmando que o “Sete de Setembro será um dia de festa. Festa da liberdade. Festa da vitória. Em Copacabana e no Maracanã logo depois”. Copacabana é onde está previsto para acontecer o comício de Jair Bolsonaro, e na sequência o estádio do Maracanã receberá o Flamengo, time para quem o senador torce.
Carlos Viana (PL-MG), vice-líder do governo no Senado, já foi mais eloquente ao anunciar os atos. Em seu Instagram, divulgou um vídeo onde apoiadores de Jair Bolsonaro, vestindo camisetas de movimentos conservadores e a favor do armamento civil, se pronunciam sobre as manifestações. “Vamos para a rua mostrar a força do povo mineiro em defesa da família, da liberdade religiosa e da liberdade de opinião”, disseram os participantes.
Além dos líderes no Congresso, os filhos de Jair Bolsonaro também anteciparam o apoio aos atos nas redes sociais. Na Câmara, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) divulgou no Twitter o mesmo vídeo exibido pela campanha eleitoral de seu pai, que utiliza o tempo de televisão do PL para convocar apoiadores para comparecer nas manifestações. O mesmo vídeo foi compartilhado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Receio de conflitos
Embora trabalhem para arregimentar um grande número de manifestantes nas ruas no feriado da Independência, os líderes governistas estão receosos de conflitos. O presidente recebeu conselhos para evitar subir o tom nos discursos que fará amanhã, de modo a não repetir o que aconteceu no ano passado quando Bolsonaro atacou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, incitou manifestações mais radicais de caminhoneiros, que chegaram a invadir a Esplanada dos Ministérios na véspera do feriado, e depois viu-se obrigado a recuar.
Os governistas argumentam que Bolsonaro agora precisa ampliar seus votos, para além dos grupos bolsonaristas radicais. Não seria, portanto, o momento de falar para eles, mas de demonstrar moderação para atrair votos conservadores mais ao centro. Um episódio de confusão no Sete de Setembro poderá fazer com que o resultado da frase “Agora ou nunca” penda mais para “nunca”. .
Mas Bolsonaro é imprevisível. Do plano original, que previa que Bolsonaro discursaria somente no ato que haverá no Rio de Janeiro, na Praia de Copacabana, os militantes bolsonaristas já fizeram com que o presidente evoluísse para a possibilidade de três discursos. Além de Copacabana, ele poderá falar em Brasília ao final do desfile militar, no final da manhã. E fazer um discurso transmitido por telão na Avenida Paulista, em São Paulo.